Férias Frustradas em Olímpia

Olímpia, SP. Uma cidade de merda. Uma biboca de município. Porém, de suas entranhas, brotam águas geotermais, em torno das quais foi erigido todo um complexo turístico-hoteleiro e dois grandes parques aquáticos, o Termas dos Laranjais e o Hot Beach.
Parque aquático : piscinas, tobogãs, sol e, o pior, gente. Muita gente. Gordas e gordas às mancheias, a caminhar feito hipopótamos de sungas e fios-dentais. Para cada 50 barangas, uma gostosa - e isso se você tiver sorte.
Crianças correndo e se atirando às águas feito tritões possuídos pelo demo. "Música" ao vivo a plenos alto-falantes. O Luan Santana é o Tom Jobim do local, o suprassumo do refinamento e do bom gosto.
Cerveja a preço de zona. E sem as "meninas" pra divertir. 
Parque aquático: um inferno de água e cloro ao invés de lava e enxofre.
E não é que, ontem, eu me pego numa arapuca dessas?
Quando em férias,  ao contrário de mim, minha esposa gosta de viajar, de dar uma arejada, e fizemos boas viagens graças ao expediente e à iniciativa dela de, pacientemente, arrastar-me para fora de minha inércia.
Contudo, de 2018 para cá,  viagens com mais se 3 ou 4 dias de duração tornaram-se impraticáveis para todos nós juntos.
Com duas gatas velhinhas, com quase 16 anos cada uma, que requerem cuidados constantes e medicações quase que diárias, inviáveis ausências maiores. Quando elas eram mais novas e sem problemas de saúde, não havia grandes problemas, era só deixar uma caixa de areia a mais e reforçar os suprimentos de água e ração. Acho que elas até gostavam de "dar um tempo" do convívio humano.
Para complicar a questão das viagens, em dezembro passado, chegou a caçula da família, a cadelinha Pandora. E cachorro é uma outra história. Gato é fodão. Cachorro é pet. Nada têm de independentes; ainda mais uma filhotona com um "pai" de coração mole feito eu. São mais carentes, gostam do contato com gente. Impossível deixar Pandora por um dia sozinha, mesmo que em companhia das gatas, que cagam e andam pra ela. Algumas horas sozinha e ela já começa a roer as patas.
Minha esposa, então, acho que até mais pelo meu filho, para que ele não passe as férias todas trancado no apartamento, e mesmo por mim, para tentar me distrair dessa depressão (esforço dela que eu agradeço profundamente), propôs-me a seguinte viagem : (quase) três dias em Olímpia - entrada no hotel às 14h de quarta-feira e saída ao meio-dia da sexta. Hotel com acesso ao parque Hot  Beach. E pet friendly, ou seja, tem quartos e áreas comuns onde cães são permitidos.
Olímpia, SP. Uma birosca de cidade. Exceto pelos parques aquáticos, nada mais a se ver ou a se fazer na cidade. Nada. Picas. Porra nenhuma
Ela propôs a viagem e, prova de meu absoluto desatino atual, eu topei. Até albino gosta mais de sol e piscina que eu, mas eu topei.
Logo depois de nos acomodarmos, e às nossas tralhas, no quarto do hotel, fui com meu filho ao tal parque. A esposa ficou no hotel, a descansar da viagem (ela é quem dirige) e a fazer companhia pra Pandora, pois o hotel é amiguinho dos pets, mas o Hot Beach, não. 
Consegui aguentar por duas horas no parque, durante as quais meu filho se fartou em suas atrações, sempre sob a mira do meu olhar, vigilante, aflito, angustiado. 
De resto, nada mais a comentar sobre o lugar que eu já não o tenha feito no início da postagem, a não ser uma coisa : observando aquele cenário dantesco, cheguei à conclusão de que o planeta precisa, urgentemente, de uma outra pandemia, de um outro lockdown global. Pelo menos, eu preciso.
Voltei ao hotel com um irrevogável decreto marital, proferi-o à esposa : amanhã, você vai ao parque com ele, e eu fico com a Pandora.
E assim se deu. Hoje, tomamos o café da manhã, eles embarcaram para o parque e eu fui bater patas com a Pandora. Para ela se aliviar de suas necessidades fisiológicas e eu tentar achar uma banca de revistas e comprar um caderno de palavras cruzadas. 
A Pandora cagou e mijou; eu, cagado como sempre, não encontrei sequer vestígios de uma banca de revistas, só lojinhas e mais lojinhas com toalhas, biquínis, capinhas à prova d'água pra celular e outros artigos de banho.
O que resta para alguém, numa cidade estranha, à espera da mulher e do filho num quarto de hotel e que não gosta de piscinas e tobogãs?
Entornar.
Como disse o insuperável Paulo Francis : "Intelectual não vai à praia. Intelectual bebe". Embora, eu acredite, Francis nunca tenha posto os pés num parque aquático, creio que o seu axioma possa ser estendido a eles, também. 
Entornar e escrever. E ouvir boa música. 
Belchior, Monarco, Oswaldo Montenegro, Barão Vermelho, Adoniran Barbosa, Maria Bethânia, Marisa Monte, Ney Matogrosso etc no pen drive metido na caixinha de som e uma Lokal "trincando" de gelada num copo de plástico do parque aquático Hot Beach. Ainda se fosse Hot Bitch...
Pããããããta que o pariu!!!!!

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4 Comentários

  1. Gostei muito do seu texto, com a boa ironia de sempre, mas estou sem gás para fazer um comentário mais alegre, mais solar. Porque beach rima com sol. Já bitch rima com noite (Paula Tejano)

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    1. Pau Latejando.... És o rei dos trocadilhos.

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    2. Mas se não tem comentários, não tem problema. Paula traz!

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    3. Faltou Paula Tejano mandar um salve para os amigos: Kiko, Zinho, Branco e Lindo.

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