Obrigado, Mr. Hyde

Uma salva de tiros de absinto para Mr. Hyde.
Mr. Hyde é feio, torto,
É sujo, é manco,
Mr. Hyde é um cancro.
Mr. Hyde não é polido
É grosso, tem caspa nos cantos da boca
Mr. Hyde sua pus
Tem ereções em público
E hálito inflamável e pestilento.
Mr. Hyde é ser sem mínima civilidade ou lisura,
É criatura a se sedar,
Agrilhoar e botar em jaula escura.

Mas, às vezes, os sedativos cochilam,
Os grilhões se abrem em bocejo
E a clausura de sombras não vê a sombra de Mr. Hyde passar.
E Mr. Hyde torna à erupção,
Desencoleira sua matilha,
Destrava sua pesada artilharia,
Rompe o tecido da tranquilidade dos boçais.
Escroto, mas fulgurante
Impossível de não se olhar
Feito fogos de artifício em virada de ano.
Asqueroso, sebento
Mas incontestável, irrefreável
Sem dó da burrice gorda do homem comum
Grudada feito colesterol nos rostos idiotas.
Mr. Hyde não joga a merda no ventilador,
A joga em si próprio
E corre a abraçar e a lambuzar a manada.

Um brinde do mais forte opiáceo a Mr. Hyde,
Que hoje concedeu-me o ar de sua graça;
Um buquê de papoulas desatinadas a Mr. Hyde,
Que hoje delegou-me o condão de sua arruaça,
Fez-me menstruação no pano branco das calças.
Uma salva de tiros de absinto a Mr. Hyde,
Que nem a ouvirá!
Pois já dorme tranquilo,
De volta à sua jaula,
Saciado, apaziguado...
Depois do estrago feito,
Depois da clareira atômica,
Depois do orgasmo proporcionado.

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