Tô De Olho No Sinhô...

Ele chegava puxando sua caixinha de fósforo por um barbante, à guisa de um cachorrro de estimação, acomodava-se no banco da Praça e lascava : Tô de olho no sinhô...
Carlos Alberto de Nóbrega já fazia sua cara de desgosto com a chegada do Louco, que de louco nunca teve nada. A conversa seguia e rolava aquela costumeira apostinha no final, 100 reaus, propunha o Louco, e Carlos Alberto concordava, para se livrar logo do Louco e por achar que a aposta era uma barbada. E era uma barbada mesmo, para o Louco. O Louco sempre engambelava o dono do banco da praça.
O ator e humorista Clayton Silva, 74 anos, interpretou o Louco por mais de três décadas. Sempre a mesma história, sempre as mesmas apostas, sempre o mesmo final previsível. E sempre engraçado. Muito engraçado.
Clayton Silva, com câncer há três anos, morreu na madrugada dessa terça para quarta-feira. Mais uma grande baixa no tradicional humor brasileiro, o verdadeiro humor. Clayton se junta a Chico Anysio e, praticamente, a toda a turma original da Escolinha do Professor Raimundo.
Os humoristas antigos estão todos indo para a cova, natural. E o humor brasileiro está a afundar junto com seus últimos representantes, a sete palmos de terra. Não está ocorrendo a renovação do humor nacional. Ou, se sim, ela não nos chega pelos principais meios de comunicação do país.
Casseta e Planeta? Foi pro vinagre, e já foi tarde. Zorra Total? Uma merda só, sem maiores comentários. Danilo Gentili, Rafael Bastos e outros CQCs? Passo longe. Pânico na TV? Tem umas boas bundas. Marcelo Adnet? Dizem que o cara fala não sei quantos idiomas, que é inteligente pra caralho e tudo, não vou dizer que não, mas engraçado? Qual a graça em Adnet?
Ao fim do quadro, irritado com a prolixidade do Louco e pelo prejuízo financeiro da apostinha, Carlos Alberto ordenava : Vai embora, vai!!! E o Louco ia.
E o Louco se foi.
Tô de olho no sinhô...

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