Vasilhames Vazios

Não encontro mais 
Minha poesia no fundo da garrafa
Nem mais ela se deixa transparecer
Desnuda 
Peituda
Pelo biombo âmbar
Do "casco" de cerveja.

A poesia estava não no interior
Mas no que rodeava a garrafa :
Na pouca idade
Na ingenuidade
Na burrice, até
Na vida que ainda se decidia.
Na briga que já nos era perdida
Mas que achávamos que podíamos ganhar
(A ilusão de que éramos melhores
Do que os que nos antecederam)
No riso bêbado do amigo
Por quem morreríamos à época
E hoje nem sabemos onde está
Nem imaginamos a quais sobriedades 
Ele já teve que se sujeitar.

Olho pelo gargalo de minha garrafa
E não encontro minha poesia.
É a "Jeannie É Um Gênio"
Que resolveu se emancipar
Abandonar minha cozinha, 
Queimar o sutiã
Deixar crescer pelo no suvaco.
É o Saci que fugiu para algum quilombo
Que resolveu redemoinhar em outros capoeirões de ideias
Cabriolar em outras folhas em branco
Em outras esferográficas.

Sem batalhas perdidas
Sem gênio nem Saci
Não há poesia.
Somos só eu e minha garrafa :
Dois vasilhames vazios.

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