Pequeno Conto Noturno (14)

- Você acredita em vida em outros planetas? - Selene pergunta a Rubens, sem tirar os olhos da metálica e despudorada Lua cheia das duas horas da manhã.
- Carl Sagan, e o cara foi um dos maiores astrônomos da história, disse que se não houver vida em outros pontos do Universo, tudo isso que vemos por aí, pra dizer o mínimo, é um enorme desperdício de espaço - responde Rubens.
- E você concorda com ele? - Selene vira a garrafa para reabastecer seu copo e a encontra vazia de cerveja, nem uma mísera espuma.
- Eu não cito pessoas com as quais não concordo - e Rubens vai até a cozinha, volta com nova garrafa e serve Selene.
- Eu quero dizer, acredita em algum tipo de vida inteligente em outro planeta? - Selene toma o copo de um só fôlego e torna a enchê-lo.
- Em vida inteligente, não acredito nem nesse planeta.
- Será que têm escritores por lá? Músicos, pintores? - Selene sem tirar os olhos da Lua.
- Isso nem faço ideia - Rubens sem tirar os olhos da luz da Lua nos peitos de Selene.
- Será que existem poetas em outros planetas, Rubens?
- Ah, sim. Isso sim. Poetas existem, com certeza.
- Nossa! Por que tanta convicção? Se duvida até de vida inteligente... - Selene vira de costas para Rubens, exibindo sua sinuosa linha dorsal.
- Primeiro, quem disse que poeta pode ser considerado uma forma de vida inteligente?
Selene ri, ela se considera poeta.
- E depois - segue Rubens -, se não existirem poetas em outros planetas, tudo isso que vemos por aí, pra dizer o mínimo, é um enorme desperdício de Luas.
- Humm... bonito, gostei - Selene terminando mais um copo.
- Eu tenho meus momentos.
- E você vai continuar assim? Desperdiçando sua Selenezinha, toda peladinha e enluarada?
- Carl Sagan não me perdoaria.

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