MEC Aprova Cursos Reprovados No Enade

Já não é de hoje que a nota final do aluno, aquela que será responsável por sua aprovação ou retenção, não é mais obtida pela média aritmética dos quatro bimestres letivos. Não nas escolas públicas do estado de SP, pelo menos.
Teoricamente, a média mínima para a aprovação é cinco, numa escala de zero a dez. Teoricamente. Pro forma. Para inglês ver.
Tomemos o seguinte exemplo, hipotético nesse momento, mas bem recorrente no cotidiano das escolas públicas de SP : o aluno obtém nota 2 no primeiro bimestre, 2 no segundo, 3 no terceiro e uma nota 5 no último bimestre. 
Seguindo o que manda a boa matemática, tal educando conseguiu uma somatória de 12 pontos ao longo do ano, que divididos por quatro, o número de bimestres, dá-lhe uma média de 3. Logo, não há discussão, o aluno em questão é reprovado e refará a mesma série no ano seguinte, certo?
Errado. Totalmente errado. Eu, você, e todos os grandes mestres da matemática, todos errados.
Esse aluno, pasmem, será promovido tranquilamente para a série seguinte; aliás, já foi, já está em casa há muito tempo, curtindo suas imerecidas férias.
Há uma boa década que as orientações da Secretaria de Ensino de SP e de suas mandatárias, as Diretorias de Ensino, são no sentido de ignorar a mais reles matemática, subvertê-la, pior ainda. Esse aluno não poderá, segundo eles e seus peidagogos de gabinete, ser reprovado, de forma  alguma. 
Esqueçam a matemática nesses casos, ordenam. Deve ser considerada a "evolução" do aluno. Ele tirou 2, 2, 3, e 5, apresentou um comportamento ascendente, uma tendência positiva. Reprová-lo, nesse momento, ainda que ele esteja longe da média mínima necessária, seria barrar todo o crescente interesse que ele vem demonstrando pelo estudo, seria desestimulá-lo, derrubar sua autoestima, traumas irrecuperáveis poderiam ser impressos no educando.
Balela. Patifaria. Canalhice. Acontece que a escola pública virou uma fábrica de diplomas, uma linha de produção gigantesca de analfabetos com certificado de escolaridade, uma enorme indústria governamental de geração de dados estatísticos, usados para melhorar os índices do Brasil frente ao cenário internacional.
Alguns poucos professsores ainda tentam resistir, reclamam, esbravejam, vociferam, mas não tem como, são vencidos. O sistema é implácavel. Inexpugnável.
Lógico que o aluno sabe disso, e bem se adapta ao ambiente que o cerca. Muitos ficam coçando o saco até agosto, setembro, todos os anos, quando, então, começam a mostrar "interesse" pela escola, declaram-se arrependidos aos professores, puxam um pouco o saco, fingem-se de subservientes. O professor, ingênuo e sempre com o ego carente de ser inflado, entra na do sujeito. A reboque, vêm o cinco no último bimestre e a redentora aprovação.
E não é que, agora, o MEC, órgão máximo de nossa educação e de nossa vergonha, terá o mesmo procedimento para com os cursos superiores que não atingiram a nota mínima no ENADE, conceito que lhes garantiria a continuidade de seu funcionamento?
A nota mínima para um curso superior continuar em atividade é - seria - 3,0, numa escala de zero a cinco. O que eu já acho pouco, mas vá lá que seja.
Aplicado trienalmente, os ENADEs de 2008 e 2011 foram desastrosos.
Em dezembro desse ano, a pasta divulgou que 200 cursos que tiveram notas baixas em 2008 e 2011 não poderiam abrir vagas para este ano, 2013. Porém...
Sempre há um porém nessa merda de país, sobretudo se for um porém para o vagabundo, para o errado. Vamos ao porém : pelas novas regras divulgadas ontem pelo MEC, destes 200 cursos reprovados, 112 poderão pedir revisão, por estarem com "tendência positiva". 
Olha o golpe aí!
Do grupo dos 112, apenas seis mudaram de patamar, de nota 1 para 2, na escala até 5 - grande merda! E a coisa ainda fica melhor, pior, quero dizer : os demais 106 cursos melhoraram apenas nas casas decimais. Engenharia ambiental da faculdade Oswaldo Cruz (São Paulo), por exemplo, subiu de 1,90 para 1,91. 
