Rubens e Yrina.
Hoje. No passado. No porvir. No que já feneceu. No que nunca virá. No que nunca respirará. No que nunca expirará. No que nunca resplandecerá em pirâmides. No que nunca mumificará.
Ambos única singularidade. De uma explosão. De um novo Universo.
Rubens e Yrina.
Conversam, riem, brincam com as decrepitude e falência um do outro, escutam músicas antigas, bebem da bebida púrpura, fantasiam-se de coringas, fodem gostoso.
(4 x 1 para Yrina, e Rubens feliz em ter levado tal goleada).
Rubens e Yrina.
Deitam-se. Yrina faz de travesseiro o ombro ossudo de Rubens (ainda assim, mais confortável não lhe seria a mais leve paina, a mais cadavérica pena de ganso); Rubens, de travesseiro, o ventre, o umbigo, a proximidade com a vulva peluda de Yrina.
Rubens e Yrina.
Descansam cada qual na rede pênsil do cansaço do outro. Tomam fôlego cada qual na falta de atmosfera do outro. Ressuscitam em um boca a boca de suas almas. Ambos salva-vidas e afogados.
Rubens e Yrina.
Conversam de novo, riem, brincam num parque de diversão só deles, entornam outra garrafa de vinho, escutam mais músicas antigas, e quando ambos - ela pantanosa; ele monolítico menir - estavam prontos a de novo foder (Rubens com intenções de entrar-lhe pelo cu), Yrina repara que Rubens, vez ou outra, franze os olhos, força a vista, tanto para vê-la melhor quanto para olhar objetos mais distantes.
Quando ambos - ela lodaçal, ele obelisco -, estavam prontos a de novo foder (Rubens não vendo a hora de romper-lhe pelo cu), Yrina, lembrando-se da visão já há tempos fraca de Rubens para perto e já a fraquejar também para o remoto, pergunta se não lhe causava incômodo, mesmo até certa aflição, não vê-la de forma cristalina, em HD, como no passado, não ver com nitidez de detalhes e texturas cada cílio dela, cada cravo no nariz, cada pelo encravado pela depilação sem cuidado do buço, sovaco e pernas, cada tubérculo de Montgomery de seus mamilos, de seus grandes peitos.
Rubens responde que sempre a vê nos mais perfeitos detalhes, se já não pelos olhos da face, pelos da memória, que sempre a enxerga na mais precisa exatidão, ainda que glaucomatoso, ainda que voluntário Édipo.
Que não precisa enxergá-la em alta definição, em 4k, 8k, 16k, para vê-la, para sabê-la, para saber que ela também o vê, para ver que ela também o sabe, para sê-la, para ela o ser, cada um ventre e rebento do outro.
Que não precisa de seus óculos para detectá-la com apuro no espectro do visível, do ultravioleta e do infravermelho, no do audível, dos ultrassons e infrassons, em todo o espectro do que é farejável, do que é táctil.
Yrina, então, sorri. Até com suas orelhas, ela sorri,
E de olhos fechados, com as luzes apagadas, eles fodem de novo.

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