Corpo de Cristo Light, Não! Proclama o Papa Francisco I

O Papa Francisco I, que tem se mostrado tão conciliador e progressista para com temas antes nunca sequer abordados e discutidos pela Igreja, como acolher pessoas divorciadas e os viadões (desde que arrependidos) em seu rebanho, finalmente deu uma de macho, mostrou seu lado autoritário, sua face Bento XVI : proibiu, terminante e categoricamente a hóstia sem glúten! Não existe isso de hóstia glúten-free, garante o Papa.
A proibição, de suma importância para o Sumo Sacerdote, tanto que mereceu ser expressa em carta oficial lavrada, assinada e enviada aos bispos pelo próprio Pontífice, decorre, primeiramente, da grande oferta e da pequena confiabilidade na procedência dos ingredientes usados na confecção da hóstia bem como da mão de obra empregada, que deve ser composta de pessoas distintas, pias e íntegras. "Deve-se vigiar a qualidade do pão e do vinho destinados à Eucaristia e, portanto, aqueles que os preparam”, escreveu o Papa. Antigamente, apenas comunidades religiosas se ocupavam de preparar o pão e o vinho para a celebração da Eucaristia, hoje, os ingredientes e até a hóstia já pronta são vendidos também nos supermercados, em outros negócios e através da Internet. Daí, a proibição, para que não restem quaisquer dúvidas sobre a validade da matéria eucarística, garantindo-a mediante certificados apropriados. A carta faz concessão à farinha produzida com trigo transgênico, mas não ao acréscimo de outros produtos como frutas, açúcar e mel, o que é considerado "um abuso grave".
Segundamente (como dizia Odorico Paraguaçu), a proibição da hóstia 0% glúten vem em resposta, ainda que uma negativa, a grupos de mães portuguesas e espanholas cujos filhos são celíacos, isto é, alérgicos, ou intolerantes ao glúten, ficando, assim, impedidos de comungar.
É por essa e por outras que a Igreja Católica, de uns tempos para cá, tem visto seu rebanho debandar e rarear, levados pelo lobo mau ou do secularismo, no caso da Europa, ou das igrejas evangélicas neopentecostais, nos casos do Brasil e outros países da América Católica : ela não diversifica seus produtos e serviços.
Por que não diversas opções de hóstia? Por que não diferentes modelitos do corpo de Cristo? Poderia haver a hóstia tradicional, a sem glúten, a integral, a 7 grãos, a com aveia e quinoa, a com castanhas e passas etc. Entre pessoas da mesma religião, a fé tem que ser única, mas os paladares podem ser diferentes. Por que não congregar e irmanar, sob a mesma fé, diferentes preferências, necessidades e até, no caso das crianças celíacas, diferentes impedimentos fisiológicos e metabólicos?
Por que tantas especificações e restrições feitas aos ingredientes e à mão de obra empregados na confecção da hóstia se, depois de consagrada pelo sacerdote, toda e qualquer substância se transforma no corpo de Cristo? Sim. Porque, para o católico, a hóstia consagrada não é uma simbologia do corpo de Cristo, ela é, literalmente, a carne do Nazareno (só a antropofagia nos une, disse Mário de Andrade). É o milagre da transubstanciação.
Assim sendo, técnica e teologicamente falando, qualquer "pão" poderia ser consagrado pelo padre e entregue em comunhão. O pão francês (que aqui nas bandas onde moro é o filão e no Rio Grande do Sul, questão de preferências regionais, é o cacetinho), uma torrada, uma bolacha de água e sal, uma barrinha de cereais, um biscoito Traquinas (é a hóstia Kids) e até as rosquinhas (queimadas) Mabel, as preferidas da padraiada.
A proibição do Papa à hóstia sem glúten, no entanto, procede, tem fundamento. Não de cunho dogmático, canônico ou teológico, mas sim científico. E o Papa, sendo homem de cultura e erudição inimagináveis para nós, reles mortais, sabe disso, mas, claro, não dará o seu santo braço a torcer. Mas eu, o Azarão, que sou o caminho, a verdade e a vida, vos revelarei.
Acontece que, se bem me lembro de minhas aulas de Química, qualquer preparado à base de farinha de trigo, ou outro cereal, para dar o ponto na massa, para se tornar minimamente palatável, tem que passar por um processo de fermentação, ainda que discreto. A hóstia, contudo, é um pão ázimo, feito sem o uso de fermentos convencionais, seja o químico (pó Royal), seja o biológico (o fungo Saccharomyces cerevisiae). É, então, que entra em cena o glúten, o fermento secreto à serviço de Sua Santidade. É o glúten presente no trigo que vai garantir e promover a mínima fermentação necessária à massa da hóstia, sem a qual ela ficaria embatumada e mais dura que pau de dar em doida. Ficaria o pão que o diabo amassou.
Aliás, isso de hóstia com ou sem glúten me lembrou de uma piada.
"Última missa do dia encerrada. O padre já estava a recolher os badulaques do altar, se preparando para ir dormir e chega o bêbado. Arrependido de sua vida de cachaceiro e querendo comungar. As hóstias haviam acabado. O padre, para evitar maior tumulto, corre os olhos pelo ambiente para tentar achar algo que possa dar ao bêbado à guisa do corpo de Cristo e vê um chumaço de bom bril, usado para polir a taça do vinho, em cima da toalha do altar. Pega o chumaço da palha de aço, o amassa e modela na forma de hóstia e dá para o bêbado, que está contrito, de olhos fechados. O bêbado agradece, vai saindo, mas sente alguma coisa estranha no gosto daquela hóstia. Ele para no meio da nave da igreja e pergunta ao padre o que ele havia lhe dado. O corpo de Cristo, meu filho - responde o padre. O bêbado se vira, continua seu caminho rumo à saída e vai pensando : é isso que dá chegar atrasado na missa, sobrou pra mim só os pentelhos do Cristo."
Pããããããããta que o pariu!!!

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2 Comentários

  1. A vantagem de não ser fundamentalista é que eu posso rir das suas besteiras. Muito bom!

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  2. Não publicar: esqueça essa ideia de parar, você tem amigos, público fiel, escreve bem, é engraçado pra caralho. Aliás, este é o lema: Coda é o caralho!

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