O Incagável Bolsonaro Promete Jogar Merda no Ventilador

Depois de uma severa obstrução intestinal, depois de um agonizante período de empedramento e enfezamento, não é de surpreender que o incagável Bolsonaro esteja prenhe de merda madura, prontinha pra ser dada à luz e ao ventilador.
E é o que o Mito promete fazer em sua live desta quinta-feira (29/07) : jogar no ventilador a merda das fraudes das urnas eletrônicas, as urnas de Pandora.
Em uma hora, uma hora e meia, de transmissão, Bolsonaro garante que mostrará, em linguagem que todos possam entender, que houve graves "inconsistências" nos pleitos presidenciais de 2014 - vencido pela quarta vez consecutiva por Lula, a segunda vez na pele de seu avatar de saias e grelo duro Dilma Rousseff - e de 2018 - quando, garante, teria ganho no primeiro turno, não fossem as maracutaias cometidas nas urnas de Pandora.
Ainda que sem riqueza de detalhes, lembro-me razoavelmente bem do quadro geral da eleição de 2014, do segundo turno entre Lula Rousseff e Aécio Neves. Todos os prognósticos, pesquisas de intenção de votos e mesmo as manifestações populares de rua, indicavam a vitória do neto do Tancredo. Não uma vitória estrondosa e acachapante, mas um vitória. Uma vitória com relativa folga, para além das margens de erro inerentes às pesquisas.
Deu Lula Rousseff. Aécio Neves perdeu em Minas Gerais, foi o que nos disseram à época. Alegação que, hoje, soa das mais incongruentes. Como Dilma Rousseff, a famosa companheira Estela, notória terrorista vermelha, pode ter ganho uma eleição presidencial no mesmo estado (MG) que a rejeitou para o cargo de senadora nas eleições de 2018? Dilma não foi eleita pelo povo mineiro para nenhuma das três vagas do Senado, e foi posta no Palácio do Planalto pelo mesmo eleitorado?
Quando do resultado de 2014, Aécio Neves e o PSDB aventaram para a possibilidade de fraude, chegaram a cogitar um pedido de recontagem dos votos. Mas logo deixaram a desconfiança de lado. Obedecendo ao honrado espírito esportivo da política, admitiram a vitória de Lula Rousseff como legítima.
É a famosa recuada estratégica. É a velha política : hoje (2014), foi o PT que se aproveitou da vulnerabilidade das urnas de Pandora; da mesma forma, amanhã ou depois, poderemos ser nós (eles, o PSDB) a nos valermos das mesmas fragilidades. E o inimigo não terá o que fazer se não engolir nossa vitória, também.
Já repararam que ninguém, ou que raríssimas pessoas, reclama quando algum filho da puta entra na fila do caixa rápido do supermercado com um carrinho abarrotado de compras? E por que ninguém reclama? Por que o brasileiro é cordial, solidário, não quer criar uma situação constrangedora, armar um barraco? Porra nenhuma. Não reclama porque, por acaso, naquele dia, fora o filho da puta do carrinho cheio, todos estão a carregar a quantidade de pacotes dentro do limite do caixa rápido. Mas e amanhã, ou depois? Vá que amanhã, eles precisem passar com doze ou treze volumes no caixa rápido de dez? Ou com vinte e cinco ou trinta no caixa de vinte? Eles passarão. E esperarão contar com a mesma cumplicidade canalha que concederam ao filho da puta do carrinho lotado. E estarão certos. E a receberão.
É exatamente a mesma coisa na questão das fraudes das  urnas de Pandora. Eu fraudo hoje, você frauda amanhã, e vamos que vamos.
