Sinais de Vida do Planeta Jota

Feito um cometa errático e vagabundo, de cuja trajetória e de cujo período entre uma passagem e outra nada é sabido, a não ser que são tristes e demasiadamente longos, o Planeta Jota também gosta de brincar de esconde-esconde na órbita do Marreta, de se divertir a transmutar-se ora em Lua Cheia, ora em Lua Nova, quando bem quer, ao seu bel-prazer, gosta de bailar a provocativa dança das cadeiras de seu afélio e de seu periélio.
Quase nada é sabido acerca do Planeta Jota. Salvo que é um planeta avulso, livre, leve e solto, que não se apega nem se aferra nem contrai núpcias com nenhum sistema solar. Também que, igualmente ao B612, planeta descoberto pelo aviador Antoine de Saint-Exupéry, é habitado por uma única pessoa. Porém, não por um Pequeno Princípe lamuriento e sensível e sua paciente e confidente rosa vermelha; sim pela Pequena Jota e sua Dionaea dentata, voraz, insaciável e carnívora que só ela.
Quando o Planeta Jota penetra a órbita aqui do Marreta, ele não causa cataclismos e desastres naturais, não faz cumprir aziagas profecias, não se alinha em funestas conjunções, não encerra nem inaugura eras cósmicas e kármicas. O Planeta Jota lança poemas à superfície do Marreta. Poemas ardentes e incandescentes. Meteoritos verbais.
Em suas raras passagens, em algumas vezes, o Planeta Jota faz isso de forma anônima - como se o seu estilo peculiar e picante não o denunciasse de pronto -, em outras vezes, como agora, talvez de melhor humor, identifica-se e salpica-nos com mais um malicioso poema, com mais um pouco de seu pó de pirlimpimpim.
Um poema sem título, pra variar. Não sei o que a Pequena Jota tem contra eles, os títulos. Por outro lado, eu tenho até um TOC quanto a isso, exasperam-me coisas sem título. Por isso, sempre tomo a ousadia e me arrisco em nomeá-los. A este mais recente, chamei-o de :
O Sonho dos Mil Gatos, por Jota
Eu nao vim pra fazer visita
Pra gente tomar um café fresco
na sala
recém-coado na minha calcinha
 
Eu nao cheguei na melhor das horas
Sequer no momento certo
Ou numa manhã chuvosa
caixa aberta
deixada no seu portão
 
Eu adentrei a janela entreaberta
E derramei alguns copos
E quebrei algumas taças
Procurando deixar a minha marca
Desarrumando tudo de acordo com o meu agrado
 
Eu vim pra me esfregar nas suas roupas
Deixar meu cheiro nas suas paredes
Mijar no seu colo e na sua cama
E destruir tudo que você possa amar mais do que a mim 
 
Eu vim pra lamber os seus olhos
E mordiscar a sua barriga
Todas as vezes em que você me chamar.
 
Para ler, ou reler, outros poemas da Jota já publicados aqui é só clicar nos links abaixo:

https://amarretadoazarao.blogspot.com/2015/04/j-atraves-do-espelho-e-o-que-ela.html

https://amarretadoazarao.blogspot.com/2015/05/estrela-cadente-por-jota.html 

https://amarretadoazarao.blogspot.com/2018/08/noticiario-local-da-sucursal-do-planeta.html 

https://amarretadoazarao.blogspot.com/2016/10/a-mulher-de-roxo-por-jota.html 

https://amarretadoazarao.blogspot.com/2015/11/o-psicologo-de-guarda-chuva-por-jota.html 

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2 Comentários

  1. Bem, viva eu estou caso contrário esse comentário teria viajado muito mais do que a internet e meu aniversário não é porque acredito que eu saberia. Então, só me resta descobrir se agradeço ou reclamo pelo prelúdio ser muito melhor do que o meu poema. Filha da putagem. Talvez eu devesse encomendar desde já o meu epitáfio ou talvez o anúncio fúnebre e até o faria, mas, sabe como é, a prioridade sempre vem na frente. ;)
    "J"

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    1. Eu também escrevo discurso para baile de debutantes, festas de formatura, aniversário de sogra, despedida de solteira, chá de bebê, festas do pijama, batizado de evangélico, comemoração da derrota do Brasil na Copa do Mundo, impeachment de presidentes do PT e cerimônia de divórcio; neste último caso, a recém-alforriada pode me pagar em "espécie".

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