Tarde da Noite

Com o que ainda te bates
A essa hora da noite,
Oh, poeta,
Bananeira que já deu cacho?
Com o copo de vodka-cola
Ou com tua ruína,
Já indisfarçável
(seja por maquiagem, por meia-luz, pela tua presbiopia acentuada)
No espelho de Dorian Gray
Do teu banheiro?
 
O que ainda esperas
A essa hora da noite,
Oh, poeta,
Cujo útero
Há muito botou o último óvulo de inspiração?
Que essas velhas canções
Que tanto escutas
Te restaurem a juventude
O verbo
E o amor das amadas
Cujas oferendas não soubeste usufruir?
Que a Lua Cheia 
Deixe o Céu em apagão
Para servir-te
De novo
De abajur do teu criado-mudo
E pratear o teu repouso egoísta?
 
Por que ainda boxeias contra o sono
A essa hora da noite,
Oh, poeta,
Poço artesiano de areia e de ossadas?
Por que insistes em crer
Que eram a madrugada e o álcool
Os arautos do teu verso,
Quando eras tu a dama-da-noite
A se deixar polinizar pelas estrelas,
Dama que perdeu o passo e o gosto
Pelo tango e pela tragédia?

Vá dormir, poeta!
Que noites em claro
Não preencherão tuas folhas em branco.
Vá dormir.
Que é o melhor para ti e para os da tua idade.
 
É tarde, poeta.
Tarde da noite.
Tarde da vida.

Postar um comentário

3 Comentários

  1. Pela imagem, pensei que era uma cuba‐libre em homenagem aos protestos dos cubanos.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Rapaz, ideologias à parte, gosto muito de uma cuba-libre, mas esse é coca com vodka; batizei-o há tempos de Guerra Fria, o melhor do mundo bipolarizado.

      Excluir
    2. Adoro charuto cubano. Só não tem grana para viver comprando. Uns amigos passaram uma semana em Havana. Adoraram... Ainda quero conhecer aquelas ilhas.

      Excluir