Sobre 2018, devido à pulverização inicial dos votos entre as dezenas de candidatos, acredito que não fosse mesmo possível - independente de manipulação das urnas ou não -, Bolsonaro ter sido eleito logo no primeiro turno. Já no segundo turno, estranhei imensamente a diferença tão pequena de votos que lhe deu a vitória sobre Lula Haddad. Estranhei, antes, até que o inexpressivo e desconhecido Haddad tenha chegado ao segundo turno. Se Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo, como diz o Macaco Simão, é o picolé de chuchu, Haddad é uma raspadinha de puro gelo. E derretida. Haddad só era conhecido em São Paulo, e nem no estado inteiro, apenas na cidade de São Paulo, para a qual foi um prefeito tão de merda que não conseguiu se reeleger. Aí, "de uma hora pra outra", Haddad é o segundo mais votado para a presidência do país?
Creio que a diferença de votos entre Bolsonaro e Lula Haddad divulgada pelo STE tenha sido, sim, minorada. Um pouco para conter os ímpetos de Bolsonaro, para que uma ululante diferença de votos não lhe servisse como uma carta branca a lhe dar amplos direitos, para que ele não ficasse com a faca e com o queijo nas mãos. Como aconteceu com Lula, em 2002. E Lula roubou os dois, a faca e o queijo.
Algumas falas prévias de Bolsonaro sobre o assunto, algumas cenas de sua próxima live :
Nós vamos demonstrar na 5ª feira [29.jul]. A gente vai convidar a imprensa, vamos decidir o horário ainda, para demonstrar o que aconteceu no segundo turno de 2014, e também parte do que aconteceu em 2018. Que dá para você ter mais que o sentimento, a convicção que houve, sim, interferência, em 2014, e houve, sim, interferência em 2018″;
"Um hacker 'do bem' mostrou aqui e vou provar que [o pleito de] 2014 foi fraudado. Temos uma fotografia minuto a minuto dos votos em Aécio e Dilma até o final [da votação] e só Dilma aparecia na frente. [O evento] vai ser lá na Presidência e vou convidar a imprensa. Vamos desmontar a tese do [presidente do Tribunal Superior Eleitoral e ministro Supremo Tribunal Federal Luís Roberto] Barroso de que urnas não podem ser fraudadas";
"Eu espero na semana que vem apresentar as provas de fraudes. Vamos apresentar uma fraude de 2014", disse o presidente. "Eu só consegui ser eleito porque tive muito voto. Eu vou comprovar semana que vem que teve fraude nas eleições de 2014. Vão vir hackers para mostrar";
"Por que os parlamentares são contra o voto impresso? É difícil entender o que está acontecendo";
"O que vale é a opinião pública, que não vai aceitar as eleições sem ser auditada e ter contagem pública. Hoje, meia dúzia contam a eleição. [...] Nós sim jogamos sim dentro das quatro linhas da eleição".
Conseguirá, o Capitão, demonstrar as tais "inconsistências" supostamente ocorridas nas eleições presidenciais de 2014 e 2010? Duvido muito. Não de que elas não tenham havido, mas de que ele conseguirá prová-las.
Se apesar disso, mesmo não provando as fraudes específicas em 2014 e 2018, ele conseguir, ao menos, mostrar que elas, as fraudes, são genérica e facilmente possíveis, mostrar que as urnas de Pandora são tranquilamente corrompidas ao bel-prazer de quem controla os órgãos eleitorais, que são um dos calcanhares de Aquiles da democracia brasileira, Bolsonaro terá nos prestado um bom serviço.
Aguardemos. 

