O Ofício do Palhaço

- Por que choras, palhaço?
Isso é lá exemplo que se dê à petizada?

- E o que queres,
Ó idiota,
Mais do palhaço?
Que queres além de escarnecer de mim
Como se não fosse de ti mesmo
Que verdadeiramente estivesse a zombar?
Que queres além de poder rires
Da tua ridícula existência,
Exarcebada e representada pela minha figura burlesca,
E não te dares conta
De que é da tua própria insignificância que ris?
Queres minha risada cênica perene,
Um espelho de Dorian Gray para ti?
Queres que o caricato vermelho
Eu tatue em definitivo?
Queres que uma buceta encarnada
Eu suture à minha face
Em imutáveis grandes lábios sorridentes?
Choro porque o riso não é de minha natureza.
Choro porque o riso é meu ofício
É labuta pesada e enfadonha como outra qualquer.
O choro é o meu dia de folga
O choro é o meu sábado
É minhas merecidas férias.

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