A Insustentável (e Nociva) Delicadeza do Ser

Passo para as pessoas a impressão de que não gosto de esportes; de que não gosto de nada, aliás.
Não é verdade. O que não gosto, não tolero e combato - inutilmente, eu sei - é a demasiada importância dada ao esporte, principalmente a financeira.
Os esportes, admito, têm sua importância social. Evolutiva, até. Os esportes são os substitutos civilizados das caçadas e das guerras intertribais pré-históricas. Nas primeiras, os mais fortes do clã se reuniam para matar animais muitas vezes maiores que eles e seus receptores de prazer urravam frente a um mamute abatido. Nas segundas, os mais brutais de cada clã se reuniam para trucidar os mais brutais de outros clãs, e seus receptores de prazer explodiam frente à garganta cortada ou ao crânio esmigalhado do inimigo. No fim das contas, a história de toda a vida no planeta, não só a humana, se resume ao prazer obtido por um DNA em eliminar outros DNAs mais imperfeitos que ele. Os seres vivos, nas suas milhões de diferentes manifestações, são maneiras que o DNA tem de se propagar pelo planeta.
A civilização e, especialmente, as religiões vieram a condenar a eliminação a sangue-frio do mais fraco (até porque são eles que a ela recorrem), vieram a embotar essa competição sanguissedenta, artificialmente e sob vigília constante.
Porque a inevitabilidade de eliminar os mais fracos é imperativa na Natureza e ela condecora àqueles que servem aos seus propósitos com pleno regojizo sensorial. Nesse aspecto, nós, ditos homens modernos, ainda somos pré-históricos, nosso DNA ainda é o mesmo e clama pelas mesmas premências.
Os esportes vieram palidamente substituir essa urgência de esmagar o mais fraco, sobretudo os esportes coletivos e de contato, o futebol a exemplo. Cada time é uma tribo a caminho de dizimar a outra. Por conta disso, os esportes eliminam de seus quadros os de genes mais cerebrais e selecionam e privilegiam os truculentos e os brutos, os xucros. Adjetivos usados pejorativamente nos dias de hoje, mas que são a verdadeira índole e força-motriz da espécie.
Não foram a civilidade, a polidez e os bons modos que impulsionaram a espécie humana em sua expansão por todos os continentes e na dominação do planeta. A força bruta e primal é a responsável por todas as conquistas humanas, no passado, ainda hoje e sempre.
Nesse sentido, os esportes são reservas naturais dessa têmpera humana, verdadeiros bancos onde ficam armazenados os genes da pujança da raça, mananciais da macheza humana.
Ou, pelo menos, os esportes eram.
A coisa vem degenerando de uns tempos para cá. Jogadores de futebol recém-endinheirados têm aderido abertamente à viadagem, usam brinquinhos e colarzinhos de brilhantes, põem aparelhinhos coloridos nos dentes, tiram as sobrancelhas, fazem limpeza de pele, pintam cabelo e etc etc.
Alguém consegue imaginar o Garrincha com um mimoso brinquinho de brilhante? Pelé, Gérson e Rivelino tirando as sobrancelhas? O Socrátes de gargantilha de diamantes? O Edmundo "Animal" e o Serginho Chulapa tirando cravinhos do nariz e passando hidratantezinho? Os goleirões Valdir Peres e Marcos fazendo apliques de longas madeixas?
O problema é o efeito a médio prazo dessas práticas antimacheza. Esse tipo de "modernidade" enfraquece e faz desmoronar o espírito, mina-lhe o vigor e a robustez.
E chego na razão de todo esse palavrório.
Li, sexta-feira, que um tal Neimar, jogadorzinho dessas novas gerações de moloides, está com baixa autoestima, tadinho, precisando dos préstimos de um psicólogo. O motivo teria sido a sua não-convocação para a Copa do Mundo. Psicólogo é a puta que o pariu. Dá uma enxada pro filho da puta e vê se ele tem tempo pra ficar tristinho.
E se fosse um sujeito que tivesse se esforçado verdadeiramente para conquistar uma carreira? Um cara que tivesse estudado, feito curso superior, se especializado e, com 40 anos de idade, mandado embora do emprego por estar "velho" e, pela mesma "razão", nunca mais conseguisse sua recolocação no mercado?
Frescura!!! Viadagem pura o caso desse tal Neimar!!!
Se perguntados, há uns míseros 15 anos, sobre a atuação de psicólogos no futebol, os jogadores das antigas que supracitei se poriam a gargalhar debochada e desbragadamente, brandindo suas clavas e suas canecas de cerveja, até quase engasgarem com seus nacos de carne crua na boca.
Reitero : vou torcer para o time do Maradona, que liberou vinho, churrasco e sexo para os seus jogadores. Nada melhor para nutrir os brios do macho que vinho, carne malpassada e uma boa fêmea a aguardá-lo em seu retorno à caverna.
Virão o declínio e a extinção da espécie humana, sim. Como já ocorreu com várias outras espécies antes de nós e que um dia dominaram o planeta. É inevitável. E até salutar.
A derrocada da espécie humana, porém, não virá da truculência ou da barbárie, como querem nos fazer acreditar a hedionda raça dos humanistas, esse outro bando de frouxos - sociólogos, antropólogos, psicólogos, filósofos e que tais -, a barbárie é que nos trouxe até aqui, por isso estamos aqui e não os Neanderthais ou os tigres-de-dentes-de-sabre.
A ruína não virá pela barbárie inata.
Antes pelo contrário, virá pela civilidade, pela sofisticação, pela delicadeza adquirida.

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