Cerveja-Feira (26)

A seção Cerveja-Feira está fadada à extinção. Meu repertório para homenageados ou esgotou-se, ou nomes que muito me agradariam ter por aqui, como Vinicius de Moraes, Chico Buarque, Belchior, Bóris Yeltsin (o Jânio Quadros russo) etc, não os consigo achar em fotos com um copo ou com um belo dum canecão de cerveja nas mãos.
Por aqui, passaram escritores, músicos, gostosas, personagem de desenho animado, um país, uma antiga civilização, presidentes da República e até um Papa. Sem muito o quê, e para não falhar como falhei na cerveja-feira da semana passada, resolvi dar destaque a uma linha de cervejas relativamente recente no mercado brasileiro : as boas e quase baratas. As chamadas "puro malte", um meio-termo entre as cervejas "comerciais" e as artesanais.
As boas e quase baratas caem bem ao paladar e não chegam a provocar princípio de infarto e AVC no Margá, o escorpião que habita o meu bolso. Das boas e quase baratas que experimentei, estão no meu pódio a Proibida rótulo preto (medalha de bronze), a Brahma Extra Lager (prata) e a Serramalte (ouro). E hoje, no exato momento em que rascunho esta postagem, uma boa e quase barata nunca dantes entornada ameaça roubar o terceiro lugar, quiçá o segundo, das Olimpíadas cervejeiras do Azarão : a Salzburg.
Às sextas-feiras - tornou-se praxe nesta pandemia e neste saudável e bem-vindo isolamento social -, vou pela manhã à feira livre do bairro para comprar pastéis (carne e queijo para o filhotão, palmito para a esposa e o insuperável bacalhau da japonesa para mim) e, na volta, passo por uma loja de conveniência de um posto de combustíveis para pegar umas três latinhas de Lokal ou de Serrana. Hoje, dei de cara com a tal Salzburg em promoção, R$ 2,89 a latinha de 350 ml. Pensei : por que comprá-la, por que não comprá-la, por que comprá-la, por que não comprá-la? Comprei-a-a.
Quando verti o conteúdo da primeira lata no meu poderoso Canecão, um arrependimento precoce começou a se armar. Por alguma razão que minha razão desconhece, associo uma cerveja de mais qualidade a uma cor mais escura, mais brônzea. A Salzburg é de um amarelo claríssimo. No entanto, o primeiro gole já fez valer o investimento : ela tem um amargor bem mais pronunciado que uma Bohemia, uma Império, uma Petra ou uma Cacildis. Um amargor muito bom, que persiste na língua.
Gosto - espelho de Obsidiana, talvez - de gostos mais amargos. Adoro um jilozinho, por exemplo. Pãããããããããta que o pariu se adoro!!! É bem verdade que poderia ter uma melhor carbonatação, que sua espuma durasse mais um pouco mais, mas nada que deprecie a sua refrescância. E a embalagem também é bem caprichada, um ouro velho a servir de tela para um elmo e uns brasões medievais. Aprecio a simbologia dos brasões ou escudos de armas. Um dia, a me sobrar tempo e disposição, ou a ter direito a uma reencarnação, tenho a intenção de me aprofundar na arte da Heráldica. A latinha vai para a minha pequena coleção.
Arrependi-me de ter pego só três.
Prosit!

Postar um comentário

14 Comentários

  1. Não entendo de cerveja, mas sei que as latas geralmente têm preços mais em conta nos grandes supermercados. As vezes, junto com outros produtos, compro um fardo de “latões” (473ml) pela internet , pois a patroa bebe. Aliás, ela mesma ironiza o fato de os homens da família não beberem (quatro filhos e eu). Para mim está de boa, pois o que menos gosto na cerveja (além de não atingir meu cérebro) é justamente o amargor. Quanto à heráldica seria realmente uma boa você escrever sobre isso, pois tenho percebido que muita gente tem ascendência nobre, com direito a brasão e tudo mais, o que faz com que eu me lembre das regressões experimentada por alguns. Nunca o filho da puta é (foi) um anônimo, pé duro. Não, sempre foi princesa do Nilo, funcionário do palácio X, esse tipo de idiotice.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Rapaz, nenhum dos quatro filhos entorna? Onde foi que você errou na educação dessa molecada?
      Café não atinge seu cérebro, álcool não atinge seu cérebro, só leite com toddy mesmo?
      O que gosto na heráldica nem é tanto a curiosidade por uma possível ascendência nobre, mas sim os desenhos em si, os seus siginificados. Quanto a nínguém ter sido um zé-ninguém em vidas passadas, eu tenho uma teoria, acho que o Céu é uma pequena oligarquia onde só os nobres e os grandes vultos da História têm o direito e a permissão para reencarnar; a pobraiada vai é pro inferno, mesmo.

      Excluir
    2. Na verdade, o segundo filho até bebe uma cerveja, mas só em festa mesmo. Quando ele tinha uns quinze anos chegou carregado em casa e não sei mais o que aconteceu. Eu fiquei na minha e não falei nada, mas não sei o que minha mulher disse. Então, realmente ninguém bebe(ia). Ultimamente o terceiro resolveu beber vinho, creio que ele e minha nora fizeram algum curso, essas viadagens. Mas leite com toddy não dá barato, só prazer (que acaba depois de beber meio litro de uma vez). Agora, você tem razão quanto ao café e ao álcool. Meu cérebro já deve ter uma área muito lesada, imune à cafeína e ao álcool.
      Quanto à heráldica eu acho bacana também, mas fico muito constrangido quando vejo alguém com o “brasão de família” comprado em alguma feira agropecuária. Complexo de inferioridade enrustido é foda. Eu já falo logo que vim de uma família de gente pobre, sem nenhuma nobreza. Pensa bem, “Botelho” era o nome de uma planta aquática mencionada pelo Pero Vaz de Caminha. Algum nobre teria o nome de Botelho? Só se fosse Botelho pinto.
      E não é reencarnação, é regressão (dá no mesmo). Qualquer dia vou inventar ter feito uma merda dessas e dizer que descobri ter sido um senador romano. Ou então, para chocar, direi que uma de minhas vidas passadas fui uma prostituta egípcia que morreu com gonorreia ou um judeu queimado pela Inquisição. E se o ouvinte for evangélico direi que fui Caim. Quero ver a reação!

