Mal Li, E Achei Uma Merda

Dia desses, caiu-me nas mãos a mais nova publicação dos estúdios Maurício de Sousa.
A turma da Mônica ficou jovem, pior: teen.
A Mônica não é mais dentuça, usou aparelho ortodôntico; o Cebolinha não troca mais o "r" pelo "l", foi ao fonaudiólogo; a Magali vive em dieta; e a coisa por aí segue.
Não existem mais a Mônica, o Cebolinha e etc, existem personagens crescidos - espichados no pior de todos os estilos de desenho, o mangá - e que mantiveram os nomes dos antigos.
As peculiaridades que davam a identidade a cada um da turma da Mônica foram extirpadas, agora todos são iguais a todos.
Cadê a tão propalada diversidade? A conscientização para a aceitação das diferenças? O combate ao preconceito, tão necessário hoje para uma juventude isenta de valores?
Maurício de Sousa prefere não enveredar por essas trilhas, torna a todos iguais e pronto, resolvido o problema.
Resolvido porra nenhuma.
A criança gordinha sempre vai ser o gordo-baleia, o rolha de poço, o pudim de banha, o supositório de elefante; a que usa óculos será sempre a quatro-olhos; o muito magro será o palito, o pau de virar tripa, vara de cutucar estrela, grilo, canela de sabiá; o muito baixo, o muito alto, o espinhento, o com orelha de abano, a peituda precoce, a sem-peitos tardia...
Não adianta. Todas as diferenças serão cruelmente realçadas na infância e adolescência.
Saber lidar com a adversidade, mais até que com a própria diversidade, e seguir em frente, é que forjará caráteres e personalidades, que acabará dando fibra e brio ao indivíduo: atributos também ausentes nessas novas gerações de iguais.
A solução não é fingir que todos são iguais, como na Turma da Mônica Jovem, não é homogeinizar, não é tornar tudo um só pastiche, não é pôr todos no mesmo liquidificador, bater e servir um suco cinzento; essas novas gerações são cinzentas.
Não é à toa que o gibi da Mônica Jovem é impresso em preto e branco, não há cores, não há distinção.
O interessante seria um quadrinho em que o cara que chama o gordo de rolha de poço percebesse que ele também é um cara legal (ou não) e ficasse amigo dele. Mas Maurício de Sousa, mais uma vez, foge disso.
Opta por entrar na onda da inclusão, onde todos são considerados iguais. Muito cômodo por sinal, afinal negar as diferenças é se abster de tratá-las, a cada uma, com um cuidado especial. É muito mais fácil, dá muito menos trabalho.
É a merda do politicamente correto!!!
Já imaginaram se essa onda teen se alastrar pelos outros títulos de Maurício de Sousa?
O Chico Bento, por exemplo, não roubaria mais as goiabas do nhô Lau, trabalharia varrendo o pomar ou capinando um terreno para recebê-las em paga, não mais pescaria com o Zé Lelé porque é época de piracema, não sairia mais à caça da onça-pintada porque o IBAMA decretou que é crime inafiançável.
Uma chatice só. Um porre. E sem álcool.
Só torço, nisso tudo, para que o Bidu não esteja mais vivo. Se estiver, logo, logo, passará por uma cirurgia de retirada das cordas vocais. Para seu latido não incomodar aos vizinhos.
A Turma da Mônica Jovem é a coisa mais velha que eu já vi. Velha no sentido de rançosa, preconceituosa.
No que depender de mim, meu filho não lerá a Mônica Jovem.
E acho que vetarei até a série clássica da Turma da Mônica.
Em protesto.

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2 Comentários

  1. o mercado editorial quer criar consumidores bem comportados
    esse negócio de formar cidadãos ou seres humanos conscientes é coisa do passado
    outro dia ouvi um vendedor dizer no trem: "não pensa não, que dói a cabeça"

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  2. Cara, texto foda para todos os leitores do MSP!
    Vc, mesmo sem ser um leitor contumaz da Turma, fez uma análise perfeita do que se tornou a criação de Maurício.
    E sim. A turma tradicional está igual. Uma bosta.
    Vou lincar este post na minha postagem.

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