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O ser humano é o mais autoinsuficiente dos seres. Assola-o, a simples possibilidade da solidão; aflige-o, a simples desconfiança ou impressão de que está sozinho. Não lhe basta viver em família, em cidades de uns poucos milhares de habitantes, ou de dezenas ou centenas de milhares, ou mesmo de milhões. Não lhe basta sequer saber que está acompanhado por mais de sete bilhões de almas tão conturbadas quanto a sua na face do planeta. Ele precisa de mais. Precisa ter a certeza de que sua miséria existencial se estende para além da órbita terrestre; preferencialmente para fora dos limites da galáxia.
Ele não descansará enquanto não obtiver provas concretas de que seu infortúnio é cósmico e universal, que se estende a outras esferas e estrelas. A angústia do ser humano nem é tanto por não saber se está sozinho ou não no Universo, é por não ter a certeza da existência de outros desgraçados feito ele.
É muito mais o consolo da existência de uma infelicidade interplanetária do que exatamente uma curiosidade científica que o impele a buscar incessantemente por vida em outros planetas; ou, ao menos, por outros planetas que reúnam condições climáticas, atmosféricas etc capazes de abrigar a vida tal como a conhecemos. Isso e, claro, a nossa natureza parasita e predatória, que nos levará, em breve, depois de termos sangrado e esgotado a Terra, a um necessário êxodo de parte da espécie para uma outra esfera habitável. Ou a total extinção. Sempre torci pela segunda opção. A curiosidade puramente científica por vidas extraterrestres vem, se muito, em terceiro lugar na lista de motivos desta busca frenética.
Contudo, as distâncias literalmente astronômicas que nos separam de outras possíveis biosferas, em contraste e confronto com nossa primitiva e ridícula tecnologia aeroespacial, impede que os cientistas constatem in loco as propícias condições desses exoplanetas. Só sendo possível que tais observações e análises se deem de forma indireta. Uma das ferramentas mais úteis neste tipo de investigação são as bioassinaturas.
As bioassinaturas são substâncias ou moléculas indicativas da presença de vida como o ser humano a entende e a reconhece, a vida baseada em carbono. Água, ozônio, metano, dióxido de carbono e amônia são exemplos dessas bioassinaturas. Mas há de ser notado que as citadas bioassinaturas não são necessariamente produzidas e/ou liberadas por seres vivos, não são geradas exclusivamente por algum tipo de metabolismo. Elas são tão-somente fundamentais em um ambiente para que a vida tenha a ínfima possibilidade de nele se organizar, surgir e se manter. Elas tornam a vida provável, não certa.
E se houvesse uma substância, uma bioassinatura a ser buscada na atmosfera ou na superfície de um planeta que fosse resultante, única e exclusivamente, da presença já estabelecida de vida? Pois esta substância existe e passou a ser utilizada recentemente e com resultados surpreendentes.
É a fosfina. Um gás cuja molécula é composta por um átomo de fósforo (P) ao qual se ligam, em conformação piramidal, três outros átomos de hidrogênio (H). A presença da fosfina na atmosfera de um planeta só pode indicar duas coisas : atividade industrial ou a existência de micróbios anaeróbios.
Pois um estudo conjunto entre Reino Unido, EUA e Japão, publicado agora na prestigiada revista Nature Astronomy, traz-nos notícias da presença de fosfina nas nuvens de Vênus, a Estrela D'Alva que em nosso céu desponta. Supondo que o planeta não conte com a presença de parques industriais, há por lá uma infinidade de micro-organismos venusianos proliferando sem parar sob as bênçãos da deusa do Amor.
Não há uma terceira explicação, diz a astrofísica portuguesa Clara Sousa-Silva, do MIT (EUA) : "Com o conhecimento atual que temos sobre química e sobre Vênus, não existe uma explicação possível para a presença de fosfina nas nuvens do planeta que não seja vida".
A constatação da fosfina em Vênus empolga muito mais pela proximidade com a Terra que por sua detecção em si. A ideia de procurar fosfina por perto, especificamente em Vênus, foi da líder da equipe, Jane Greaves, da Universidade de Cardiff, no Reino Unido: “Quando descobrimos os primeiros indícios, ficamos em choque!”, disse a astrônoma.
Ideia em termos. Ideia não tão original assim. O literalmente pica das galáxias Carl Sagan levantara essa bola há mais de 50 anos, ao publicar, em 1967, na revista Nature, o artigo intitulado "Vida na superfície de Vênus?". Como Carl Sagan "previu" esta possibilidade há mais de cinco décadas? A resposta, nem um pouco científica, porém, não menos exata por causa disso, é dada pelo astrobiólogo Douglas Galante : "Porque ele era o Sagan!".
Carl Sagan era astrônomo e, sobretudo, macho das antigas. Ser um puta dum astrônomo, é claro que ajuda muito em fazer certos vaticínios, mas basta ser um macho das antigas, neste caso, ter sempre sabido da existência pujante e pulsante de vida no planeta Vênus. Talvez, é bem verdade, não em todas as regiões do planeta, uma vez que Vênus apresenta um variado mosaico de condições climáticas em sua extensão, com amplitudes térmicas em suas superfícies que vão de -220ºC a 480ºC, e temperaturas em torno de 30ºC em suas nuvens, onde foi detectada a fosfina. Mas numa de suas regiões, no seu mais célebre acidente geográfico, o Monte de Vênus, sempre foi pública e notória a existência de vida. Que macho das antigas não sabe desde sempre que a vida sobeja e escorre em mel, néctar e ambrosia no Monte de Vênus? Sabem de nada, esses inocentes astrônomos de hoje!
Abaixo, duas fotos do sempre densamente habitado Monte de Vênus; a primeira, mais antiga, e a segunda, atualíssima.
Esta foto é parte do acervo das primeiras fotos coloridas do Monte de Vênus, tiradas em 1982 pela sonda russa Venera 13, do programa Venera, ativo de 1961 a 1985.
E esta foi tirada ainda neste ano de 2020, pelo telescópio Hubble, da Nasa. Foto que revela uma evidência de vida em Vênus muito maior e mais cabal que a presença de fosfina em suas nuvens : o desmatamento criminoso do Monte de Vênus. Também conhecido, entre os astrônomos brasileiros, por Capô de Fusca ou A Testa da Bezerra.
Pããããããããããta que o pariu!!!

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4 Comentários

  1. Olá, Marreta.

    Como diria meu avô – habitué de todos os puteiros da cidade, quando vivo: pacotudas!

    O tempo mudou bastante o design dos montes.

    Sobre “ nossa natureza parasita e predatória”, alguns dirão que não é bem assim, que na verdade a exploração espacial se deve a nosso espírito desbravador. Isso quando, no fundo, sabemos ser mais plausível vivermos em cidades estelares abastecidas com Esferas de Dyson do que manter, habitável, esse pedregulho onde estamos.

    Vi esta notícia e só recordei das venusianas de Chapolin Colorado. Anos de ciência e bilhões em tecnologia para mandarmos dois astronautas em busca de xoxota. Grande Chespirito!

    Abraços!

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    1. Rapaz, vou ter que assistir a esse episódio do Chapolin, não conheço. Mas, no fim das contas, essa sempre não foi a busca primordial do homem, a xoxota?

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    2. Até nosso Presidente da República só entrou na política para ter grana e comer gente.

      https://www.youtube.com/watch?v=HwwMlyQkw2Q

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    3. Certíssimo, o Bolsonaro. Quem pergunta, quer resposta.

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