Pau de Dar em Doido

Mais de cem anos,
A fundação da escola em que "leciono".
Mais de cem anos,
Provavelmente,
Já tinha,
À época,
A árvore tornada em bela 
E gigante mesa que centreia a sala dos professores.
Maciça.
Lapidada e entalhada por artesãos
Do tipo que hoje
Não existem mais.
Mogno,
Eu acredito
(nem sei por que creio que seja mogno, só acredito).
Vários elogios já ouvi à sua beleza
E às habilidades de seus construtores.
Poucos,
No entanto
(acho que só mesmo eu),
Lembram de que um dia
Ela foi uma majestosa árvore
(muito mais feliz, na certa).
Frondosa,
Vicejante.
Viva e a abrigar e dar sustento a dezenas de outras formas de vida.
Poucos se lembram
(tenho certeza de que só eu)
De que ela não nasceu mesa,
Cadáver utilitário,
Múmia do mobiliário.

Alma gêmea,
Minha,
De desgraça e de inferno,
Essa mesa.
Quem me vê,
Por mais bem vestido que eu esteja
(e eu nunca estou),
Por mais penteado e de barba aparada
(e eu estou sempre desalinhado e desgrenhado),
Por mais animado que,
Às vezes, raras vezes
Eu consiga simular estar,
Ninguém se lembra 
(às vezes, nem mesmo eu)
De que houve tempo
Em que eu
Também
Não era mesa a centrear a sala dos professores.

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9 Comentários

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Respostas
    1. Rapaz, para mim, elogio maior não poderia haver.
      Grande abraço.

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    2. Em tempo : por que não continuou atualizando o blog Bar do Escritor? Andei dando uma vasculhada por lá e achei bem legal. Atualmente, publica em algum outro blog ou site?

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