Professores acumulam livros. Mais do que mullheres, sapatos. Professoras acumulam livros e sapatos. Ganhamos livros de editoras, tomamos livros emprestados ou os compramos em sebos e feiras do livro. Igualmente aos sapatos das mulheres, a maioria deles nunca é usada, lida. Vamos amontoando-os em armários, vamos relegando-os ao esquecimento e à naftalina.
Mas chega o dia, por mais que nos doa e tenhamos protelado, em que se faz inescapável a desocupação daquele espaço - ou isso, ou a esposa nos pede o divórcio; e divórcio dá mais trabalho, dá mais chateação, custa caro, é mais burocrático. Além do quê, em nosso íntimo, sabemos mesmo da necessidade de liberação daquele espaço improdutivo. Para que, futuramente, pouco a pouco, vá sendo de novo ocupado por novos livros, que também nunca leremos.
O que fazer com os livros nesta tão difícil hora do desapego? Jogá-los às ruas?
Dói no coração do professor das antigas jogar livros à lixeira ou mandá-los para a reciclagem, virarem guardanapo, papel higiênico, ou, pior, embalagem chique e politicamente correta para cosméticos ou chazinhos orgânicos, autossustentáveis e biodinâmicos. Aos professores das novas gerações, o que dói é ter que trocar o chip do celular e perder os dados do antigo.
Assim, na escola em que leciono, é comum que o professor, ao fazer a limpeza de seu armário de livros, leve o excedente para doá-lo à biblioteca da escola. Porém, antes que os volumes sejam catalogados, tombados e perfilados em seus lugares nas estantes da biblioteca, de onde não serão jamais retirados e lidos, tal e qual no armário do professor de onde saíram, é meio que de praxe que eles sejam oferecidos antes aos outros professores da casa. Os livros ficam expostos à apreciação na mesa da sala dos professores e cada um pega o que lhe for de algum interesse ou utilidade.
Em uma dessas desovas de livros, peguei uma edição em capa dura de 1001 Plantas & Flores, da Editora Europa, que, como o título sugere, traz belas fotos de 1001 espécies de plantas, divididas em várias categorias para melhor consulta : árvores e arvoretas (lembrei da piada do camelô que vendia bolsas, bolsinhas e bolsetas), arbustos, orquídeas e bromélias, cactos e suculentas, trepadeiras, plantas aquáticas, samambaias e outras.
O livro traz informações bem úteis e legais sobre cada uma das espécies retratadas : sua classificação biológica, se é planta de sol ou de sombra, quantas horas de luminosidade deve receber por dia, se é de clima quente ou frio, o tipo de solo que lhe é mais favorável, o número de vezes que ela dever ser regada por semana, se é frutífera, se é tóxica etc. Também mostra a forma de propagação de cada uma e em como obter ou confeccionar mudas; instrui, ainda, no combate às pragas mais comuns dos jardins.
Um livro bonito e, no mínimo, interessante, mesmo que você não tenha um jardim. Um livro que você pode ler com o mesmo descompromisso com que assiste a programas de culinária e suas receitas fantásticas, que você nunca vai fazer. Um livro para folhear quando a programação da TV não lhe agradar, ou enquanto você espera as necessárias 48 horas para uma nova ereção. Um livro para se distrair no banheiro, enquanto dá aquele cagote mais demorado, aquele em que você tem que se empenhar em demorada negociação com o cu para que ele libere os reféns.
Se você tiver um jardim, uns canteirinhos, feito eu tenho, melhor ainda. Sim, tenho o meu jardim. Seco, áspero e desesperançado. Uma estante vertical de madeira de 1,80m x 0,60 m escalonada em cinco patamares, cinco prateleiras. É o meu Jardim de Darwin, onde só os fortes sobrevivem, uma vez que escaldado diariamente pelo inclemente sol da tarde. É um jardim onde os fracos não tem vez. Composto de 50 tons de verdes-acinzentados. Apenas plantas suculentas e cactos. Ou plantas que, antes de ler o livro 1001 Plantas & Flores, julguei que fossem todas cactos.
A maioria até são cactos. Mas descobri que um deles não pertence à sofrida família das cactáceas. Que um deles, não obstante o seu perfeito disfarce, feito de caules armazenadores de água e guarnecidos por espinhos, é um farsante, um impostor, um denorex, um parece mas não é. Que ele é, na verdade, um agente infilstrado da família das Euforbiáceas. A mesma à qual pertencem, a exemplos bem conhecidos, a coroa-de-cristo, a bico-de-papagaio (aquela usada em decoração natalina) e o nosso orgulho nacional, a nossa idolatrada salve salve a mandioca; tão louvada em verso e prosa pela nossa ex-presidanta (e eterna anta) Dilma Rousseff.
O embusteiro de meu jardim, agora devidamente desmascarado, atende pelo nome de cacto candelabro. Você já deve ter visto muito dele por aí, e também ter sido enganado por ele.
Parece-lhe, de fato, um cacto, né? Como diferenciá-los, um cacto de uma eufórbia? Como não comprar gato por lebre?
O livro também dá dicas a este respeito. Primeira : além dos espinhos, as eufórbias possuem também pequenas folhas, ao contrário de um cacto verdadeiro. Segunda : nos cactos, os espinhos nascem e se irradiam de pontos específicos no caule, chamados aréolas; nas eufórbias, os espinhos nascem diretamente do caule e em toda a sua extensão. Terceira : os cactos tem flores grandes, coloridas e exuberantes; nas eufórbias, quando elas ocorrem, são reduzidas e pouco chamativas. Quarta e a mais infalível : se arrancarmos um ramo ou uma folha de uma eufórbia, ou fizermos uma pequena incisão em seu caule, deles escorrerão uma resina branca e leitosa, o que não ocorrerá se fizermos o mesmo com um cacto.
Faça o teste. Se você tiver em casa um canteiro com coroas-de-cristo, ou um vaso com bicos-de-papagaio, arranque uma de suas folhas ou fenda-lhes o caule, e você verá o leite brotar. Faça o mesmo se tiver um cacto, e verá que nada dele escorrerá. Se você tiver um quintal maior e nele houver plantado um pé de mandioca, melhor ainda. Vá lá, mexa na mandioca e verá a imensa quantidade de leite que dela emanará.
Aproveito o ensejo para deixar aqui a minha dica - como se eles já não soubessem disso - para os vegetarianos, veganos e outros antílopes e gazelas : fartem-se e labuzem-se de leite de mandioca! Uma vez que se autoproíbem do consumo de leite de vaca ou de qualquer outro animal (que dó eu tenho do marido de uma vegana...), os veganos dizem que o substituem pelo leite de soja.
Mentira! Conversa pra boi dormir! Eles entopem-se, sim, é de leite de mandioca! Adoram ordenhar uma mandioca! Já eu, tenho intolerância a este leite!
Pãããããããããta que o pariu!!!
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