Unindo o Vício ao Saudável

Se, em seu receituário, aviar-me, um dia, o esculápio, exercícios físicos regulares como terapêutica, prescrever que me torne um adicto de academias ou assemelhados, preferirei morrer da moléstia que padecer da cura.

Não tolero o ambiente narcisista e exibicionista - eu, que nada tenho a exibir e só acho bonito o que não é espelho - de uma academia. Aliás, de uns tempos para cá, depois da eclosão da minha sempre sobre cerrada e exaustiva vigilância síndrome do pânico, não tolero por muito tempo quaisquer ambientes por onde circulem e se reúnam seres humanos. Também não tenho a pachorra, tampouco a disciplina para atividades físicas cotidianas - aliás, para praticamente nenhuma atividade hoje em dia.

Não sou sedentário, contudo. Em meu favor, em favor da minha aceitável saúde, e digo da física, pois a mental já foi pras cucuias há tempos, tenho que não conduzo automotores. Não sou possuidor nem mesmo de CNH. Ando para cima e para baixo, mais que notícia ruim, mais que chapéu de mendigo na ventania. Para o mercado, para a padaria, para o trabalho, para levar a cachorra a passeio. Caminhadas que me auxiliam cardiovascularmente e com os níveis de glicose, colesterol, triglicérides etc. E são ferrenhas rivais da minha incipiente barriga, a qual elas mantêm, na maior parte do tempo, sob relativo controle. Ajudam a manter-me em  forma, as caminhadas. Em forma de tripa.

Em meu demérito, tenho que sou muito chegado a uma cerveja. Vezo que pode, bem sou ciente sou de, antecipar em alguns anos a minha descida aos sete palmos de terra e ao quinto dos infernos - como se eu tivesse ainda muita coisa o que fazer da vida... 

Mas de virtude e de bons hábitos também se morre; não eu, mas também se morre. Tenho um conhecido, talvez nem com 40 anos de idade, que quase foi se sentar ao colo do capeta em 2022. Passou meses de cama, todo engessado e estropiado em virtude (olha a virtude que mata aí) de uma colossal queda quando fazia um trilha de bike. Aliás, trilha, não : trekking. Que, hoje, ninguém anda mais de bicicleta : pedala a sua bike; e ninguém mais faz trilha, faz trekking.

Não tenho medo de morrer - pura verdade -, mas tenho pavor de como vou morrer. Se terei a sorte, uma vez que o merecimento não está em questão, neste caso, de morrer dormindo, ou se a definhar, apodrecer e a me cagar em um fraldão geriátrico.

Assim, estrategicamente, busco unir o vício ao saudável. Caminho um bom tanto para buscar minhas cervejas. Torno a compra parte de minhas caminhadas. Imponho-me uma caminhada como condição e como uma forma de disciplina para entornar minha cerveja.

Hoje, por exemplo, sabadão, dia de tomar umas já à hora do almoço, caminhei salutarmente rumo ao deletério. Três quilômetros e umas quirelinhas.


Aproveitando uma boa oferta de Lokal, fiz meu périplo matinal até uma loja da rede Atacadista Assaí, localizada na rodovia Castelo Branco. R$ 1,79 a lata de 350 ml. Isso é que é unir o vício ao saudável e ao barato.

Agora, é só saborear a Lokal em meu poderoso canecão, sem culpas, com as etílicas calorias já queimadas por antecipação. 


Ao fundo, o grupo 14-Bis e um dia gris. 

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3 Comentários

  1. O cidadão ficou com o o corpo trekkado, pois. Aqui onde moro tb está assim: um monte de asno fodido por esportes radicais e da moda. Um colega precisou de cirurgia devido a crossfit e dois se trekkaram fazendo trekking ou coisa parecida. Um deles investiu mais de 35 mil reais na magrela e quebrou a clavícula. Sim, 35 mil. Pensei que era muito dinheiro numa bicicleta. Mas então descobri outro aqui perto que pagou 60 mil na sua (é metido com política e "causas sociais", adora os pobres, então explica-se).

    Minha esposa estava nessa onda com as amigas. Tivemos uma conversa sobre o assunto e a convenci a vender a "bike", pois lhe disse que não tenho como criar nossa filha sozinho e que ela esperasse mais uns anos para se matar.

    Sobre a boa morte, é o sonho de todos. Meu sogro foi assim no ano passado. O véio era maluco. Aposentado, vivia enchendo a cara e dirigindo (entre vários Estados, aliás). Fumava duas carteiras de cigarro por dia e comprava o azuzinho escondido (mas todos sabia) na farmácia perto de casa, para ir aos cabarés atrás de puta pinga pus e aguentar a noitada. E teve a sorte de morrer enquanto dormia, devido a um infarto. Não tomava nem um analgésico. Tinha 70 e alguns anos.

    Vivo na briga com a balança. Então caminho um pouco (parei de correr, mas corria bastante) e faço academia regularmente.

    Abraços

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    1. Também acho um absurdo, isso de bicicletas cursarem mais que muito carro por aí, mas enfim...
      Rapaz, seu sogro era macho das antigas, hein, desses que não nascem mais hoje em dia.

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  2. Você é um cara feliz (sem se dar conta disso)! Faz caminhada, bebe sua cerveja sem culpa e ainda escreve seus textos com caneta e papel! Há muito tempo eu não saio mais de casa a pé, não tenho a sorte de gostar de cerveja e só escrevo no computador. Só tenho vícios e nenhuma saúde,. Prosit!

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