O Estado Padrasto

O blog recebe comentários de vários anônimos, alguns me visitam recorrentemente. Há um que eu chamo de o anônimo de Cristo, que vive me rogando praga, dizendo que vou queimar no inferno pelas minhas blasfêmias; outro, o pior deles, é o anônimo citador; e há um outro que, até um dia desses, eu conhecia apenas como o anônimo das correções, que vive de olho  nos meus textos e a corrigir meus eventuais deslizes ortográficos e gramaticais.
Há alguns dias, o das correções se identificou : Enrique. Disse-me ter lido uma notícia que julgou interessante, escreveu um texto sobre ela e me perguntou da possibilidade de publicá-lo aqui no blog, a título de colaboração. Claro que respondi positivamente, e, hoje, recebi seu texto, que colo abaixo, sem nenhuma modificação ou correção, embora ele bem que merecesse provar do próprio veneno.
Trata de algo cada vez mais comum nos dias de hoje, a interferência do Estado na vida particular do cidadão, sobretudo na criação e educação dos filhos.
Obrigado, Enrique, pela colaboração (e pelas eventuais correções), mande outros textos sempre que quiser.

Marretowski!
Tá pronto o texto. Vou ir colando aos pedaços aqui nos comentários.
Um homem desesperado: a notícia que não chegou
Li algo que me deixou perplexo por duas razões. Primeiro, pelo fato de eu, leitor de jornais online (Folha, Estadão, Globo, Diário do comércio), não ter visto nada a respeito em nenhum dos veículos que leio. 
De fato, pesquisando hoje, tampouco encontro nada nos jornais estadunidenses que costumo ler (Washington Post e New York times). Segundo, pelo próprio conteúdo do que li. O que escrevo aqui, para alguns, terá um pouco de "teoria da conspiração". Não me importo.
Fiquei perplexo porque não soube por meio dos jornais de maior circulação no Brasil que um homem ateou fogo em si mesmo, no dia 16 de junho de 2011, na frente da Corte de New Hampshire, EUA. 
Perplexo, porque os nossos jornais, com a sua tendência sensacionalista e fofoqueira, não deixa de informar-nos sobre a calcinha da atriz hollywoodiana X que apareceu, ou do divórcio do ator Y, de 60 anos, da atriz Z de 22 anos... e coisas do tipo. 
Mas o fato de um sujeito se banhar em gasolina e atear-se fogo, queimando até a morte na frente de um tribunal nos Estados Unidos, esse não ganhou qualquer menção, nem nas páginas de notícia "séria" (falarei que é uma notícia séria), nem nas de fofoca. 
Eu só soube do acontecido hoje (04-03-2012) por um acaso, porque um blog de feminismo me conduziu a um blog de machismo que tinha links para outros blogues de machismo e uma pessoa postou a notícia como fato probante de "perseguição" aos homens. 
Mas a notícia me surpreendeu tanto que fui pesquisar e soube até que umas pessoas foram ao funeral do suicida. O fato de a imprensa brasileira não noticiar a coisa me cheira muito mal - e aqui entro na minha parte conspiratória. 
Cheira mal -pior do que carne queimada-, porque os motivos do suicídio foram as condições morais e psíquicas a que um indivíduo foi levado por causa da ingerência do Estado na vida das pessoas, em sua casa, no seu casamento e na educação dos seus filhos. Recuso-me a acreditar que o fato não foi divulgado porque é "instrução" dada aos jornais não divulgar suicídios por isso poder dar a ideia a outras pessoas: não teríamos notícias sobre Columbine, Realengo, homens-bomba e outros casos se assim fosse. 
Não, não foi divulgado porque é uma clara demonstração da destruição da vida de uma pessoa que as políticas de Estado, cada vez mais interventoras, podem causar: a perda de contato com filhos e esposa, a pobreza, a loucura... o suicídio. 
Políticas de Estado que o nosso país está adotando cada vez mais, intervindo na escolha educacional dos pais para os seus filhos, no modo de repreensão que os pais utilizam para maus comportamentos etc.
O que aconteceu, pois? Que sujeito é esse, que ateou fogo a si mesmo? O nome dele era Thomas J. Ball. Os seus problemas começaram em abril de 2001, no dia em que ele deu um tapa no rosto da filha de quatro anos. 
