Pai Nosso Que Estais Nos Céus, Mas Não Nas Escolas (Ainda Bem)

Em Apucarana, estado do Paraná, desde o mês passado, está a se desenrolar uma novela que jamais teria sequer se iniciado em qualquer país minimamente civilizado e respeitoso às suas leis.
A Câmara Municipal de Apucarana aprovou por unanimidade o projeto de lei que obriga os 58.000 estudantes das escolas públicas e privadas a rezarem o pai-nosso todos os dias, no início da primeira aula.
Como um órgão legislativo aprova uma lei ilegal? Quando é que esses merdas de cristãos vão entender que moram num estado laico, num estado em que deus está fora da res publica? Aqui no Brasil - pelo menos assim deveria ser -, se deus quiser se adentrar em algum órgão ou repartição pública, ele tem que bater na porta e pedir licença.
O projeto é do vereador José Airton Araújo, do PR, que atende pelo nome de Deco do Cachorro Quente (a democracia é mesmo uma merda). O vereador é evangélico, praticamente desnecessário dizer.
Sua "nobre" intenção é fazer com que as pessoas se voltem para deus nesses "tempos de violência e desesperança"(e de preferência que as pessoas procurem esse deus na igreja frequentada por ele, a Assembleia de Deus). Para o mesmo deus que promoveu genocídios fabulosos no Velho Testamento, e em nome do qual se matou e se mata até hoje? Só pode estar de sacanagem.
A ATEA (Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos) entrou com recurso junto ao Ministério Público contra esse estupro da Constituição.
No dia 6 de julho, o Ministério Público alertou à Câmara de Apucarana da inconstitucionalidade do projeto Pai-Nosso. Caso os vereadores insistissem, em uma segunda discussão, em manter a aprovação, o Ministério Público providenciaria o ajuizamento de uma Adin (Ação Direta de Inconstitucionalidade).
Não deu outra, em uma segunda votação, ocorrida anteontem, dia 9, a cristãozada arregou, acovardou-se, voltou aos seus subterrâneos e catacumbas, não renegando a origem. Por sete votos contra dois, o projeto do Pai-Nosso foi rejeitado.
Mas Deco do Cachorro Quente não desiste : “Eu achava que a aprovação ia ser tranquila", disse. "Agora pretendo achar outra maneira [de fazer a oração virar lei]"
Só desse cara dar tal declaração, já deveria ter seu mandato cassado.
A escola é um espaço plural, multicultural (ou multiacultural), pessoas de todos os tipos, de todas as religiões - e com as mais variadas intenções de ali estar -, ocupam os bancos escolares.
Abomino esses termos, pluralidade, multicultural etc, mas já que, desgraçadamente, assim o é, a laicidade é o caminho mais lógico em meio ao caos. Num ambiente tão "descosturado" não tem como impor a merda de uma oração.
E já que querem fazer leis que obriguem a algo dentro das escolas, que as façam para que os pais voltem a ter responsabilidades sobre os filhos, que as façam para que o estudante seja obrigado a estudar e ter disciplina.
Esses cristãos, sobretudo os evangélicos, deviam construir escolas que julguem adequadas aos seus filhos. Elas até já existem. Mas não são gratuitas, lógico.
Na verdade, nem a pública é gratuita, ela é paga, e muito bem paga, pelo dinheiro de nossos impostos. Os cristãos deveriam exigir de suas igrejas a construção de escolas cristãs.
As ovelhinhas deveriam se dirigir aos seus pastores e exigir que esses destinassem parte do dízimo para a manutenção dessas instituições. Uma porcentagem do dízimo recebido (talvez um dízimo do dízimo) seria direcionada à construção de escolas para o rebanho. Lá, na escola do Senhor Jesus, eles poderiam rezar à vontade, sem encher o saco de ninguém.
Mas é claro que não vai dar, né? Os pastores, aos moldes de nossos políticos, também só querem enriquecer às custas do idiota.
Caso idêntico ocorreu em Ilhéus (BA), em março deste ano, também um vereador evangélico impôs o Pai-Nosso aos estudantes e professores da cidade. O Ministério Público colocou o picareta em seu devido lugar.
E já que estamos no ambiente escolar, que essas duas ações do MP sejam exemplares e didáticas para todos os outros crentes-do-cu-quente espalhados pelas bancadas legislativas do país.
Fonte : Paulopes

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