Valdemiro Santiago Recebe Passaporte Diplomático

Ainda ontem - e em outras inúmeras vezes -, eu disse aqui no blog que a maneira mais segura de se burlar a lei no Brasil é alegar motivos religiosos para a infração, seja ela qual for. Por mais espúrio que seja o ato, basta dar um aspecto religioso à canalhice e o sujeito escapole ileso pelas brechas da justiça, pelas pregas frouxas do cu de nossa Constituição.
O exemplo usado ontem foi o de Geraldinho Rastafári, lider da "igreja da maconha"; ele e seus seguidores querem transformar sua igreja num maconhódromo, numa embaixada da ganja, alegando que a maconha, no caso de sua religião, é de uso ritual, o que lhes garantiria uso livre do cigarrinho do capeta.
Só que Geraldinho Rastafári é uma brincadeira, é só um hippie querendo fumar o seu sem ter problemas com a lei, tem mais é que ser solto do xilindró onde está trancafiado.
O exemplo de hoje é muito mais grave. Muito mais sério.
Uma decisão assinada pelo ministro interino Ruy Nunes Pinto Nogueira, das Relações Exteriores, e publicada ontem, 14/01/2013, no Diário Oficial da União, concedeu o privilégio do Passaporte Diplomático ao chefe da Igreja Mundial, Valdemiro Santiago, e à sua esposa, Franciléia Santiago.
Isso mesmo. Passaporte diplomático! Como se fossem, ele e esposa, representantes do Brasil em viagens ao exterior.
O Itamaraty justificou a medida com base no artigo 6º do Decreto 5.978/2006, segundo o qual o documento especial pode ser concedido “às pessoas em função do interesse do país”.
E que tipo de interesse nacional, que lhe valesse tamanha honraria, poderia ser representado ou defendido por Valdemiro no exterior? Interesses religiosos? Não haveria justificativa legal para tal, uma vez que o Brasil é um Estado laico e, portanto, sem interesses religiosos. E ainda que fossem os interesses religiosos a desculpa para o passaporte diplomático, haveria pessoas muito mais capacitadas a isso que Valdemiro Santiago, já que claros se fazem sua chucriche e semianalfabetismo, o cara não sabe nem falar direito.
A rigor, o passaporte diplomático só poderia ser concedido a presidentes, vices, ministros de Estado, parlamentares em missão no Exterior, ministros dos tribunais superiores e ex-presidentes. 
A decisão do ministro Ruy Nunes Pinto Nogueira elevou Valdemiro Santiago ao mesmo patamar de importância de um chefe de estado, ou rebaixou todos os chefes de estado à condição de Valdemiro.
Isso tem cara de paga de favor político. Quem garante que a Igreja Mundial não patrocinou campanhas políticas de deputados e senadores e agora começa a receber parte do que investiu? Será que esse ministro é evangélico, ou tem alguma ligação, mesmo que indireta, com  a igreja de Valdemiro? Acredito que uma pequena investigação não faria mal nenhum nesse caso.
Gozam dos mesmos privilégios diplomáticos, os cardeais da igreja católica , e também Edir Macedo (da Igreja Universal do Reino de Deus), R.R.Soares (da Igreja Internacional da Graça), e respectivas esposas.
Os portadores do passaporte diplomático não precisam apresentar vistos nos países em que entram; nos aeroportos, não precisam pegar a fila das pessoas comuns, escapando, inclusive, as suas bagagens de serem revistadas.
Lembram do caso dos bispos da Igreja Renascer em Cristo, Estevam e Sônia Hernandez, pegos no aeroporto de Miami com milhares de dólares não declarados em sua bagagem e presos por evasão de divisas e lavagem de dinheiro? Pois bem, se o casal cristão fosse possuidor de um passaporte diplomático, não teria sido pego. Os bispos teriam levado tranquilamente a grana para algum banco estrangeiro, para algum paraíso fiscal, e poderiam ter continuado com a prática até hoje, sem ninguém saber.
Não estou dizendo que a igreja católica, Edir Macedo, R.R. Soares e, agora, Valdemiro Santiago, evadam divisas do país nem que pretendam fazê-lo. Mas o fato é que podem. E dada a quantidade de dinheiro que arrecadam, sem uma declaração fiscal precisa do quanto, é algo a se pensar sobre.
Podem isso e muito mais. O fato é que são imunes às leis que incidem sobre a cabeça da grande maioria dos brasileiros, e dos cidadãos de outros países, também. Aos seus felizes portadores, o passaporte diplomático garante imunidade contra infrações cometidas em outros países. Se o cara, só para citar exemplo dos mais inofensivos, avançar um sinal vermelho na Espanha, em Cingapura, na China, na Rússia, no Nepal etc, nem adiantará o guarda multá-lo, será jogar papel fora, o infrator diplomático vive em outra esfera, a da impunidade.
A voz do povo é a voz de deus, dizem os estúpidos. Só se for a voz da absoluta mudez, da plena afasia. Nem o povo - que só existe como massa de manobra - e nem deus - que não existe - têm voz. Contudo, como são poderosos os que tomam para si as vozes do povo e de deus : os políticos e os líderes espirituais. Em nomes de um povo e de um deus abstratos, eles cometem os maiores descalabros e gozam de privilégios legais inimagináveis para nós, meros mortais. 
E o pior é que o povo e deus - feitos às imagem e semelhança da mesma burrice  - devem achar realmente que eles merecem tais regalias por representá-los. Políticos safados não cessam de ser reeleitos; líderes espirituais escarnecedores não cessam de proliferar.

Em tempo : há uma petição pública online pedindo o cancelamento do passaporte diplomático de Valdemiro, o link da petição, a quem interessar possa, é : www.peticaopublica.com.br/PeticaoAssinar.aspx?pi=P2013N34617
O Marreta já assinou.

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3 Comentários

  1. Gente, vamos votar na petição pública on line para cancelar o passaporte dele.

    digitem no google.

    cancelamento passaporte diplomatico do valdemiro santiago

    a primeira pagina que aparecer, vai ser a da petição on line, votem e divulguem, vamos proteger a democracia do nosso país, não vamos ficar sentados vendo esse absurdo, vamos lutar!

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  2. Li isso hoje. Assinei também.
    E enquanto isso, um trabalhador, um cara normal, tenta tirar a merda de um passaporte não consegue, ou então, pior, é barrado em países pelas bandas da europa.

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  3. Petição contra os passaportes diplomáticos para os líderes religiosos.
    A cada assinatura um e-mail é enviado ao ministro das relações exteriores e ao MPF. Além disso, quando conseguir um número significativo, serão enviadas as assinaturas encadernadas junto com uma carta ao ministro Antonio Aguiar.

    Link: goo.gl/fSnzZ

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