Quando se quer dizer da Evolução às pessoas médias, alguns exemplos, alguns paradigmas, são clássicos. Ainda que esses modelos não sejam inteiramente factuais, ainda que sejam mostrados em apenas um aspecto de seus inúmeros, são extremamente úteis didaticamente. Dos meus preferidos, é o dos insetos cujo desenho do corpo assemelha-se a folhas, sobretudo gafanhotos e louva-a-deuses.
Ao povaréu - é consenso comum -, parece que tal bichinho, vendo o ambiente que o cercava, resolveu imitá-lo, já sabendo que assim melhor se ocultaria; outros, lamarckistas sem nunca terem ouvido falar de Lamarck, garantem que de tanto viver em contato com aquela folhagem, esses insetos acabaram por adquirir suas “feições”. Como aqueles casais que, depois de anos de convivência, tornam-se um a cara do outro. Será que isso é o tal do “achar sua cara-metade”? Fujamos desse assunto, por ora.
Voltemos aos insetos e mais ganharemos. Será que esses lamarckistas intuitivos nunca pensaram o inverso? Por que, já que a convivência é o fator da mudança, não temos por aí folhagens com aparência de insetos? Bastaria-lhes esse raciocínio para toparem com a idiotice de sua certeza. Aliás, o raciocínio, o pensamento, são os culpados de todo esse preâmbulo, essa encheção de linguiça, logo chegaremos a eles. Outros, pouca coisa mais atualizados na genética, dizem que mutações levaram àquela forma, mas ainda tem arraigada a convicção de que essa mutação foi direcionada, que algum tipo de sensor no DNA do inseto detectou uma pressão ambiental e correu em socorro de seu portador.
Nada disso. Características novas são dadas, também, por mutações. Mas nunca, jamais, em tempo algum, elas foram, são ou serão direcionadas, “pensadas’. O provável, no caso desses insetos, é que mutações em algum óvulo, espermatozoide ou zigoto tenham gerado alguns indivíduos com uma certa deformidade.
Sim, deformidade. Aquela asa folhosa era inicialmente uma deformidade, um erro. Por acaso, e por sorte desses aleijadinhos, sua deformidade assemelhava-se a componentes outros de seu ambiente, a vegetação, nesse caso. Esses aleijadinhos melhor puderam se esconder de predadores, viviam, em média, mais que os “normais” e produziam mais descendentes ao longo de sua mais longa vida. Porque aleijado ou não, para se fazer filho sempre se arruma um jeito. Por sua vez, os descendentes desses aleijadinhos eram, em sua grande parte, também aleijadinhos, que por sua vez também viveram mais e deixaram mais e mais aleijadinhos. Esse processo, ad infinitum, fez com que todos os indivíduos daquela espécie, milheiros de anos depois do primeiro aleijadinho, passassem a apresentar tal característica. O “normal” desapareceu daquele ambiente.
Portanto, novas características surgem por erros, ao acaso, e, se vantajosas, levam alguns milhares de anos para migrar do indivíduo à espécie. E o que tem a ver o pensamento com isso? Vamos lá.
O pensamento, o racional, o sistemático, o metódico, o feito em exercício, é uma característica nova na espécie humana. Recentíssima. Basta observar que a maioria recusa-se ao pensamento, são, inclusive, agressivos se chamados a ele. Isso porque a espécie humana não é ainda adaptada ao pensamento. Penoso o é, para a grande massa, o pensamento. Besteira achar que a espécie como um todo é dele portadora. Mas sair dizendo isso aos quatro cantos é correr o risco de ser taxado de nazista, eugenista e outros istas. Risco que corro e assumo com o maior prazer.
O pensamento, como instituição, não é dado a toda espécie. Justamente por ser tão recente seu surgimento. Não houve tempo hábil à sua incorporação. E nem haverá.
Pensemos, nós que o temos: o pensamento propicia vantagens aos seus portadores? Sim. Essas pessoas viverão mais tempo? Sim, na média, sim. Via pensamento, essas pessoas aprimorarão certas habilidades, terão melhores condições sociais, financeiras, alimentarão-se melhor, terão mais numerário para tratar-se de doenças... Sim. O pensamento aumenta a longevidade do indivíduo que o ganhou no jogo de dados da genética. Portanto, daqui a alguns milhares de anos, todos serão pensantes? Todos os Homo serão sapiens? Errado. Isso não ocorrerá. Estou me contradizendo? Também não.
O ser humano, como não podia deixar de ser, subverteu mais uma lei natural, avacalhou com a evolução. É simples: para que uma vantagem seja incorporada à espécie não basta que seus portadores vivam mais, eles têm também de deixar mais descendentes. E é aqui que a coisa enrosca. Um ser humano verdadeiramente pensante, nas condições atuais do planeta, deixa um número mínimo de descendentes. Quanto mais pensante, quanto mais esclarecido, menos filhos. Com isso, a característica “pensar” tem chance de se propagar a um reduzidíssimo número de indivíduos. Em contrapartida, os acéfalos não fazem melhor outra coisa, reproduzem-se feito bactérias em placas de Petri, e a característica “não-pensar” continua sendo transmitida a um maior, muito maior, número de indivíduos, que, por sua vez, gerarão proles e mais proles de não-pensantes, que gerarão proles e mais proles de, justamente, proletariados. O não-pensar é que será mantido pela espécie.
