Estado De São Paulo Paga Melhor A Aluno Que A Professor

Nas escolas estaduais do estado de SP, existe a malfadada HTPC (hora de trabalho pedagógico coletivo), que, em resumo, é uma reunião semanal com caráter pretensamente pedagógico entre coordenadores e professores, mas que não serve nem nunca serviu para nada na prática.
De uns tempos para cá - de um bom tempo para cá, aliás -, além de sua inutilidade, HTPC passou a ser também sinônimo de más notícias. E a da semana passada não foi diferente.
Fomos notificados da mais recente "inovação" educacional dos peidagogos de gabinete : o aluno-tutor.
Basicamente, essa excrescência consiste na escola detectar os alunos com médias boas em matemática - o que hoje não é difícil, pois as notas são dadas de graça pelos professores, que sofrem pressões das direções das escolas no sentido de uma aprovação em massa, para que essa farsa reflita em seus bônus de fim de ano - e os enviar para outras escolas do estado, onde irão dar "aulas" de reforço para alunos com dificuldades.
Primeiro que se o aluno tem dificuldade em certa matéria, ele precisa de um professor de reforço que seja até mais hábil que seu professor regular; depois que isso tira o emprego de muita gente com formação específica; finalmente, essa é a real intenção, derruba ainda mais o já baixíssimo nível da escola pública. É o analfabeto dando aula para outro analfabeto.
O aluno-tutor vai receber por isso. Receberá R$ 120,00 reais por mês, por duas horas semanais de "reforço". Feitas as contas, a hora desse aluno sairá em torno de R$ 15,oo. Eu estou há 15 anos no Estado, tenho dois adicionais por tempo de serviço (5% cada um) e mais 25% obtido numa prova de mérito. E minha hora/aula não atinge 15 reais.
O pior é que não há questionamento desse absurdo. Existem perto de 80 professores na escola onde leciono, apenas eu e mais dois nos pronunciamos contra. A maioria inclusive acha uma atitude boa, que incentiva o bom aluno. Burrice!!!
Até posso entender que diretores de escola, vice-diretores e coordenadores achem tudo isso uma maravilha, são imprestáveis burocráticos que não têm conteúdo nem pulso ou firmeza para encarar uma sala de aula e se refugiam nesses carguinhos, são paus-mandados do governo, pessoas desprezíveis que odeiam professores e fazem de tudo para ferrá-los sempre que possível.
Mas o triste é que o professor não atente e proteste contra isso; inclusive quem vai detectar o aluno-tutor é o próprio professor de matemática e, até onde estou vendo, com uma única exceção, eles estão fazendo isso de bom grado.
Nenhum desses imprestáveis burocratas têm filhos em escola pública. Será que se a escola particular onde seus filhos estudam lhes comunicasse algo semelhante, que seus filhos passariam a ter aulas com alunos, eles bateriam as palmas que batem? Estou ficando preocupado com eles, estão batendo tantas palmas que vão acabar ferindo as mãos, aí como farão para puxar os sacos?
A língua! Há sempre a redentora língua. Poderão lamber os sacos enquanto suas mãos se recuperam.
Em minha vida toda, nunca trabalhei com uma equipe administrativa tão tacanha e tão contra o bom professor, nem com um corpo discente tão frouxo. Chego a ter vergonha de dizer que sou professor de minha escola, medo de ser confundido com essa massa apática.
Acho que quando me perguntarem, daqui em diante, o que faço da vida, responderei simplesmente que sou funcionário público.
Mesmo que haja todo um folclore, um estereótipo do funcionário público preguiçoso, prevaricador e ineficiente, ainda é bem menos vergonhoso do que vem ocorrendo nas escolas estaduais de SP nos últimos anos.
Não estou exagerando. Podem acreditar.

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