Professora Recomenda A Pedagogia Da Vara De Marmelo

Recebi a sugestão deste assunto em um comentário anônimo feito aqui no blog. Confesso que não estava com muita vontade de comentar sobre ele, mas achei a reprodução do bilhete dando uma fuçada pela net e resolvi fazer umas breves considerações.
O bilhete, supostamente, teria sido enviado por uma professora à mãe de um aluno-problema, de 12 anos. No bilhete, ela sugere uma via alternativa ao possível malogro de uma conversa amigável : a boa e velha surra, a tradicional sova.
Ofendidos e indignados, os competentíssimos pais do "anjo" denunciaram a docente, que já foi afastada pela Secretaria de Educação, para averiguações.
Não sou de defender professor - aliás, não sou de defender ninguém -, porém, parece-me que a professora, neste caso, é a vítima. E a única que será punida. Não uma vítima de todo inocente, mas a vítima.
Vítima de pais ineptos, ausentes, descompromissados e incapazes de transmitir aos filhos as regras básicas de respeito e educação; de pais que terceirizam a educação dos filhos, que transferem ao Estado (e, às vezes, aos próprios filhos) responsabilidades que são suas.
Esses pais deveriam se sentir envergonhados com o bilhete da professora, e não indignados. Ainda que de maneira desastrada, o bilhete é um puxão de orelha nos pais, não na criança, um conclame para que os pais assumam as rédeas de suas crias, esqueçam os psicólogos fajutos, a professora diz. Ou seja, tomem vergonha na cara, tenham o trabalho de criar seus filhos.
O bilhete é também um desesperado pedido de socorro da docente, para que os pais deem um jeito no que nem ela nem a escola - impedidos por leis permissivas - podem dar, é um pedido de socorro de quem quer, simplesmente, trabalhar em paz.
Sem defender nem condenar nem justificar as sugestões de cintadas e varadas, o que um professor enfrenta, hoje em dia, nas salas de aula, só outro professor sabe.
Desrespeito, desacato, indiferença, agressões verbais (físicas, algumas vezes), pressão de diretores e supervisores para a aprovação em massa dos alunos (saibam eles o conteúdo, ou não), o que só vem a minar ainda mais a autoridade do docente, jornadas de trabalho exaustivas para amealhar um salário que lhe garanta um mínimo de dignidade etc.
Alguns professores têm estrutura para aguentar e seguir em frente, quases ilesos, outros, não; alguns conseguem se blindar contra isso, conseguem desenvolver mecanismos de defesa - geralmente passam a tratar o sistema, os pais, os alunos, os superiores hierárquicos, com a mesma indiferença e desfaçatez com que são tratados, tornam-se cínicos, mas sobrevivem, subsistem -, outros, não, não conseguem se defender, quebram, desmantelam-se. Parece ser o caso dessa professora.
Se for para punir, que sejam punidos os pais, ou, pelo menos, também os pais. Já passou da hora dos pais serem chamados judicialmente às suas obrigações.
Vítima também, a professora, do MEC, nosso emérito Ministério da Educação e Cultura, que cada vez mais dá sua chancela à instituições de ensino superior sem a menor qualificação para formar profissionais competentes, os tais cursos superiores à distância, virtuais, online, o caralho.
Arrisco-me a dizer que a professora, vistos os erros crassos de concordância, pontuação e ortografia, deve ser egressa de uma dessas arapucas, de um desses caça-níqueis da educação.
Se uma punição for mesmo necessária, ainda que a título de uma satisfação à sociedade, que sejam punidos o MEC e as faculdades online (ou não) que distribuem diplomas a semianalfabetos.
Vítima, a professora, finalmente, do Governo do Estado de São Paulo, que a admitiu em seus quadros funcionais, vítima de um governo que, conivente com o MEC e faculdades, e a troco de um salário de fome, atestou a (falsa) competência dela à função de lecionar.
Se uma punição for mesmo imprescindível, ainda que na vã tentativa de uma moralização do público, que seja dada ao Governo do Estado de São Paulo, o estado de maior receita da sétima economia mundial e que serviços de tão baixa qualidade dispõe aos seus cidadãos.
Se for para punir só a professora, é melhor que esqueçamos a história, que deixemos para lá. Se for para exonerar a professora de seu cargo, que os pais do menino percam a guarda sobre ele, que o MEC seja extinto, que o Secretário da Educação seja deposto e que o governador Alckmin sofra impeachment.
Mas não vai ter como, a conta dessa licenciosidade vai sobrar toda para a professora. No país campeão do futebol, o professor é sempre o culpado.

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