Alain De Botton, Um Falso Ateu

Sou ateu. E ponto.
Não sou partidário, porém, do ateísmo, tampouco o defendo ou o promovo. Sou capaz até de, em certas circunstâncias, combatê-lo.
Que se crie uma doutrina em torno de uma crença, por mais ilógica que ela seja, e todas elas o são, tem, paradoxalmente, uma certa lógica.
Pode-se criar todo um sistema de pensamento para corroborar uma crença, ainda que tudo seja baseado em falsas premissas e estapafúrdias conclusões, mas se pode. E quanto mais sem pé nem cabeça for a doutrina, melhor ela "comprova" a existência de deus, já que a própria ideia de um deus bondoso e justo é a coisa mais sem pé nem cabeça que há.
Agora, criar uma doutrina - o ateísmo, no caso - em torno de uma inexistência, de uma ausência, de um nada, não faz o menor sentido. Chega a ser uma burrice maior do que a exibida pelos crentes.
Atualmente, há uma tendência entre certos ateus - os falsos ateus, que isso fique bem claro - de se unirem em torno de sua descrença. Encontros, reuniões, simpósios e congressos sobre ateísmo estão em voga.
Esses ateus moderados, que é como se autodenominam, querem ser amiguinhos dos crentes, querem contemporizar a celeuma, melhorar sua imagem junto à sociedade cristã.
Ateu moderado é o caralho! Ou o sujeito é ateu ou não é. Não tem meio-termo. O que seria essa porra de ateu moderado? O cara que acredita mais ou menos em deus? Ou que não acredita, mas não descarta a possível existência dele?
Não existe uma gradação para o ateu, uma escala que meça o ateísmo. O ateu é absoluto. Ou é um impostor.
Acima de tudo, o ateu, além de inteligente, tem que ser macho, tem que ter o saco roxo para assumir sua condição de descrente, tem que cagar e andar pra crentaiada, não pode estar nem aí com a imagem que se faça dele. No âmbito da fé e da descrença, não há lugar para a tucanaiada em cima do muro.
Não há ateu politicamente correto. Não pode haver. Ateu é radical. Ou é uma fraude.
O tal moderado é o cara que quer se fazer passar por ateu. Para criar uma aura de inteligência em torno de si, para se dar ares de intelectual, de livre pensador. Mas, na verdade, é um grande dum cuzão.
É o caso de Alain de Botton, filósofo suíço, que se declara um ateu moderado.
Autor do livro - vejam só o embuste - Religião Para Ateus, esse picareta diz que os ateus precisam aproveitar o que a religião tem de bom, como o estímulo à solidariedade e à aproximação entre as pessoas.
Ateu não quer se aproximar de ninguém, não quer se solidarizar com o mundo, nem salvá-lo pelo amor fraterno, ateu não faz festinha, ateu não quer fazer mais amigos do que os poucos que já tem, ateu não quer ter carteirinha do clube do Mickey.
Com vistas a seu objetivo, ele pretende organizar Santas Ceias para ateus, abrir um restaurante com o propósito de aproximar os descrentes. O restaurante é apenas parte de um projeto maior de Botton, um templo para ateus.
Ateus em um templo? Para adorar quem ? O próprio Botton?
Esse cara morre de vontade de virar pastor evangélico, ou de dar o rabo para um, morre de vontade de pagar um dízimo, de ser desencapetado, mas como é um intelectual, um filósofo, isso não faria bem para a sua imagem. Então, o cara se sai com essa farsa barata.
Sair por aí professando a doutrina do ateísmo, é fazer uma religião ao contrário. 
E eu estou fora de qualquer coisa relacionada à religião, mesmo que seja o seu oposto, que nada mais é, o oposto, do que uma imagem especular do objeto ao qual ele se contrapõe.
Ateu, sempre.
Ateísta, jamais.

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