Cerveja-Feira (28)

Advertência : a postagem a seguir contém imagens de extremo mau gosto, porém, necessárias para ilustrar o texto.
 
O cerveja-feira desta semana vai para a inseparável, embora indesejável, famigerada e, como veremos, muitas vezes injustiçada, companheira de todo bom bebedor de cerveja : a barriga de cerveja.
Mas será, de fato, a cerveja a grande responsável pela pança de macaco bugio que acomete 9 entre 10 de seus apreciadores? Balela, meus caros, balela. Adoram falar mal das loiras. Para mim, isso sempre foi um mito; pior, uma falácia. Sempre acreditei e professei que o que engorda não é a cerveja, ou que muito pouco ela o faça, o que torna paquidérmicos os bebuns são os acompanhamentos, as más companhias que se achegam a ela, os petiscos, os tira-gostos.
Prudente, fui pesquisar um pouco para redigir esta postagem, não correr o risco de falar muita besteira, e só fiz confirmar a minha impressão, a minha hipótese. Mais uma vez, sem nenhuma modéstia, só agora a ciência vem descobrindo o que o Azarão já sabe há tempos, por vivência, empirismo e um agudo senso dedutivo. Como dizia o Raul : eu não preciso ler jornais, mentir sozinho, eu sou capaz.
De fato, como eu sempre apregoei, a cerveja per si engorda pouquíssimo, o que torna os seus amantes em rolhas de poço é o entorno que acaba por cercá-la. Não há calorias suficientes na cerveja nem nutrientes tão pesados que possam nos hipopotamizar.
Declaro-me agora o Advogado da Cerveja e apresento provas irrefutáveis de sua inocência.
Primeira : por conta das reações químicas de que participa em nossas vias metabólicas, a cerveja - o álcool contido nela - nos estimula o apetite. Quem está na faixa dos cinquenta anos para mais, e chegou a conviver com seus avós e bisávos, já deve ter visto várias vezes, pouco antes do almoço, o avô tomar um "aperitivo", um traguinho de pinga, para "abrir o apetite". Claro que bebum arruma qualquer desculpa para tomar uma, porém, neste caso, o ardil de nossos progenitores não era totalmente sem base. Vejam : não é a cerveja que traz em si algum elemento engordativo, mas sim a comida que não estaríamos comendo caso não estivéssemos bebendo. Ela abre o apetite? Abre. Mas isso é problema seu. Você que tome vergonha na cara e tenha o autocontrole de não comer até o cu fazer bico.
Segunda : o tipo de comida que a cerveja "chama" para si. Você nunca ouviu alguém, depois da segunda ou terceira lata, dizer : ai, que vontade de beliscar uma alfacinha, um brotinho de alfafa, de roer um talo de salsão. A cerveja chama para si a turma da pesada, torresmo, calabresa acebolada, amendoim, provolone, batata frita. De novo : nada na cerveja em si é indicativo do efeito barriga.
Terceira : tudo o que ingerimos, seja sólido ou líquido, terá de passar pela barreira alfandegária do fígado, onde serão processados, degradados, metabolizados e encaminhados aos seus adequados destinos. Acontece que, a depender das quantidades de álcool e de gordura a serem processados, o fígado poderá não dar conta de tudo ao mesmo tempo e terá de optar por um deles. Como o álcool é uma substância tóxica para o organismo, o fígado acabará por se ocupar dele primeiro. Aproveitando o assoberbamento do fígado, as gorduras vão passando de fininho, na surdina, sem serem degradadas. Com isso, vão mais e mais se acumulando na circunferência abdominal. De novo : se tomarmos amostras do conteúdo adiposo da pança e as analisarmos, apenas ínfimos traços - ppms, ppbs, até - dos componentes da cerveja serão encontrados.
Quarta : o período do dia em que o consumo da cerveja se dá habitualmente : a noite. Justamente quando o nosso metabolismo está a desacelerar, a reduzir a marcha para irmos dormir; quando estamos com menor poder de queima das calorias. Fator que, somado aos anteriores, acaba por criar uma verdadeira represa de gordura de Brumadinho no bucho. Mais uma vez : a cerveja é uma boa menina, não engorda ninguém mais do que alguns gramas, mas uma boa menina que não sabe se defender de maus elementos.
Quinta : um copo de 200 ml de cerveja tem o mesmo número de calorias que o volume equivalente de suco de laranja (sem ser adoçado), e menos que a mesma quantidade de um suco de maçã ou de leite. Se bem educarmos a nossa cerveja, se bem a orientarmos no sentido de evitar as más influências, poderemos usufruir de sua companhia sem virarmos supositórios de baleia.
Uma única coisa depõe contra a cerveja, exclusiva e isoladamente contra ela : a quantidade, a quantidade em que a consumimos. Mesmas calorias que um suco de laranja, correto? Sim. Mas eu não conheço ninguém que, numa reunião entre amigos com duração de umas quatro ou cinco horas, beba, por exemplo, dez copos de suco de laranja, o equivalente a dois litros. Menos ainda de leite. Quanto à cerveja, tomar dois litrões é moleza, é coisa de iniciante, de estagiário. Suco de laranja não chama mais suco de laranja. Cerveja chama por mais cerveja. Nada também que não possa ser compensado por uma boa caminhada no dia seguinte.
Eu mesmo me coloco agora como uma sexta e definitiva prova, uma prova (ainda) viva de toda essa preleção. Sou consumidor habitual de cerveja, mas raramente, raramente mesmo, como alguma coisa enquanto bebo, quem me conhece sabe disso. Não sou de misturar cerveja com comida. Tenho 53 anos, 1,81m, nunca entrei numa academia em toda a minha vida e estou - pesei-me há uma semana - com 68,2 kg. Abaixo, a evidência fotográfica do que digo; eu, de camiseta cinza, caneca na mão, ao lado de meu corno amigo Fernandão, em começos deste ano.
Claro que minha barriga não é retinha e firme como era quando dos meus 20, 30 anos; claro que já revela certas dobras e flacidez, que são muito mais consequências da idade, dessa invenção humana que é a velhice, da podridão, meu velho, que da cerveja.
Prosit!!!

Postar um comentário

1 Comentários

  1. Marreta! Bem que podias tirar essa tua foto caindo pro lado do "Fernandão", ainda por cima, com o braço esquerdo quase sobre teu ombro. Na linguagem corporal, mão sobre os ombros de outrem, significa: "Eu te protejo."

    ResponderExcluir