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11 Comentários

  1. Não compreendo qual o grande problema em termos voto auditável e impresso. Economia, não é, já que o Fundão tá aí com quase 6 BI!!!!

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    1. Para nós, eleitores, problema nenhum. Já para a politicalha...

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    2. Para além do "é melhor, é pior", acho engraçado que o Bolsonaro durante as eleições estadounidense, criticou o voto impresso e o atraso no resultado das eleições. O cara foi eleito todas as vezes que se candidatou, e pela urna eletrônica! E elegeu todos os familiares para diversos cargos e diversas vezes. Isso de voto impresso é uma cortina de fumaça eterna, isso sim. O Bolsonaro sabe que não será reeleito e já está inventando desculpas, assim como fez o Trump.

      E sobre o fundão, comentado aí, curiosamente o PT e o PSOL votaram contra o fundão de 6 Bi. Já o filho do Bolsonaro e seus coleguinhas, todos votaram de modo favorável. E o Bolsonaro não vetará o que o centrão lhe exigiu. Bolsonaro é o centrão e deu o centrão para o centrão! Isso sim.

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    3. Voto impresso e auditável implica na compra de votos, votos de cabresto, controle de votos em uma determinada região ou local, como uma favela e falsos comprovantes. Sou mais favorável a contratar um grupo hackers e solicitar uma adulteração ou prova de que isso é possível nas urnas eletrônicas. Por que isso ninguém faz ou exige? Solicita o confisco de uma quantidade aleatória de urnas e faz a simulação! Achismos são só achismos e há notícias de fraudes em voto impresso em eleições antigas, inclusive de tal minto.

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  2. Há muito tempo nosso (infelizmente) presidente “desconfia” da urna eletrônica, logo ele que é a maior fraude eleitoral, pois a maioria que o elegeu (onde me incluo) já se sentiu decepcionada e enganada por ele há muito tempo. Que se pode pensar de um sujeito que aparece abraçado com uma representante da extremíssima direita alemã e tem a cara de pau de dizer “eu sou do Centrão”? Pior ainda é saber que a alemã abraçada por ele é neta de ex-nazista (o que demonstra que nem ela nem ele aprenderam nada com a História).
    Independente disso, nunca é demais lembrar uma máxima do Direito universal: “in dúbio, pro reu”. Ou seja, tá duvidando da urna, neném? Apresente provas! Mas suposições não são provas. Fui.

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    1. In dubio, pro reu. Gostei. E isso vale para urnas e pro Bolsonaro, também?

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    2. Infelizmente (no caso dele), esse é um procedimento a que todos têm direito. Eu acho uma merda. É mais ou menos como chamar de "suspeito" o sujeito que foi filmado fazendo alguma sacanagem. Nem sempre o Direito é direito.

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    3. Concordo com você. Também acho uma merda. Em notícias de casos policiais, é muito comum a gente ouvir "o fulano "teria" cometido um assalto", por exemplo. O filho da puta foi pego em flagrante, com o produto do roubo nas mãos, e o repórter é obrigado a dizer que ele "teria" cometido o assalto. Tenho um conhecido que é advogado e uma vez perguntei pra ele o porquê disso. Ele me falou que se o jornal ou o repórter disser "o fulano cometeu tal crime", mesmo tendo sido pego com a boca na botija, e futuramente o fulano for julgado e absolvido, ele pode processar o veículo de comunicação que duvidou de sua inocência. Uma merda? Merda é pouco, meu caro.
      Como costumo dizer sempre, o Brasil é um país descoberto por bandidos e, desde então, governado por eles e para eles.
      Veja o emblemático caso do Lula. Ninguém conseguiu desmantelar o processo feito por Moro. Ninguém conseguiu "desprovar" que Lula não tenha mesmo adquirido o triplex de maneira ilegal. O que fizeram foi dizer que, culpado ou não, ele não poderia ter sido julgado onde foi, em Curitiba. A questão central deixou de ser o crime em si; o "crime" passou a ser o lugar onde o crime foi julgado. Ninguém provou que Lula não seja, de fato, culpado; mas sim que ele não poderia ter sido declarado culpado onde foi. Será que dá pra gente chamar isso de "prescrição geográfica do delito"?
      Vai me dizer que esse tipo de lei, ou brecha da lei, como queiram, só não é passível de existir num país de bandidos?

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    4. Concordo integralmente com o que disse. O que me deixa mais puto, mas puto mesmo é a prescrição do crime (ou que nome se dê a essa porra. Para mim, devia ser assim: mesmo que demore 100 anos para ser julgado, não tem essa de prescrição. O processo só se extinguiria quando fosse feito o último julgamento possível na última instância. Outra coisa que me deixa pasmo (puto, na verdade) é que ao criarem o julgamento pela turma tal do STF fizeram surgir a quarta instância de um processo que demora trocentos anos para ser jungado. Ou seja, aqui é a casa da Mãe Joana (Mother Joan's house, para ficar menos agressivo). Foda!

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  3. Só volto aqui para comentar que o Bolsonaro não apresentou nenhuma prova, como previsto. Apenas apresentou um militar defendendo que as urnas são falsas, etc etc etc, mesma ladainha sem fundamentação. O Bonobo tá com medo do Lula, isso sim. Ainda espero que os dois não possam concorrer, o que é só expectativa furada da minha parte.

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  4. Em 2014 Aécio das Neves ficou caladinho diante da "fraude" pois o PSDB tinha "a ganhar com isso", Já que a polarização PT x PSDB também sempre foi uma fraude. Os dois sempre foram farinha do mesmo saco.

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