Cerveja-Feira (60)

Muito já foi dito e cantado em prosa e verso que o boteco é o mais democrático dos ambientes. Nele, convive, quase sempre pacificamente, toda a fauna humana; todos os credos, estratos sociais, faixas etárias, raças, orientações sexuais. Nele, todos têm o direito de manifestar abertamente suas opiniões sobre tudo; o bebum é doutor e especialista em todas as áreas do conhecimento.
O bar é o verdadeiro Senado do povo.
Qual teria sido o resultado da eleição presidencial de 2022 caso a apuração tivesse sido feita só nos botecos? Seria possível colocar Bolsonaro e Lula numa mesma mesa de bar e submetê-los ao voto popular?
Do Lula se sentar a uma mesa para tomar uma com o Mito, eu não duvido em absoluto, desde que ele veja alguma conveniência política nisso. Lula já abraçou seu outrora arqui-inimigo ideológico Paulo Maluf para fortalecer a candidatura de Haddad, o homem-poste, à prefeitura da capital paulista em 2012.
Lula só não abraçou o Capeta até hoje porque o Capeta achou muita baixeza coligar com o Seboso de Caetés, porque tem muito mais integridade e reputação a perder que o Nine Fingers. Perderia a moral frente aos condenados ao Inferno e ao baixo clero dos demônios.
Da parte do Cavalão, sem chance nenhuma. Jamais o imbrochável Bolsonaro se sentaria em ágape com Lula para entornar uma gelada. Nesse ponto, Bolsonaro é superior e muito mais confiável que a grande maioria da politicalha tupiniquim : se um cara é inimigo dele, esse é um status imutável e eterno. Quem vota em Bolsonaro tem a garantia de jamais ver políticos de outras ideologias a ocuparem pastas e ministérios .
Porém, mesmo não sendo possível reunir os políticos Bolsonaro e Lula no mesmo pé sujo, é possível juntar seus dois avatares etílicos na mesma mesa e pô-los à prova da preferência popular.
No boteco, não tem pesquisa comprada nem urnas fraudáveis. Ali, o voto é aberto, não secreto, coletado in loco. Na boca da urna, ou no gargalo da urna, nesse caso.
Vox ebrius, vox Dei.
São as cervejas Bolsonaro e Lula Livre.


A cerveja do Capitão é fabricada na cidade de Bom Retiro do Sul, no interior do Rio Grande do Sul, um dos grandes redutos bolsonaristas do país, uma das últimas reservas nacionais de preservação do macho das antigas. É uma puro malte com teor alcoólico de 4,3%. Fora do Rio Grande do Sul, está à venda apenas pela internet.
A sebosa cerveja do Seboso de Caetés é uma pilsen com 5% de teor alcoólico, produzida no Rio de Janeiro e pode ser facilmente encontrada em alguns bares da Zona Norte e do Centro, e também pela internet.
A carioca Dona Jurema, dona do boteco O Gogó da Ema, promoveu o grande debate presidencial do ano. Chamou quatro amigos, profundos conhecedores de cerveja, para avaliarem a Bolsonaro e a Lula Livre. Só quatro pessoas, Azarão? Muitos poderão pensar. Não é um espaço amostral insignificante e desprezível do ponto de vista estatístico? Respondo-vos : não é tão diferente assim do usado pelo Datafolha.
Vamos ao veredito dos entendidos.
A gerente comercial Leila Santos : - A cerveja do presidente é forte. Não é muito o meu tipo de cerveja, mas como que gosto de coisas fortes, vou aprender a gostar dela. A do Lula, embora o teor alcoólico seja maior do que a outra, ela tem menos sabor .
Um voto para o Mito.
A designer Amanda Barbosa : - Eu achei a cerveja do Lula com um sabor mais leve, mais fraquinho. É uma cerveja que eu poderia tomar várias sem problemas pela leveza. A do Bolsonaro é uma cerveja bem amarga e condiz bem com o presidente, que tem uma personalidade forte.
Um voto pro Seboso.
O também gerente comercial Rodrigo Leal : Amarga quando tem que ser amarga e encorpada quando tem que ser encorpada. Dá o prazer na medida certa igual ao presidente. A do Lula acho que passou um pouco do ponto, parece uma cerveja que foi descongelada e depois congelada de novo.
Outro voto pro Mito. E uma definição das mais precisas sobre Lula : foi congelado e descongelado de novo.
O advogado Fábio Vieira : - O meu gosto pessoal é por cervejas leves, e a do Lula é uma cerveja que parece ter menos concentração, com menos lúpulo. A do Bolsonaro é mais encorpada, é um sabor um pouco diferente. Não é o meu tipo de cerveja, eu gosto de uma mais leve.
Mais um voto pro Seboso.
E a eleição acabou em empate.
Mas - sempre tem um "mas" - a eleição parece não ter sido, pra variar, exatamente justa e honesta. Cabo Cruz, policial militar reformado que faz "bico" de segurança no O Gogó da Ema, em entrevista exclusiva e em off ao Marreta, declarou que Dona Jurema, carioca e petista da gema, pagou aos eleitores de Lula uns bons pixulecos, serviu-lhes, antes do pleito, umas fartas porções de mortadela em cubinhos, tudo na faixa.
Perguntada por mim sobre a possibilidade de fraude, Dona Jurema respondeu : - esse cabo Cruz é um golpista!

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4 Comentários

  1. Mais um motivo para eu não gostar de cerveja!

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  2. Rapaz, não deu, não. Levaram foi um ferro dos Camaronenses. E, a julgar pela lenda em torno dos africanos, foi um baita dum ferro!!!

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  3. Como modesto bebedor (nem apreciador, muito menos degustador), devo dizer que a cerveja do Mito esses tempos atrás estava um preço mais camarada na internet. Mas a quase R$10, sinto-me cada vez mais propenso ao latão de R$3 mesmo. Rapaz, imagina a minha surpresa ao descobrir esses dias que a Sub Zero estava mais caro que a Amstel? Por aí também? Lei da oferta da procura ou burrice generalizada?

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    1. Também não acho que a cerveja do Bolsonaro valha dez reais, mas se a encontrasse em algum mercado até compraria, só pra guardar a latinha. Eu também vou no latão de 3 reais, não tenha dúvidas. A Lokal de 473 ml tá 2,89 num posto aqui perto de casa.
      Sei que a subzero deu uma encarecida sim, mas não sei da Amstel.
      Abraço.

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