A Banalidade Do Raro

O Universo mapeado pelos astrônomos - que é infinitamente diferente de ser conhecido - tem aproximadamente 100 bilhões de galáxias, contando, cada uma, com uns 100 bilhões de estrelas, que podem ser orbitadas, cada um desses sóis, por uns tantos planetas.
Fazendo um cálculo modesto - e sujeito a erros literalmente astronômicos -, o número de planetas do Universo deve ser da ordem de dez elevado à vigésima potência.
É planeta pra caralho ! Não obstante, cada planeta per si é de uma raridade incalculável, único e irrepitível em suas peculiaridades, tamanho, massa, composição química, atmosfera, condições climáticas, durações do dia e do ano, formas de vida etc etc.
Cada planeta é uma verdadeira improbabilidade estatística, mas eles ocorrem, aos trilhões, trilhões e trilhões. O raro é o que há de mais corriqueiro no Universo.
A trivialidade do raro não para por aí, no macro. Em verdade, mais se intensifica no micro.
Um ser humano é evento ainda mais raro dentro do Universo de sua espécie, e com o potencial de gerar singularidades ainda mais improváveis.
Cada um de nós coloca metade dos seus 23 pares de cromossomos nos gametas - óvulos e espermatozoides; e podemos fazer isso de duas elevada à vigésima terceira potência (2*23, assim representado daqui em diante) maneiras diferentes.
Sim, uma única pessoa é capaz de produzir 2*23 tipos de gametas. Imensa cifra não bastasse, a fecundação é o encontro aleatório, ao acaso, de um espermatozoide e um óvulo. Considerando um único casal, o número de combinações possíveis em uma fecundação é dado por 2*23 (do espermatozoide) multiplicado por 2*23 (do óvulo).
Um único casal tem a possibilidade de gerar 2*46 tipos de zigotos - a primeira célula de todo ser vivo. É um número muito, muito, muito, muito maior do que todas as estrelas e planetas somados.
Trocando em miúdos, a chance de você ter sido você foi de uma em 2*46. E você, por sorte ou por azar, aconteceu.
Há, atualmente, 7 bilhões de eventos probabilisticamente improváveis empestando o planeta; isso levando em conta apenas a espécie humana.
Ser raro é regra no Universo, e não exceção como pensam alguns pernósticos afetados. Não há maior lugar-comum do que ser raro.
Ser raro não tem nada de mais, não serve para nada. Apenas para ocupar espaço, apenas para preencher o vazio. Do Universo e da vida.

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