Bodas de Cristal

Vivo maritalmente desde meados de 2003. Até dezembro de 2008, no entanto, sem a chancela da lei dos homens - aos olhos da qual, eu vivia em concubinato - e também sem a benção da lei de Deus - aos olhos onipresentes da qual, eu vivia em estado de fornicação. Aliás, bons tempos, bons tempos... aqueles em que eu vivia em estado fornicativo.

Então, ao fim de uma tarde de um sábado chuvoso de dezembro, eu e minha esposa na sacada do apartamento a bebericarmos desde a hora do almoço, propus que oficialízássemos nossa união. Proposta aceita, a cerimônia foi levada a cabo em 10 de janeiro de 2009 - apenas no civil, claro.

Meu filho rebentaria ao mundo em 05 de outubro de 2009, quase que exatos nove meses depois do casório. Minha esposa diz que ele é conservador, caretão, tem alma de velho (e de velho chato), pois há quase um ano ela vinha tentando engravidar e ele só "resolveu" nidificar depois de tudo formalizado, de tudo passado para o papel. Ele, meu filho, é meio conservador sim (sem que ninguém o tivesse instruído por esse caminho) e não tem alma de velho, tem metade do meu DNA.

Mas eu, que sei e me recordo de tudo quanto é data cívico-comemorativa,  não me lembro dos aniversários nem do meu pai ou da minha mãe, nem do meu irmão ou da minha irmã, nem dos dos meus pouco amigos. Mesmo a data do meu, muitas vezes, é pelos outros que acabo por saber.

Iria, então, eu, lembrar-me da data do meu casamento oficial? Inda mais que um casamento que há muito já existia, que foi mais uma decisão racional, pró-forma, mais no sentido de assegurar e facilitar aspectos legais, sem a menor relevância no campo sentimental.

Não obstante, minha esposa, pessoa muito mais normal que eu, lembrou-se : - Faz quinze anos hoje que a gente casou, hein? Fiz as contas : de fato.

- Quinze anos são bodas de quê? - perguntou.

Ato reflexo, respondi : - de rubi. Sei lá de onde tirei a porra dessa resposta, sei lá de que campo morfogênico ou de que banco de dados do inconsciente coletivo chegou-me tal informação. Só sei que a rubra gema surgiu na minha cabeça imediatamente após a pergunta.

- Mas confirma aí no Google - eu disse.
- Se for de rubi, você vai ter que me dar um presente com uma pedra de rubi.
Me fudi, pensei eu.

Não era. Eram bodas de cristal. As de rubi correspondem a 45 anos de casados. Errei por 30 anos. Nunca chegarei a elas. Nem a mais 30 anos de vida.

- São bodas de cristal, então, você vai ter que me presentear com um objeto de cristal.
Aí, ficou fácil pra mim. Pus até um laçarote vermelho.


Alguma chance da boda ser celebrada com um sexozinho? Pouco provável.

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6 Comentários

  1. Rapaz, minha mulher e eu comemoramos bodas de rubi em 2020! Daqui a dois anos, se eu ainda estiver respirando, comemoraremos bodas de diamante. Mas bodas e cristal é ótimo motivo para comemorar e até bebemorar (esta é velha). E tem mais: segundo o Google a energia dos cristais pode ajudar na limpeza energética dos ambientes e até auxiliar na saúde (litoterapia). Só não consigo imaginar como é possível tirar a poeira dos móveis se arranhá-los.
    Parabéns!

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    1. Cinquenta anos de casório não são bodas de ouro?
      Quanto à renovar a energia, eu só acredito nos cristais de tadalafila!
      Valeu!

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  2. Tem razão! O cérebro está rateando. E sildenafila também é bom.

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  3. Parabéns, Marreta. E vai economizando para comprar o anel com o rubi!

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  4. Vc realmente é um rapaz de ouro....tenho certeza absoluta q se derreter o sr da o anel.....

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