É a Parte Que Lhe Cabe do Meu Latifúndio

"Você tem um espaço especial no meu coração", ela diz.
Que área exclusiva será esta?, pensa ele.

Um jardim de inverno no ventrículo esquerdo dela?
Um caramanchão de buganvílias na tricúspide,
Um quartinho de empregada na mitral,
Um sofá-cama nas suas subclávias,
Ou um jazigo no campo santo de sua face esternocostal?

Ele ri e desliga sua ironia,
Que é doença autoimune e que opera em moto-perpétuo.

"Você tem um espaço especial no meu coração", ele sabe,
É a maneira mais amorosa
Dela dizer que não o ama mais.

"Em relação a isso", ele diz a ela,
"Você possui um considerável latifúndio no meu :
As terras não demarcadas das minhas tropas de galinhas-d'angola,
As várzeas inundáveis de meu continente perdido,
Os estábulos de minha biblioteca incendiada,
Os canteiros noturnos de beterrabas sangrentas
E a Casa-Grande,
Necrópole dos sonhos que morrem sem explicação".

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