ASAS II

Sou homem de fino trato,
Do tato de uma ferradura,
Da delicadeza de um coice.
Sou homem de incomensurável brandura,
Tenho modos e educações de uma cavalgadura,
A doçura de um centauro.
Sou homem de palavras cordiais,
Exalo a simpatia do estrume quente,
O cheiro curtido e ardido das estrebarias.

Mas à noite,
Ah, em certas noites,
Renasço da Medusa degolada,
Sou ejetado da cloaca do dragão da Lua cheia,
Arremesso-me Pégaso por sobre a cidade sem mitologia,
Sem quimeras.

Mas só em raras e cada vez mais improváveis noites.
Porque nem tudo são asas,
Nem tampouco Luas cheias :
Renascimentos, menos ainda.

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