A Virgem Barbie Maria e o Ken do Espírito Santo

A reboque do bilionário faturamento do filme Barbie, os "artistas" plásticos portenhos e milongueiros Emiliano Pool Paolini e Marianela Perelli resolveram relançar sua coleção de figuras da Barbie e do Ken adaptadas para personagens religiosos. O primeiro lançamento, escrevi sobre ele aqui, foi em 2014 e provocou grandes celeumas e indignações dos setores mais conservadores da igreja católica, justamente aqueles que, por debaixo da batina e do hábito, são os mais devassos.
E como os dois artistas não tiveram a menor vergonha na cara de relançar obras já velhas, por que eu teria de republicar o texto que fiz à epoca, em 2014, ainda mais porque, provavelmente, pouquíssima gente o leu?
O texto está reproduzido ipsis litteris. Mudei apenas o título da postagem, originalmente, Barbie - a religião de plástico.

"Se um símbolo tivesse de ser eleito a bem representar os ditos tempos modernos em que vivemos, indubitavelmente, ele seria o plástico. Do grego plastikos - moldável, flexível -, ele literalmente moldou e reconstruiu o mundo a partir da invenção do baquelite (o primeiro de uma vasta família de polímeros), por Leo Baekeland em 1907.
Nada representa melhor o modo de vida moderno que o plástico : artificial, amorfo, sem personalidade, sem requinte nem profundidade, imediatista, descartável e equivocado.
O plástico também se assemelha incrivelmente à religião, que é a maneira mais artificial, amorfa, sem personalidade, sem requinte nem profundidade, imediatista, descartável e equivocada de explicar o mundo : a explicação pelo pensamento mágico, como se um aprendiz de feiticeiro regesse todo o cosmos.
Então, por que não associá-los, uma vez que indissociáveis parecem, plástico e religião, criar uma religião de plástico?
Buda Ken
Foi o que fizeram os artistas plásticos argentinos Pool & Marianella : lançaram a coleção Barbie - A Religião de Plástico. São 33 bonecos da Barbie e do Ken transfigurados em imagens religiosas. E tem para todos os credos : Iemanjá (candomblé), Kali (hinduísmo), Buda (budismo), Baphomet (provável origem templária) e, claro, Jesus, vários santos católicos e até uma pecadora, Maria Madalena, representada com um seio de fora, mas aquele peito de Barbie, sem mamilo, coisa que não excita nem ofende ninguém.
E claro, como não podia deixar de ser, a catolicaiada se pôs em pé de guerra contra Pool & Marianella nas redes sociais. Os cristãos dizem que a intenção dos autores é debochar da figura de Cristo e dos santos, e não homenageá-los. Mas o que é que o crente tem que ficar fazendo o dia inteiro em redes sociais? Vai pra igreja, porra. Vai rezar. Confessar. Soprar apito de chamar anjo.
Virgem Aparecida
Tem a Virgem de Guadalupe, a Virgem de Fátima, a Virgem da Medalha Milagrosa, a Virgem Desata-nós, a Virgem das Sete Dores, a Virgem de Aparecida, a Virgem da Divina Providência. Tem virgem a dar com o pau, ou melhor, a não dar com o pau.
Do que reclamam os cristãos? Tem melhor maneira de representar a figura de uma virgem que não no corpo de uma Barbie? A Barbie não tem buceta, vai ser virgem sempre. Ainda mais com aquele "namorado" metrossexual dela, o Ken, que não tem pinto. É virgindade garantida e imaculada, per saecula saeculorum, amen. 
E de mais a mais, por acaso, a Igreja Católica é dona das imagens do Cristo etc? São suas marcas registradas? Sendo personagens de mitologias, não podem ser representados pelas múltiplas visões dos mais diversos artistas? Tem que pedir permissão para os donos do santos? E, quem sabe, até morrer com alguma grana?
Quem nos dá as respostas é Daniel Rojas, administrador do Santuário da Defunta Correa, uma figura religiosa argentina que, apesar de não ser reconhecida como santa pela Igreja, é tida como grande milagreira e adorada por milhares de devotos, e também uma das Barbies da coleção de Pool & Marinella. Ele ameaça processar judicialmente os artistas por desrespeito à fé dos devotos : “A imagem e o nome [da santa] são patenteados, são nossos.”, vocifera Daniel Rojas.
No Brasil, o direito de imagem do Cristo Redentor é de propriedade da Arquidiocese do Rio de Janeiro. Todo e qualquer uso da imagem do Cristo Redentor, seja em um documentário, filme, videoclipe, propaganda de TV etc, precisa ser autorizado pela Arquidiocese da cidade do Rio de Janeiro, que também é de São Sebastião. Não sei se rola alguma grana, alguma esmolinha para a caixinha da Igreja Católica, mas que tem que pedir a benção do bispo, isso tem.
Ofensa à fé é não dar o dízimo, é não contribuir para os cofres e as barrigas volumosos da padraiada. Se rolar uma porcentagem em cima da venda das obras, o Papa Francisco até abençoa.
Na ala masculina, na pele bem tratada, hidratada, sem cravos e espinhas e sobrancelhas desenhadas de Ken, estão São Roque, São Sebastião, Santo Expedito, São Caetano, São Jorge e, enfim, o Ken Jesus Cristo e a Barbie Virgem Maria.


Eu acho, como dizia o povo antigo, que até ornou o boneco Ken do Cristo. O Cristo, de madeixas bem cortadas, sedosas e livres ao vento, de barba bem cuidade e aparada, sempre deu a maior pinta de ser um metrossexual.
Deixo aqui uma sugestão para a próxima coleção da dupla Pool & Marinella : lancem as figuras religiosas na forma de bonecas e bonecos infláveis, desses de sex shop, com orifícios e bengas vibratórias. Não sei na Argentina, mas no Vaticano venderia uma barbaridade. Ou, melhor, uma Barbieridade."

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4 Comentários

  1. "Barbieridade"? E você elogiando os trocadilhos que eu faço!

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  2. E a treta Tarcísio VS MEC, vira alguma coisa ou é marketing? Melhor ou pior para o professor ele ganhar essa queda de braço? Abraço!

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    1. Rapaz, estando o MEC sob o comando do Seboso de Caetés é claro que eu quero que o Tarcísio leve a melhor. Melhor ou pior para o professor? Essa é fácil. Pior. Não importa quem vença, o professor sempre leva no toba.
      Abraço.

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