O pensamento nunca se tornará característica intrínseca à espécie humana. Nunca lhe será bagagem genética garantida.
O pensamento está fadado a ser, eternamente, uma deformidade de poucos.
Um brinde de rum a nós, os deformados.
Ao povaréu - é consenso comum -, parece que tal bichinho, vendo o ambiente que o cercava, resolveu imitá-lo, já sabendo que assim melhor se ocultaria; outros, lamarckistas sem nunca terem ouvido falar de Lamarck, garantem que de tanto viver em contato com aquela folhagem, esses insetos acabaram por adquirir suas “feições”. Como aqueles casais que, depois de anos de convivência, tornam-se um a cara do outro. Será que isso é o tal do “achar sua cara-metade”? Fujamos desse assunto, por ora.
Voltemos aos insetos e mais ganharemos. Será que esses lamarckistas intuitivos nunca pensaram o inverso? Por que, já que a convivência é o fator da mudança, não temos por aí folhagens com aparência de insetos? Bastaria-lhes esse raciocínio para toparem com a idiotice de sua certeza. Aliás, o raciocínio, o pensamento, são os culpados de todo esse preâmbulo, essa encheção de linguiça, logo chegaremos a eles. Outros, pouca coisa mais atualizados na genética, dizem que mutações levaram àquela forma, mas ainda tem arraigada a convicção de que essa mutação foi direcionada, que algum tipo de sensor no DNA do inseto detectou uma pressão ambiental e correu em socorro de seu portador.
Nada disso. Características novas são dadas, também, por mutações. Mas nunca, jamais, em tempo algum, elas foram, são ou serão direcionadas, “pensadas’. O provável, no caso desses insetos, é que mutações em algum óvulo, espermatozoide ou zigoto tenham gerado alguns indivíduos com uma certa deformidade.
Sim, deformidade. Aquela asa folhosa era inicialmente uma deformidade, um erro. Por acaso, e por sorte desses aleijadinhos, sua deformidade assemelhava-se a componentes outros de seu ambiente, a vegetação, nesse caso. Esses aleijadinhos melhor puderam se esconder de predadores, viviam, em média, mais que os “normais” e produziam mais descendentes ao longo de sua mais longa vida. Porque aleijado ou não, para se fazer filho sempre se arruma um jeito. Por sua vez, os descendentes desses aleijadinhos eram, em sua grande parte, também aleijadinhos, que por sua vez também viveram mais e deixaram mais e mais aleijadinhos. Esse processo, ad infinitum, fez com que todos os indivíduos daquela espécie, milheiros de anos depois do primeiro aleijadinho, passassem a apresentar tal característica. O “normal” desapareceu daquele ambiente.
Portanto, novas características surgem por erros, ao acaso, e, se vantajosas, levam alguns milhares de anos para migrar do indivíduo à espécie. E o que tem a ver o pensamento com isso? Vamos lá.
O pensamento, o racional, o sistemático, o metódico, o feito em exercício, é uma característica nova na espécie humana. Recentíssima. Basta observar que a maioria recusa-se ao pensamento, são, inclusive, agressivos se chamados a ele. Isso porque a espécie humana não é ainda adaptada ao pensamento. Penoso o é, para a grande massa, o pensamento. Besteira achar que a espécie como um todo é dele portadora. Mas sair dizendo isso aos quatro cantos é correr o risco de ser taxado de nazista, eugenista e outros istas. Risco que corro e assumo com o maior prazer.
O pensamento, como instituição, não é dado a toda espécie. Justamente por ser tão recente seu surgimento. Não houve tempo hábil à sua incorporação. E nem haverá.
Pensemos, nós que o temos: o pensamento propicia vantagens aos seus portadores? Sim. Essas pessoas viverão mais tempo? Sim, na média, sim. Via pensamento, essas pessoas aprimorarão certas habilidades, terão melhores condições sociais, financeiras, alimentarão-se melhor, terão mais numerário para tratar-se de doenças... Sim. O pensamento aumenta a longevidade do indivíduo que o ganhou no jogo de dados da genética. Portanto, daqui a alguns milhares de anos, todos serão pensantes? Todos os Homo serão sapiens? Errado. Isso não ocorrerá. Estou me contradizendo? Também não.
O ser humano, como não podia deixar de ser, subverteu mais uma lei natural, avacalhou com a evolução. É simples: para que uma vantagem seja incorporada à espécie não basta que seus portadores vivam mais, eles têm também de deixar mais descendentes. E é aqui que a coisa enrosca. Um ser humano verdadeiramente pensante, nas condições atuais do planeta, deixa um número mínimo de descendentes. Quanto mais pensante, quanto mais esclarecido, menos filhos. Com isso, a característica “pensar” tem chance de se propagar a um reduzidíssimo número de indivíduos. Em contrapartida, os acéfalos não fazem melhor outra coisa, reproduzem-se feito bactérias em placas de Petri, e a característica “não-pensar” continua sendo transmitida a um maior, muito maior, número de indivíduos, que, por sua vez, gerarão proles e mais proles de não-pensantes, que gerarão proles e mais proles de, justamente, proletariados. O não-pensar é que será mantido pela espécie.
O pensamento nunca se tornará característica intrínseca à espécie humana. Nunca lhe será bagagem genética garantida.
O pensamento está fadado a ser, eternamente, uma deformidade de poucos.
Um brinde de rum a nós, os deformados.
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