Uma manchete do jornal "Folha de São Paulo", a respeito da nomeação do ator Mário Frias para a outrora cobiçada e hoje maldita Secretaria Especial da Cultura, causou mais furor, controvérsia e indignação por parte de alguns setores do que a própria escolha do galã ex-Malhação em si.
Uma vez que intenção da reportagem era criticar a escolha do intrépido Bolsonaro para a pasta, e contando a Folha com competente e tarimbada equipe de jornalistas, havia - dizem os críticos da matéria - inúmeras outras maneiras de fazê-lo, diversas outras abordagens que expusessem os pontos fracos do novo nome da Secretaria Especial da Cultura. A Folha, porém, optou por embasar a sua discordância fazendo uma associação entre a imagem pregressa de Mário Frias e o seu futuro desempenho no cargo que lhe foi confiado agora, em 19 deste mês.
Chamando Mário Frias de O Novo Homem do Presidente, a manchete, que foi capa do caderno Folha Ilustrada, ficou assim :
A reportagem foi criticada por muitos, em vários de seus aspectos.
1 - Por ser sexista. Busca objetificar a figura masculina de rostinho bonito e bumbum roliço do ator para prendê-lo e limitá-lo dentro de um rótulo, de uma embalagem. Se fosse a mesma manchete, o mesmo enfoque, uma foto em pose semelhante de uma atriz gostosa que, em lugar de Frias, pudesse por ventura ter sido nomeada ao cargo (claro que não estou a dizer da Regina Duarte), as feministas suvacudas e do grelo duro já teriam invadido a redação da Folha, capado o autor da reportagem, tacado fogo em tudo e aproveitado a fogueira para queimar uns sutiãs.
2 - Por ser preconceituosa. A partir da objetificação e do rótulo impressos ao ator, a Folha não só infere que a beleza é seu único atributo como também estabelece que ela é um impeditivo para um competente desempenho do ator em outras funções. Cai no velho clichê de que um rostinho bonito e um bumbum torneado não possam ser dotados de outros predicados nem que possam ter êxito em outros âmbitos de atuação. Preconceito não apenas em relação à atuação futura de Frias na Secretaria Especial de Cultura, mas também em relação ao seu trabalho anterior e ao seu público. Ao dizê-lo tão-somente, e em tom depreciativo, ex-ator de Malhação, a Folha expõe seu preconceito contra a série - tomando por um subproduto televisivo e relegando à insignificância um programa que perdura por décadas - e contra o público jovem que a assiste - tomando-o como subculturado.
3 - Por ser homofóbica. Ao estampar a foto do ator como manchete e chamariz para a matéria, foto em que ele está de bruços, com uma almofada sob o rosto, pronto pra morder a fronha, bumbum ligeiramente empinado, pronto para a acoplagem, e um sorriso maroto e guloso nos lábios, a matéria sugere explicitamente uma possível homossexualidade do ator, como se tal orientação sexual, se fosse o caso, de novo e igualmente à sua beleza, pudesse ser um impeditivo para o cargo que passou a ocupar. Mais : a pose de boiola e mais o título O Novo Homem do Presidente buscam insinuar uma relação homoerótica entre Mário Frias e Bolsonaro. E cai, novamente, num dos mais antigos chavões do mundo : o do teste do sofá. Quando uma mulher bonita chega a elevada posição em uma empresa, ou quando uma atriz gostosa consegue o protagonismo de uma importante produção, vem a inevitável pergunta : para quem ela está dando? Com quem fez o teste do sofá? Mário Frias tem um rostinho bonito, bumbum empinadinho, fez ensaios fotográficos bichosos e nada em seu currículo evidencia que ele possua as qualidades necessárias para ser Secretário da Cultura. Como foi que ele chegou lá ? - parece perguntar a reportagem da Folha. Deu para quem? E isso tudo bem na semana, ou no mês, sei lá, do orgulho LGBT. Que coragem, a do autor da manchete. Que ousadia. Fazer piada de bicha bem na semana do orgulho arco-íris. Curioso... também não vi, até agora, nenhuma liderança LGBT reclamar da insinuação da homossexualidade do novo Secretário com vistas a questionar sua competência para a função.
4 - Por ser chula e apelativa. Por se valer de elementos de cunhos erótico e sexual para atrair o leitor e levá-lo ao conteúdo principal da matéria. Manchete própria de tabloides sensacionalistas da imprensa marrom. Lembrou-me muito das antigas manchetes do extinto pasquim "Notícias Populares" : "Broxa torra o pênis na tomada", "Assassinado alisando os seios da mulher alheia", "Nasceu o Diabo em São Paulo", "Sai a tabela do sexo em real", "Bozo era movido a cocaína na TV", "Loira-Fantasma faz sua primeira vítima em Osasco", "Fazendeiro é pai do bebê-diabo", "Disco-voador colidiu com ônibus na BR-116", "Mulher deu à luz a uma tartaruga", "Treta por rabo de saia termina em tiros", e por aí a coisa ia.
Sem dúvidas. A manchete da Folha de São Paulo é sexista, preconceituosa, homofóbica e apelativa.
E engraçada pra caralho!!! Adorei!!!! De verdade!!!
Trouxe de volta (ainda que por pouco tempo, pois tenho certeza de que a cabeça do autor já rolou) o humor jornalístico das décadas de 1970 e 1980. Há tanto banido de nossos periódicos pelo canalha do politicamente correto. Trouxe de volta a gaiatice, a travessura e o viés do duplo sentido tão típicos, peculiares e caros à formação da personalidade do brasileiro. Trouxe de volta a sacanagem sem maldade e a malícia brejeira, que são parte inextirpável de nosso patrimônio cultural imaterial. Insuflou com novos ares, ainda que momentânea e fugazmente, o atual jornalismo sisudo e engessado. Feito o Coringa do Batman, a manchete da Folha pergunta : Por que tão sério?
Repito : gostei pra caralho!!!
Para finalizar, deixo aqui meus parabéns ao autor da genial manchete. E também um agradecimento especial : por ele não ter tido a mesma ideia quando da nomeação de Damares Alves para ministra do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.
Pãããããããta que o pariu!!!!
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