A esposa dele pediu-lhe que saísse de casa naquela hora. Mais tarde, ele ligou para casa e soube que ela havia chamado a polícia, e que ele não poderia dormir mais em sua residência. No dia seguinte foi preso no seu trabalho. 
Para a sensibilidade de hoje parece um absurdo dar um tapa na cara de uma criança de quatro anos... desculpo-me, mas para a minha, é impossível imaginar a minha mãe sendo presa no seu trabalho por uma ou outra cintada que me deu quando eu a tirei do sério, simplesmente seria estúpido me privar da minha mãe aos 4, 5 ou 6 anos porque ela me deu uma cintada. 
Continuando, Ball foi preso no trabalho, e veio a saber mais tarde, que se a sua mulher não houvesse ligado para a polícia e um vizinho bisbilhoteiro o tivesse feito, OS DOIS, pai e mãe, teriam sido presos, sendo ela considerada cúmplice.
Ball, levado a julgamento, foi inocentado, mas a esposa já havia se divorciado dele então. Mesmo inocentado, ele foi proibido de visitar as suas crianças. Por conta do divórcio, Ball passou a ter que pagar pensão alimentícia, que, para sustentar ex-esposa e crianças, não deve ter sido pequena.
De 2001 a 2011 seriam dez anos de pensão, mas em junho de 2011 completavam-se dois anos desde que Ball estava desempregado. No dia seguinte ao seu suicídio -caso não o tivesse cometido- ele seria preso por não pagar a pensão. 
Durante anos Ball lutou contra a justiça para reaver o direito de ver as crianças. Em vão, porque no momento da denúncia e prisão em 2001 elas passaram a ser custodiadas pelo Estado (sim, ainda que a mãe quisesse permitir a Ball que visse as visse, caberia ao Estado decidir se ela poderia deixar que os encontros acontecessem), e o Estado Omnipotente, criador e interpretante máximo das leis, não permitiu. 
Ball deixou detalhados em uma nota de suicídio de 15 páginas toda a sua luta, uma pena que não a possamos ler, porque ele a enviou a um jornal que cobra assinatura pelo acesso (http://www.sentinelsource.com/news/local/last-statement-sent-to-sentinel-from-self-immolation-victim/article_cd181c8e-983b-11e0-a559-001cc4c03286.html). 
Sabemos do seu conteúdo indiretamente porque o autor de um texto intitulado "When the State Breaks a Man" (http://freedominourtime.blogspot.com/2011/06/when-state-breaks-man.html) o menciona. 
Nela, Ball diz que o seu suicídio deve servir de "faísca" para iniciar um incêndio, uma revolta de pessoas na sua mesma situação, que, mesmo inocentadas em julgamento, veem-se privadas da família e da convivência com os filhos.
O que tem isto tudo a ver com o Brasil, não é mesmo? Nada, ao certo. Só lembra vagamente a "lei da palmada", as sentenças que criminalizam pais que preferem o “homeschooling” (http://g1.globo.com/vestibular-e-educacao/noticia/2011/02/condenado-pela-justica-casal-de-mg-mantem-filhos-fora-da-escola.html) ao invés de escolas públicas que chegam a contratar "professores" reprovados em processos seletivos e, até, que sequer os prestaram (http://www1.folha.uol.com.br/saber/1053430-alckmin-chama-professor-reprovado-para-dar-aulas.shtml), entre outras bagatelas jurídicas que transferem ao Estado o poder sobre os filhos, que -antes da insanidade dos autointitulados sabedores do que é melhor para você e seus filhos- é legitimamente dos pais.
Ball era veterano de guerra, esteve no Vietnã. Além da filha aqui citada, deixou ainda outra menina e um menino. Quando cresçam, talvez venham a ter conhecimento sobre o modo como seu pai faleceu; resta saber qual a imagem dele que lhes será devolvida pela sociedade em que irão viver quando adultos: a de um homem descontrolado e um fora-da-lei ou a de um homem desesperado, enlouquecido pela própria lei. Creio que será a primeira.
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é isso aí, marreta!

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2 Comentários

  1. ô marreta, valeu por publicar, meu velho!

    deixei ainda passar algumas concordâncias duvidosas, hehehe. cobra morde o rabo!

    abração, meu velho!

    Enrique.

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    1. Eu é que agradeço, fique à vontade para enviar seus textos sempre que quiser.
      Abraço.

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