Abandono

- Ó, Poesia!
Clama
Uiva
E gane o poeta
(Cinquentenário,
Nunca publicado,
Poeta de gaveta,
De pastas de plástico corrugado
De disquetes) :
- Por que me abandonaste? 
 
A Poesia
Paciente e condescendente que só Ela,
E a não querer dever pra pobre
E grata, enfim,
Por um gozo aqui,
Por um deleite ali,
Por um arfar e um arquear acolá
Proporcionados pela língua semivernacular
Do extinto e brocha poeta
(o poeta tivera seus dias, seus momentos),
Por um buquê de miosótis
Por um desajeitado e brega
Jantar de salmão ao molho de maracujá,
Condói-se
E responde:
- E tu, poeta?
Por que antes de mim,
Muito antes de mim,
E não sem meus avisos,
Te abandonaste?

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4 Comentários

  1. Eu fico me perguntando por que as pessoas lêem uma poesia sem comentar. Certamente não é por estar fora de moda. Seria pelo fato de boa parte da produção poética provocar algum desconforto ("se não sai de ti a explodir, não o faças")? Seriam os versos uma sucessão de explosões controladas? Eu não sei. Você escreveu esta e outra poesia recentemente, ótimos versos, você se desnudou e nenhum filhadaputa comentou. Mas se falar de cerveja ou putaria os comentários chovem. Bizarro!

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    1. Talvez as pessoas nem leiam, vá saber... ou não se identifiquem.
      Mas sim, isso eu já falei aqui várias vezes, é só colocar uma gostosa que as visualizações e os comentários pululam.
      E que bom que gostou. Valeu!

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    2. E é ruim não ser comentado? Deixemos os versos naquele lugar incômodo: entre o desespero da escrita e a solidão do escritor.
      Mas sim, de fato, a produção poética está em alto nível por aqui. Quanto mais fundo o poço, melhor a leitura.

      E cerveja e putaria geram engajamento. Se juntar isso então, aí entra até na bolsa de valores.

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    3. Rapaz, eu uso minhas roupas até elas puírem e rasgarem, ou um pouco mais além, até; até minha esposa as jogar fora; não tenho roupa de trabalho, roupa de "sair", uso as mesmas em qualquer ambiente. Corto cabelo, quando muito, umas duas vezes por ano; a barba, então... Não uso perfume, só desodorante sem perfume; lavo o cabelo com sabonete... enfim, aos olhos do cidadão comum, eu sou um cara totalmente desprovido de vaiadade. De vaidade física, isso é bem verdade. Ando limpo, dentes bem escovados (mais que vaidade, neste caso, é uma questão de saúde), não fedo. Mas não tenho frescuras. Cago e ando para o que pensam de mim ou de minha aparência física.
      Mas tenho, sim, é óbvio, uma vaidade, a intelectual. Zés manés gostam de ser elogiados pela barriga tanquinho, por suas barbas gourmets e suas sobrancelhas delineadas, por seus novos celulares, por seus carrões inversamente proporcionais aos tamanhos de seus pintos. Eu gosto de ser elogiado por meus textos. Ou mesmo criticado; me fazer notado a ponto de alguém gastar seu tempo me escrevendo em resposta. Mas não chego a "encanar" com isso, não. Muitas vezes chego a duvidar da qualidade do que escrevo, mas por conta e censura próprias; não pela ausência de comentários.
      Se é ruim não ser comentado? Não chega a ser ruim, mas é melhor ser.

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