A interação corno-biscate é das mais íntimas, arraigadas e indissociáveis relações da natureza.
O primeiro não há sem a segunda e a segunda não haveria se não houvesse homens vocacionados em ser o primeiro.
É uma interação de extrema co-dependência, a do corno-biscate. Uma simbiose exemplar. De uma dinâmica simples e imutável : biscate bota chifre, corno sofre, biscate pede perdão, corno perdoa, biscate bota chifre, corno sofre, biscate pede perdão, corno perdoa... ad infinitum.
Pero no mucho. Ma non troppo. Nem sempre. Raro, mas nem sempre.
Raro, porém, há cornos que conseguem romper com a simbiose e mandar a biscate às favas.
Lupicínio Rodrigues foi um destes invulgares espécimes.
Lupi, como era tratado pelos mais chegados, foi o Rei da fossa, o Sumo Pontífice da dor de cotovelo. E, claro, corno de grande magnitude.
Mas Lupi era corno brioso, assumia, sim, os chifres, até os tornava em música e os cantava para as multidões, mas não dava guarida pra biscate, não. Com Lupi, não tinha essa de madalena arrependida. Ele punha a biscate pra correr, mandava-a ir cantar em outras freguesias, botava-a ao olho da rua da amargura.
Uma destas obras-primas do corno com amor-próprio e dignidade é a canção "Judiaria", gravada por ele e por vários outros intérpretes ao longo do tempo, inclusive por Arnaldo Antunes, a versão de que mais gosto.
A ela :
Judiaria
(Lupicínio Rodrigues)
Agora você vai ouvir aquilo que merece
As coisas ficam muito boas quando a gente esquece
Mas acontece que eu não esqueci a sua covardia, a sua ingratidão
A judiaria que você um dia fez pro coitadinho do meu coração
Estas palavras que eu estou lhe falando
Têm uma verdade pura, nua e crua
Eu estou lhe mostrando a porta da rua
Pra que você saia sem eu lhe bater
Já chega um tempo que eu fiquei sozinho
Que eu fiquei sofrendo, que eu fiquei chorando
Agora quando eu estou melhorando
Você me aparece pra me aborrecer.
As coisas ficam muito boas quando a gente esquece
Mas acontece que eu não esqueci a sua covardia, a sua ingratidão
A judiaria que você um dia fez pro coitadinho do meu coração
Estas palavras que eu estou lhe falando
Têm uma verdade pura, nua e crua
Eu estou lhe mostrando a porta da rua
Pra que você saia sem eu lhe bater
Já chega um tempo que eu fiquei sozinho
Que eu fiquei sofrendo, que eu fiquei chorando
Agora quando eu estou melhorando
Você me aparece pra me aborrecer.
Para ouvir "Judiaria", na voz de Arnaldo Antunes, é só clicar aqui, no meu poderoso MARRETÃO.
1 Comentários
Sabe que a resposta perfeita pro Lupicínio é do trovador da boêmia, do rei do brega, o próprio Reginaldo Rossi.
ResponderExcluirhttps://m.letras.mus.br/reginaldo-rossi/171137/