Macumba Gourmet

Hoje pela manhã, a caminho da padaria, intrigou-me uma estranha arrumação sob uma rosa e florida quaresmeira, colocada junto ao seu tronco, circulada em vermelho na foto abaixo.
Chegando mais perto, a exata natureza dos objetos foi revelada, mas nem de longe o propósito com o qual foram ali depositados, à sombra rosa da quaresmeira. Uma garrafa de vinho aberta e cheia até o gargalo, aparentemente intocada em seu conteúdo, e, ao lado dela, duas rosas, uma branca e outra que da mesma cor nascera, mas que fora corada de azul por imersão de seu talo em água com anilina.
Pesquisei sobre o vinho. Arte Noble. Chileno. Cujo rótulo mais barato, o cabernet sauvignon não sai por menos que cinquenta reais.
Só uma explicação me ocorreu na hora, e é a mesma que se mantém até agora : um despacho de macumba. Tipo de trabalho muito comum nas ruas do bairro há quarenta ou mais anos, principalmente na virada da sexta-feira para o sábado.
Mas onde estava a farofa amarela com dendê? As velas vermelhas e/ou pretas? A aguardente das brabas para a entidade dar uma beiçada?
Que novidade era aquela de vinho chique e rosas coloridas?
De novo, uma só explicação : gourmetizaram a macumba! 
Pããããããããta que o pariu!!!!! É a oferenda Masterchef! O ebó com estrela Michelin! É o preto velho sommelier! É o vinho Casillero del Exu!
Estão embichando até o Ogum, o Xangô, o Oxóssi e o Oxumaré!
Valham-me Zé Pelintra e Caboclo Sete Flechas!

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7 Comentários

  1. E a crise fazendo os baianos trocarem as galinhas dos despachos por caldo Knorr.

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  2. Olá, Marreta.

    Não sabia que faziam esse tipo de macumba nas ruas.
    Aqui em São Paulo, capital, nunca vi nada igual. Geralmente, se tem vinho na rua, algum mendigo passa e toma a garrafa kkkk.
    Gostei do texto com imagens da rua. Uma crônica intimista.

    Abraços.

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    1. Como eu escrevi, quando eu era criança, adolescente, a gente via muita macumba nas ruas, mas isso tem mais de quarenta anos; hoje não se vê mais isso. E também nem sei se é o caso, né? Foi só um exercício de imaginação.
      Abraço.

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    2. Meu irmão já pegou cachaça e cigarros de um despacho, junto com os amigos. E beberam e fumaram.

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  3. Bom dia , azarão. Não sei até que ponto isso procede mas ja vi papos pela internet de que , de fato, estão a gurmetizar as macumbas; uma melhoria na qualidade das oferendas que seriam entendidas pelas entidades como um maior esforço pelo requerente para atingir e / ou agradecer a graça concedida. Novos tempos em que só um frango, umas pipocas e uma 51 já não dão tanta moral como um vinho caro. Macumbaria nutella.

    Ainda não acostumei ao novo visual do blog.

    Cordial abraço

    Cássio - Recife/PE

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    1. Então, não sei se esse visual será o definitivo ou se volto ao original. É que esse modelo tem um recurso melhor de estatísticas, tenho uma ideia melhor de quantas pessoas leem cada postagem. Como para ler a postagem toda é necessário clicar nela, os números vão sendo registrados individualmente por postagem. E também tem o recurso ao fim da postagem que sugere outras postagens.
      Quanto às macumbas, eu tenho um amigo cujo pai, quando servia ao exército, passava com amigos perto de macumbas, pediam licença pro santo e iam pro tiro de guerra tomando pinga.
      Como vão as coisas por aí? Voltando aos eixos?
      Grande abraço.

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    2. Afrouxam um pouco as restriçoes, depois inventam mais uma onda...enfim. acho que isso só acaba quando recolocarem o lula na presidencia. umas observações pessoais sobre esta virulência: o que me estranha é a seletividade desse virus. Parece que so atinge funcionarios públicos e esse pessoal rico e classe média que pode se dar ao luxo de "ficar em casa". Um parente meu está numa uti de uma boa rede médica nacional ha duas semanas. Detalhe: aposentado, boa renda familiar e desde o início, ele e a familia so saíam de casa em raras situações; cada um em seu respectivo carro, claro. Já aqui na bocada onde vivo, ninguém liga e todos seguindo firmes e fortes suas vidas.

      Cássio - Recife/PE

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