Telas de Proteção

Tenho uma sacada grande
Ampla e ancha
Um pequeno latifúndio
Onde caberiam e vicejariam
Felizes
Orquídeas
Samambaias e avencas
Crisântemos roxos que descoram
Rosas que falam
Suculentas
Cebolinhas e manjericões
Mas na qual eu prefiro
Cultivar o vazio
O árido do ócio e do pensamento.
Uma sacada abraçada
Com o abraço de tamanduá
De uma tela de polietileno
Que permite a paisagem
Mas não o pé no asfalto
Na noite
Não o necessário sangue a escorrer do nariz.
Tenho duas gatas
Castradas
Telas de polietileno em seus cios.
Muitas vezes
Ficamos
Eu e elas
A olhar através de nossas telas
(nossos confortos e nossas Alcatrazes).
Eu ainda me conforto
Me consolo
Me acomodo
Me convenço
Quase que me venço
Depois de uma meia dúzia de latões.
E as minhas gatas?
Com que tarja preta serenam seu sono?
Com que chá?
Com que resignação?
Com que sonho de mil gatos?

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1 Comentários

  1. Espero que a resposta não seja "com meia dúzia de latões também". Sei lá...

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