Que Fossa, Hein, Meu Chapa, Que Fossa... (31)

Todo mundo conhece a canção Grito de Alerta, um dos clássicos da fossa, aquela do "primeiro você me azucrina, me entorta a cabeça..." Muitos, acredito, até sabem que seu autor é Gonzaguinha, filho do Gonzagão.
Mas duvido que alguém saiba, e aposto uma de minhas bolas do saco nisso, em intenção de quem Gonzaguinha a compôs.
Você, meu amigo, que já embalou a dor de um pé na bunda dado por aquela ingrata ao som de Grito de Alerta, que mesmo a cantarolou baixinho à guisa de canção de ninar e anestésico para seus cotovelo e testa escalavrados, com certeza imagina que Gonzaguinha a tenha composto em situação similar à sua, em lamento a mais uma buceta que se foi.
Pois saiba que a canção que você tanto já ouviu, cantou e com cuja letra tanto se emocionou e se identificou, como se para si ela tivesse sido escrita, não foi inspirada por nenhuma buceta desertora.
Muito pelo contrário. Uma rola, meu amigo, um cacetão foi o que serviu de mote à Grito de Alerta. Gonzaguinha, filho do cabra macho e da peste Gonzagão, um boiola? Nada disso.
A ideia para a música surgiu de uma desilusão amorosa de outrem, confidenciada ao compositor por um amigo, um dos maiores intérpretes da nossa MPB, Agnaldo Timóteo - sim, você pode até torcer o nariz pro repertório do cara, para o seu temperamento explosivo e polêmico, ou para os seus posicionamentos políticos, mas que o cara canta pra caralho, canta.
O personagem que serviu de inspiração para Grito de Alerta foi Paulo César Souza, o Paulinho, frequentador assíduo e badalado da boemia gay carioca das décadas de 70 e 80, habitué da Galeria Alaska e do Posto Três, com quem Timóteo teve intenso e duradouro affair. Gonzaguinha apropriou-se de chifre alheio e compôs sozinho Grito de Alerta, cujo título foi sugerido pelo próprio Timóteo. 
Não sei quais são os aspectos técnicos e legais que configuram uma parceria musical, mas, moralmente falando, na minha opinião, Gonzaguinha deveria ter dado parceria a Timóteo em Grito de Alerta. Não deu.
E pior : não deu a Timóteo nem mesmo exclusividade de gravação de sua própria história, de sua própria dor; gravou-a ele próprio, Gonzaguinha, e também Maria Bethânia, na voz de quem a canção explodiu nas rádios da época.
Foi o que bastou para que Timóteo rodasse a baiana, soltasse seus cachorros para cima do amigo : “Eu fiquei pau da vida com o Gonzaguinha, porque aquela história era minha, eu deveria ter sido até parceiro dele na música. Eu falei: 'Puta que pariu, Gonzaguinha, então eu te conto uma história da minha cama e você dá a música para Bethania gravar!?"
Portanto, meu amigo, em cada uma das vezes que você cantou e se confortou na letra e nos acordes de Grito de Alerta, você estava era a louvar e a se aninhar na rola do Paulinho!
Isso é que é fossa, hein, meu chapa, isso é que é fossa...
Grito de Alerta
(Gonzaguinha)
Primeiro você me azucrina
Me entorta a cabeça
Me bota na boca
Um gosto amargo de fel...

Depois
Vem chorando desculpas
Assim meio pedindo
Querendo ganhar
Um bocado de mel...

Não vê que então eu me rasgo
Engasgo, engulo
Reflito e estendo a mão
E assim nossa vida
É um rio secando
As pedras cortando
E eu vou perguntando:
Até quando?...

São tantas coisinhas miúdas
Roendo, comendo
Arrasando aos poucos
Com o nosso ideal
São frases perdidas num mundo
De gritos e gestos
Num jogo de culpa
Que faz tanto mal...

Não quero a razão
Pois eu sei
O quanto estou errado
E o quanto já fiz destruir
Só sinto no ar o momento
Em que o copo está cheio
E que já não dá mais
Pra engolir...

Veja bem!
Nosso caso
É uma porta entreaberta
E eu busquei
A palavra mais certa
Vê se entende
O meu grito de alerta

Veja bem!
É o amor agitando o meu coração
Há um lado carente
Dizendo que sim
E essa vida dá gente
Gritando que não...(2x)

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2 Comentários

  1. Jotabê, o filósofo6 de agosto de 2015 às 21:44

    Que coisa, meu! Mas que o Timóteo é gay ninguém nunca duvidou. Só um gay convicto é capaz de cantar "mamãe, mamãe, mamãe...". Quanto ao estilo da música, em virtude do motivo inspirador, poderia ser chamada por algum sinônimo de fossa. Por exemplo, "música de toca" ou "buraco. (muito ruim!). E o motivo de não dar a parceria e os créditos ao Timóteo, está na cara, ou melhor, na bunda. O Gonzaguinha deve ter-se baseado na sabedoria popular que ensina: "se o cu não é meu, pau nele".

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    1. Pois é, caro Jotabê, essa história que contei e mais várias outras muito interessantes sobre o universo musical chamado de "cafona", das décadas de 60 e 70, estão no livro Eu não sou cachorro, não , de Paulo Cesar Araújo, o mesmo autor daquela polêmica biografia que o Roberto Carlos vive brigando pra proibir. O livro é mesmo muito interessante. Se tiver interesse, dá pra baixar ele fácil no endereço abaixo:
      http://www.bregablog.com/2010/09/download-livro-eu-nao-sou-cachorro-nao.html

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