Pequeno Conto Noturno (27)

Rubens goza. Deixa-se ainda por um ou dois minutos, esperando os ritmos cardíaco e respiratório normalizarem, e tira o pau do cu de Domenica. Que sai semiereto, com seus relevos e reentrâncias cobertos e preenchidos por merda. Nada em exagero, a quantidade mínima padrão, aquela inevitável e sutil camada que se percebe mais pelo cheiro que pelas vistas.
Rubens dobra-se sobre Domenica, diz-lhe algumas besteiras ao ouvido, mordisca o lóbulo de sua orelha e sai, vai ao banheiro se lavar.
Domenica, lasseada e exaurida (gozara cinco ou seis vezes antes de Rubens encher seu rabo de porra), permanece na exata posição em que estava, posição que tanto agrada a Rubens, de bruços, babando no travesseiro, braços esticados ao alto, mãos agarrando as laterais da cabeceira, e as pernas bem afastadas, o mais que lhe é possível, quase em spacatto.
Domenica se rende ao langor, fica lá, imóvel, sentindo o esfíncter anal retornar a seu estado normal (quase escuta os rangidos), as pregas se reacomodando e expulsando os últimos restos da porra de Rubens, que escorre e se une à secreção de sua buceta numa bela mancha rorschach bege no lençol.
No chuveiro, Rubens ensaboa abundantemente o pau, as bolas e os pelos nunca depilados ou aparados - o cara, pensa Rubens, primeiro depila o saco, depois depila o cu, e o próximo estágio já se sabe.
O vapor do chuveiro ligado na posição de inverno e as janelas fechadas fazem emanar o cheiro da merda, potencializam a atmosfera de fossa; Rubens gosta, aspira-a. É cheiro muito diverso do da merda posta fora naturalmente, simplesmente cagada, evacuada. É cheiro de merda conquistada, tomada, subjugada. Do cu feito em poço dos desejos.
Rubens sai do banho, pega no congelador a garrafa de grappa trazida por Domenica, dois copos e volta ao quarto. Rubens não gosta de grappa, é bebida amarga, feita dos restos das uvas utilizadas para o vinho, cascas, sementes e até caules, uma espécie de pinga de uva; nunca a tomaria por próprio gosto.
Rubens, porém, é homem cortês, de bons modos e protocolos, sabe que seria enorme deselegância recusar qualquer coisa a quem lhe oferta o cu tão generosa e desapegadamente como faz Domenica, de um jeito que é só dela; Rubens tomaria sulfocrômica com água régia por um cu daqueles, que dirá, então, grappa.
Ao ver Rubens chegar com a garrafa e os copos, Domenica sai de sua prazerosa letargia e se senta na cama, pernas encolhidas ao peito e costas na cabeceira.
Rubens serve os dois copos e se junta a Domenica, que puxa o cobertor e os encasula, prorrogar a intimidade e lhes salvaguardar de uma rara noite fria, com os termômetros abaixo dos 10ºC. 
Pernas enrodilhadas, as de um nas do outro, brindam e começam a conversar. Nada específico, nada de políticas, de esportes, de humor, de TV, de filmes, de livros, de passado ou de futuro.
Apenas falam, muito mais Domenica, que brinca com o pau e as bolas de Rubens por sob as cobertas. Domenica gosta de conversar com Rubens e, ao mesmo tempo, manusear suas bolas, como fosse um brinquedo de apertar, um amuleto, não significa que ela esteja querendo outra foda; não até de manhã, pelo menos.
Domenica não se lavou, um bafio de subterrâneo escapa das cobertas de vez em quando, um odor de terra úmida, acolhedor; Rubens e Domenica são duas minhocas recém-acasaladas em seu túnel de massapé, em sua caverna primordial.
Com o sexto copo de grappa quase esvaziado, Domenica adormece no ombro de Rubens, com a metade de uma frase qualquer em sua boca.
Cuidadosamente, Rubens retira o copo da mão esquerda de Domenica e, mais cuidadosamente ainda, a mão direita dela das bolas do seu saco. Deita-a em posição fetal, garante que o cobertor a esteja bem envolvendo e se levanta da cama.
Mune-se de um daqueles copos de requeijão, cheio até quase transbordar de rum - era hora de bebida de bucaneiro -, e sai para a sacada, sem camisa, só de cuecas samba-canção, usufruir do inusitado frio. Que lhe recebe com agulhadas, querendo ofender e aviltar sua pele.
Rubens ri com desdém e se senta à beira do parapeito de granito, a mirar a cidade medrosa, que só dorme com as luzes acesas. 
Rubens dá uma boa talagada no rum, agora está pronto para ficar ali, duelar com Ymir. E pensar. Ou um pouco em Domenica, ou um pouco na vida, ou, de preferência, em nada, que é a isto que se presta o rum.

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4 Comentários

  1. Se no conto 26 não rola uma bela fincada, no 27 ela já se passou. Mas está ótimo! Mandou bem Rubão! Haha

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  2. Depois mando o endereço do Rubens pra você.

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  3. Respostas
    1. É sempre bom tê-lo por aqui. O Rubens anda sumido, mas, apesar de não garantir nada, vou ver se até o fim das férias escrevo um novo e inédito pequeno conto noturno.
      Abraço.

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