Quem acha que os executivos de grandes e burocráticas empresas, de sisudos e metódicos conglomerados industriais, não possam ser capazes de um inspirado senso de humor e até, por que não dizer?, de laivos poéticos, está redondamente enganado.
É possível, sim, o gaiato e traquinas espírito humano (de alguns) sobreviver mesmo em meio à mais exaustiva das tarefas, em meio à mais massacrante das linhas de produção e montagem. E explico.
Hoje pela manhã, a poucos quarteirões de chegar ao meu local de trabalho, trajeto que faço sempre a pé, vi no meio-fio de paralelepípedos de uma esquina a caixinha de um remédio, azul e vermelha, vazia, já bem suja, pisoteada e achatada. Chamou-me a atenção, em grandes letras brancas sobre o fundo azul, o nome do remédio : Dejavú.
Na mesma hora, ainda que não soubesse à cura de quais males ele se prestaria, achei bonito pra caralho alguém pôr o nome Dejavú em um remédio. Abaixei-me para pegar a caixinha e saber do que ele tratava, já com uma ideia preconcebida do que pudesse ser; supu-lo, em virtude do nome, uma droga para ativação da memória. Enganei-me.
Procurei pelo seu nome genérico, o seu princípio ativo, e ele estava lá, em letras menores logo abaixo do nome de fantasia : citrato de sildenafila. É o viagra!!! O azul e redentor viagra!!! A guloseima preferida dos vovôs, o curinga escondido na manga dos machos atuais. Aí, achei mais bonito ainda. Quase tocante.
Originário do idioma francês, Dejavú - pronuncia-se dejavi, que é só para o francês poder fazer aquele biquinho de que ele tanto gosta - quer dizer "já visto", e é uma das palavras mais poéticas que há.
É o termo utilizado para designar a sensação que temos, ocasionalmente, de já termos visto ou vivido algo que, paradoxalmente, está a nos acontecer pela primeira vez. Uma lembrança do que nunca vivemos, em suma.
O dejavú se manifesta das mais diferentes formas. Lugares nunca visitados e imediatamente reconhecidos, fragmentos de conversas nunca tidas e que nos parecem o replay de um filme, rostos de desconhecidos com que cruzamos nas ruas e que nos são automaticamente familiares etc.
O dejavú, embora haja uma explicação científica para ele, permite-nos um sem-número de elocubrações mais mágicas, menos técnicas.
Ele poderia ser um pequeno flash de memórias trancafiadas lá na infância, fotos amareladas que não lembramos de ter tirado e que saem das gavetas vez em quando; poderia ser uma reação neurológica a desejos nunca consumados, amordaçados, que surge na forma de uma "lembrança" difusa, a nos dar o consolo e o benefício da dúvida de termos ou não saciado-os; poderia ser até, dizem os que acreditam nisso, recordações de vidas passadas.
Ele poderia ser um pequeno flash de memórias trancafiadas lá na infância, fotos amareladas que não lembramos de ter tirado e que saem das gavetas vez em quando; poderia ser uma reação neurológica a desejos nunca consumados, amordaçados, que surge na forma de uma "lembrança" difusa, a nos dar o consolo e o benefício da dúvida de termos ou não saciado-os; poderia ser até, dizem os que acreditam nisso, recordações de vidas passadas.
No caso do Dejavú, o genérico do viagra, acho que a coisa é mais ou menos como vou dizer. O brocha toma lá o Dejavú, daí a pouco, o pau há muito falecido transforma-se num baita dum caralhão em riste, pulsante e viril. Emocionado, o brocha olha para aquilo e pensa : acho que já vi isso acontecer um dia, acho que já passei por essa situação antes, estou tendo um dejavú.
Pãããta que o pariu! O cara tem um dejavú da paudurescência! Recorda-se vagamente de uma época em que o pau subia!
E depois dizem que os exatos executivos e cientistas são desprovidos de sensibilidade. Chamar o viagra de Dejavú... Isso é que é inspiração. Isso é que é licença poética!
Para não dizerem que estou a inventar, ei-lo, o Dejavú.
Fica aqui a dica de utilidade pública do Marreta. Se você anda com a "memória" a falhar, se já começou a sofrer com eventuais "esquecimentos", não prolongue mais o seu padecer e sua "amnésia", vá de Dejavú.
Em tempo : registro aqui meu agradecimento ao Pedro, que comentou essa postagem e me enviou o link com a foto do Dejavú.
Em tempo : registro aqui meu agradecimento ao Pedro, que comentou essa postagem e me enviou o link com a foto do Dejavú.
4 Comentários
Eu achei a foto da embalagem do Dejavú!
ResponderExcluirhttp://p.twimg.com/AuASBvwCIAEdjMI.jpg:large
Obrigado, cara. A foto já está aí, a substituir a bula.
ExcluirAbraço.
Hilário! Muito bem escrito! Parabéns...
ResponderExcluirTomar no cu porra ! Essa historia aconteceu comigo tem uns 5 dias atras ! Indo no mc donalds aqui no rio de janeiro, barra da tijuca paro meu carro no estacionamento e quando abro a porta e olho pro chão ta la a embalagem do bendito toda amassada ! Chego em casa e digito no google do que se tratava aquela embalagem com nome muito chamativo, me deparo logo com esse blog seu e caio na gargalhada !! Gostei muito desse blog abraços e feliz ano novo !
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