Isso é tendência positiva? Puta que o pariu!!! Só o uso de duas casas decimais já mostra a má-fé do MEC. E tenham certeza, se não houvesse nenhuma "melhora" detectada até a segunda casa decimal, o MEC usaria três, quatro, cinco, ou quantos dígitos depois da vírgula fossem precisos, até encontrar a tal tendência positiva.
A média é 3,0, mas com 1,91 já dá pra passar. Dá pra passar...igualzinho a uma reunião de final de ano de escola pública.
Tem mais :  segundo essas novas regras divulgadas, se o curso estiver em instituição com boa avaliação, o processo será mais rápido. Não haverá, por exemplo, visita de comissões in loco.
Para que, então, gastar milhões na realização do ENADE, mais uns tantos milhões na divulgação dos cursos picaretas, se nada vai mudar no fim das contas? A resposta está nos milhões. 
Todo esse processo retira dos cofres públicos uma dinherama cujo montante sequer somos capazes de imaginar. Dinherama que vai se perdendo, que vai se pulverizando pelo caminho, feito uma garoa fina a molhar muitas e muitas mãos. E depois do resultado divulgado, mais dinheiro vem.
Óbvio que, com a divulgação dos resultados, o MEC sofreu uma "pressão financeira", digamos assim, dos donos dos cursos reprovados. Daí, essas novas regras, permissivas até a última instância.
No fim, todos ficam felizes, e a grande indústria da educação e da enganação segue de vento em popa. Da autoenganação, o que é pior. Afinal, se o brasileiro primasse por uma educação de qualidade, se, ao pagar por uma faculdade, estivesse mesmo em busca de um curso de alto nível, e não de apenas mais um diploma a dizer que ele é capacitado para algo em que ele efetivamente não chega nem perto de ser, de nada adiantaria o MEC mudar as regras durante o jogo.
Se o interesse do brasileiro fosse pela qualidade, a partir do momento da publicação dos resultados negativos dos tais 200 cursos, os mesmos ficariam sem interessados em frequentá-los, a demanda por eles seria tão baixa que seu fechamento se daria naturalmente, pouco importando o que o MEC dissesse depois, pouco importando o quanto eles "melhorassem" decimalmente, centesimalmente etc.
Acontece que são cursos mais baratos e de menor duração. Diploma por diploma, pensa o brasileiro, vai o mais fácil, o mais baratinho. Vai essa merda mesmo. A máxima culpa da baixa qualidade de ensino atual é do próprio aluno, ele quer o mais imediato - acha que curso universitário é mais um aplicativo para seus malditos celulares -, e imediatismo sempre se traduz em porcaria. 
Nenhum governo pode ser julgado culpado pela sacanagem que faz com seus cidadãos, ele meramente visualiza a brecha, o ponto fraco do povo, e a alarga. Não querem estudar a sério?, pergunta o governo. Então tomem aí essa merda disfarçada de escola, que para vocês está de bom tamanho. E está mesmo.
O MEC, porém, garante que não é a casa da Mãe Joana, a coisa também não vai ser fácil assim, não. Nenhum dos 112 cursos está automaticamente liberado, pois todos passarão por avaliação.
Imagino.

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2 Comentários

  1. É Azarão: tem um blogueiro, parceiro nosso, que voltou a ativa: o GEÓGRAFO DE DEUS. Está com umas propostas novas e está querendo divulgar o seu blog. Por favor, divulgue entre os seus seguidores!

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  2. Parceiro nosso é o caralho!
    Explique melhor a frase, está querendo divulgar o seu blog.
    O safardana do di Cápua quer divulgar o blog dele ou o meu?
    De qualquer forma, quero que ele se foda, sempre alertei vocês sobre esse canalhocrata.
    Géografo de deus...puta que o pariu!!!
    Mas, enfim, ele foi mesmo expulso daquela igreja picareta que frequentava?

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