Glade Sachet Para O Toba

Sério que eu desenvolvi um protoprojeto de desodorizador de toba há exatos 20 anos.
O ano era 1992, a estranha e nebulosa década de 90, tempos da saudosa faculdade de química. O meu amigo Fernandão - já citado outras vezes aqui no blog por conta dessa sua peculiaridade - era um notório peidorreiro, profícuo não só na quantidade de gás exalado, como também na "densidade" de seu produto, digamos assim.
Era como se uma brecha para o inferno se abrisse em pleno ar, eram vapores mefíticos, do mais legítimo enxofre, em todas as combinações possíveis, peidos sulfúricos, sulfídricos, sulfurosos.
Mais do que quem frequentava as salas de aula e laboratórios com ele, eram seus companheiros de república os que mais sofriam, entre eles um japonês, o Marcelo Cozido, célebre descascador de inhame.
O Marcelo era um daqueles japoneses tradicionais, estudava todos os dias e só saía aos fins de semana para almoçar. Vez em quando, ele sozinho na república, eu também sem o que fazer, numa época que não pegava ninguém, ia lá fazer companhia ao japa, jogar um baralhinho.
Foi numa noite dessas, de semibebedeira, que projetamos o desodorizador de toba, depois que consegui explicar ao japonês que toba era o mesmo que cu. E digo de semibebedeira porque o Marcelo não tomava nada, acho que nem água ele bebia.
A ideia nada tinha de original, era uma adaptação na verdade. Uma unidade de Glade Sachet seria acoplada - grudada com superbonder ou durepox - a uma peça plástica cônica e rosqueada. Bastaria enfiar a ponta do cone no cu do sujeito e começar a rosquear nas pregas. Terminado o ajuste, o peidorreiro estava apto a frequentar os ambientes mais finos e distintos, cada vez que ele soltasse uma bufa, um cheiro de jasmim, lavanda, flores do campo, bosque de pinheiros, preencheria o ambiente.
Chegamos a fazer o storyboard para o lançamento do produto. O japonês fez, exímio desenhista de caricaturas que era. Basicamente, mostrava um Fernandão antes e depois da descoberta do desodorizador de toba. 
Na primeira parte, o Fernandão ia passando e uma nuvem cheia de caveiras, demônios, símbolos de radioatividade, toda a iconografia dos quadrinhos para a pestilência, o acompanhava, causando mal-estar e asco nas pessoas ao redor; na segunda parte, já com o glade anal rosqueado, tudo mudava de figura, uma aura de flores, abelhinhas, joaninhas e colibris seguia nosso pútrido amigo, as pessoas o cumprimentavam sorridentes, as mulheres o olhavam com desejo.
Como o artefato seria rosqueado nas pregas, chegamos a imaginar um modelo com ventosas para aqueles que já houvessem perdido as suas. Mas nunca chegou a sair da prancheta.
O desenho do japonês ficou caprichado, demos boas risadas naquela noite. A ideia era "lançar" o produto na segunda edição de O Pasquímico, um jornal mimeografado, criado, escrito, editado e distribuído por mim, na época em que eu compunha os quadros do diretório acadêmico; O Pasquímico, sem eu saber, foi o embrião do A Marreta do Azarão.
Acontece que, com apenas uma edição lançada, O Pasquímico foi censurado pelo presidente do centro acadêmico, um escoteiro filho da puta, sem o menor senso de humor. 
O Pasquímico, como toda obra à frente de seu tempo, causou revolta em toda a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, chegando a ter exemplares queimados e expostos nos murais do centro de vivência da psicologia e da biologia. O que muito me lisonjeou, senti-me o próprio herege. Quase deu sindicância pro meu lado.
Ainda tenho várias cópias do número zero, e único, de O Pasquímico, tenho até o estêncil roxo, a matriz original do jornal. O original do lançamento do glade anal, no entanto, perdeu-se. Ou ficou com o japonês, ou foi pro lixo, sei lá.
E não é que agora, vinte anos depois, alguém lança mesmo no mercado um desodorizador de toba?
A Colonial Medical Assisted Devices desenvolveu um adesivo para ser usado por fora da cueca, um tipo desses patchs de nicotina, que promete evitar constrangimentos em lugares públicos para o peidorreiro, parece um daqueles emplastros Sábia, só que em volta do cu.
O Flat-D, como foi batizado, é um filtro com traços de carvão vegetal que garante neutralizar os odores metânicos. O filtro custa 60 reais e não há informações sobre sua sobrevida, ou seja, quantos peidos ele seria capaz de filtrar com eficiência.
A empresa, contudo, alerta : O Flat-D não tem isolamento acústico, o cheiro ele neutraliza, o barulho fica por conta do sujeito disfarçar. Abaixo, o produto em demonstração.

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5 Comentários

  1. Um Puta que o pariu com muita força. No meu toba é que ninguém vai colocar filtro!Vagabundo tá ficando doido...

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  2. Teu blog tá ficando bonito hein Marreta? Você sempre metido com os tobas. Daqui uns dias a foto do calendário do mês vai ser do Roger.

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    1. Com os tobas, não; nos tobas.
      Bem que você queria ver o pau do Roger aqui no calendário do mês, né? Mas pode tirar o cavalinho da chuva, nem do Roger nem da Rogéria.

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  3. Isso que aconteceu foi o quê? A Inquisição de volta? Se tivesses persistido no livreto, hoje talvez, estaria com a vossa própria marca. "Todos" andando com o seu produto no cu.

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    1. Isso foi em 1992. O jornal foi cancelado pelo presidente do diretório a pedido de alguns professores do próprio curso de química, de uma de matemática (que não gostou de ver seu nome citado no jornal, e ela fez por merecer a citação), e por alunos e mais alunos dos cursos de biologia e psicologia da USP Ribeirão. Os mesmos que pintaram a cara e acham até hoje que ajudaram a derrubar o Collor. Só tem filho da puta hipócrita.
      abraço.

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