      Excluir
  2. Marreta, tua Cerveja Feira fará falta. Te adianto que faço cerveja em casa, artesanal, qualquer tipo, sou aficionado na breja. Paralelo a isso, tenho uma coleção de personalidades tecendo comentários a essa bebida maravilhosa. Tenho filmes também, esse material se quiseres, está a disposição.
    Quanto a heráldica, não podemos esquecer que como os senhores feudais, os aristocratas, todos que dominavam parcelas da população, em aldeias, feudos, vilas e cidades, fosse onde fosse, eram homens que tomavam a mulher que queriam, quando lhes desse na telha, dai que bastardos, nada gloriosos não faltaram na história carregando o nome do "nobre" que lhes deu vida. Não podemos esquecer a "prima nocta" que os romanos aplicavam em seus domínios, posteriormente, "direito" usual da nobreza na idade média. Hoje, aqueles que ostentam seus brasões, não sabem se são tataranetos dos bisnetos do faxineira do castelo que ganhou uma bimbada do seu senhor. Por isso também, somados a outros fatores que não vem ao caso, acredito que hoje há tanto FDP no mundo, eles proliferam como baratas. Sinto vergonha quando vejo alguém ostentando um brasão com nome de família, é a mesma vergonha de quando vejo pregado numa sacada: "Fulano de tal, 4º lugar na UNIESQUINA para Direito". Tudo isso traduz muito bem nossa brejeirice, afinal somos brasileiros por profissão.
    Prosit!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eu diria que há um quarto objetivo na vida de um homem, além dos outros notórios três: fabricar sua própria cerveja. Infelizmente, esse ainda não cumpri, pois essa arte é meio melindrosa. E nem precisaria ser uma IPA toda elaborada para que eu ficasse realizado nesse ponto...

      Excluir
    2. Para suprimir o e-mail e o tel, eu teria que suprimir o comentário todo. Você prefere?

      Excluir
    3. Faz o favor: anota à parte e deleta. Obrigado!

      Excluir
  3. A cerveja que você fabrica tem um nome, um rótulo? Caso sim, envie para mim que será uma honra estampá-la aqui no cerveja-feira. Claro que eu quero o material sobre cerveja de que falou, com certeza trará fôlego novo à seção.
    Claro que há toda essa relação de poder, toda essa podridão por detrás dos brasões, mas como eu disse o que aprecio é tão-somente a parte gráfica, pictórica, os elmos, as espadas, os dragões, os grifos, os ramos de vegetação etc.
    Outra coisa que também é o cúmulo da breguice é o cara bordar um monograma no seu robe; aliás, só o robe já é o cu da cobra.
    Gostei da Uniesquina.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Emendei a tua resposta na do GRF. Depois lembrei, uma coisa interessante no universo cervejeiro, é a HISTÓRIA por trás do estilo, dá pano prá muita manga.

      Excluir
  4. Acho que você tocou num assunto que uniu todos os seus leitores, sem contraposição. Brasão de família é coisa de FDP. Mas, sim, a arte do brasão, unicamente, é interessante.
    Sobre a foto. Ribeirão Preto foi bem representada no fundo. Cidade cor de barro com tons de cinza. Parece um quadro velho, empoeirada. Na verdade, fiquei até em dúvida se era a cidade no fundo ou se era um quadro mais antigo da cidade. Mas, pela grade de proteção, é a cidade atualmente.
    Sobre a cerveja, ainda não vi se tem aqui no bairro, mas vou procurar. Ontem o mercado que costumo ir estava com uma promoção estranhíssima: Stella Artois de 550ml por R$ 4,59, de garrafa. Semana que vem procuro a Salzburg.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Rapaz, eu nem tinha reparado na cidade ao canto da foto, mas sim, principalmente no fim da tarde, aqui pega aquele solão da tarde, até o ar parece estar cinza e cor de barro, chega a dar uma aflição, uma claustrofobia. E tem usineiro aproveitando pra tacar fogo na cana e atribuir a incêndio "acidental", a bitucas de cigarro.

      Excluir
    2. Eu também sempre aproveito essas ofertas do produto próximo ao vencimento e também nunca passei por tomá-las.
      E vou entrar em contato por esse seu e-mail, sim.
      Salud!

      Excluir
    3. Litrão de Stella por R$ 3,50 seria um sonho.
      No caso não era a validade, as que comprei vencem em Fev/21. Aqui no mercado do bairro costuma ter essas ofertas em cervejas toda semana. No momento, Colorado (Appia e de Laranja que não lembro o nome) de 600ml está saindo por 6,90 e 5,90, respectivamente. E só vence ano que vem. Suspeito que pelo fato do bairro ser perto de dois atacadista (Atacadão da Via Norte e Tonin), os dois mercados menores daqui seguram os clientes através dos preços das cervejas (comigo dá certo). [Eu nem sei o que é "inverno" mais].

      E voltando no comentário, sim, a cor da cidade é arrepiante. Sem chuva, então. Com usineiro de sobra, então.

      Excluir