Ao Poeta Do Hediondo

Encontro-me entre feras, 
Mas não sinto a tua necessidade, Augusto, 
De também ser fera. 
Meu desejo é mais penoso e tem maior custo: 
A vontade de não mais ser humano, em mim impera, 
Mas aí é que dano, Augusto; 
Como perder a humanidade sem me tornar fera? 

Já amputei a mão que afaga, verti cal na chaga 
E beijos, Augusto, nunca mais quererei. 
Ainda assim, a vida em mim naufraga 
Na incerteza de se fera me tornarei. 
E da questão, essa ambigüidade é todo o cerne 
Ah, que vida frugal e sem conflitos 
Deves estar levando aí com seus amigos, Augusto, os vermes. 

Mas sobre esse dilema, uma nova luz incide, 
A dualidade da questão, a resposta em si encerra. 
Podes dormir tranquilo, Augusto. 
Achei a solução! 
Devemos perder – e perderei – a nossa humanidade 
Para que ela jamais nos torne em feras.

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2 Comentários

  1. Respostas
    1. Também gosto muito dele, mas ele anda meio preguiçoso nos últimos tempos, meio relapso. Obrigado, mais uma vez.

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