Bukowski na Sala dos Professores

O escritor universal é aquele que, fazendo um retrato 3 x 4 de sua aldeia, pinta um imenso painel do mundo. Menos ainda que falar da sua aldeia, que uma aldeia, por menor que seja, já tem gente demais. É aquele que, escrevendo de dentro das quatro paredes de seu quarto, atravessa, sem passaporte e sem as alfândegas do idioma, todas as fronteiras, de todos os países. É aquele que bem falando só do próprio mal-lavado umbigo, fala da beleza e das mazelas de toda a humanidade, de todas as épocas. 
Bukowski é um desses caras, desses escritores universais.
Bukowski, sobre os hipódromos e as apostas em cavalos, principalmente sobre o intervalo entre as apostas, quando não se há muito o que fazer, e ninguém consegue guardar o respeitoso e inteligente silêncio :
 
"A gente sente a vida sendo reduzida à polpa pela inútil perda de tempo. Quer dizer, a gente fica ali sentado na cadeira ouvindo vozes que discutem quem vai ganhar e por quê. É realmente nauseante. Às vezes a gente pensa que está num asilo de loucos. E de certa forma está. Cada um daqueles babacas acha que sabe mais que os outros, e lá estão todos juntos num mesmo lugar. E lá estava eu, sentado no meio deles".
 
Nunca pus meus pés num hipódromo. 
Bukowski, no entanto, parece-me, conhece intimamente uma sala de professores! Igualzinho à sala de professores da minha escola! Sem tirar nem pôr! Cuspido e escarrado! Pãããããããããta que o pariu!!!! 
E lá estou eu, sentado no meio deles.
Tá rindo, né, velho safado?

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2 Comentários

  1. Imagine Bukowski numa reunião de departamento com 30 "mentes brilhantes"? A cada reunião no serviço público, uma ereção a menos. No final, vão fazer falta.

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    1. Pois foi justamente o que eu disse da universalidade do verdadeiro escritor. A situação descrita pelo velho Buk no hipódromo é válida para qualquer ajuntamento humano, pessoas tentando ocupar o tempo e a esperar pela morte fingindo que não.
      E sim, toda ereção é preciosa. Principalmente depois dos cinquenta.

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