Pequeno Conto Noturno (81)

- Rubens... - diz Wanda se largando e se esparramando de bruços na cama, solta da pressão das mãos dele em suas ancas e liberada da sua posição de quatro depois que ele gozara e mantivera o pau dentro dela até ele murchar e escorregar naturalmente para fora - ... estamos nisto tem um tempo, uns dois meses, eu venho aqui no seu apartamento, a gente não sai pra lugar nenhum, eu não conheço nenhum amigo ou parente seu, você nenhum amigo ou parente meu... nós temos futuro?
Rubens se deixa desabar na cama ao lado de Wanda, deitado de barriga para cima. Alisa o pau, espalha e combina as gosmas dele e de Wanda. Leva os dedos ao nariz, aspira-lhes o aroma, sabe-lhes o bouquet, que meter o nariz em taça de vinho é coisa de viadinho. Leva os dedos indicador e médio à boca. À sua e depois à de Wanda, à sua, à de Wanda.
- Temos, Rubens - volta a perguntar Wanda -, temos futuro?
Rubens beija Wanda na boca. Na boca de cada um deles, o gosto dos dois.
- Olha - começa Rubens -, se eu disser que não e você se sentir ofendida ou magoada e se levantar, se vestir, calçar os sapatos, pegar a bolsa na mesa da sala, dar uma ajeitada nos cabelos no reflexo da tela da TV e se ir porta afora, ainda assim teremos um futuro. Um futuro que durará o tempo entre minha resposta que a desgostou e o momento em que você bater a porta às suas costas.
Se você tivesse resolvido antes ter ido até a cozinha, voltado com um latão de cerveja para cada um e ao fim deles feito a mesma pergunta, e minha resposta fosse o mesmo não, igualmente teríamos um futuro, um pouco maior que anterior, o tempo de termos secado as cervejas.
Se fosse tivesse decidido que faria meu pau subir uma terceira vez, que dormiria aqui esta noite e somente pela manhã me fizesse a pergunta, teríamos um futuro. Se esperasse mais dois meses para me perguntar, teríamos um futuro.
Aliás, já tivemos um futuro. Desde o instante em que você me fez a pergunta até agora, quando estou terminando de respondê-la.
- Mais um latão, ou todos o quanto houver na sua geladeira, me parece uma ideia excelente agora, necessária - diz Wanda.
Wanda se levanta e vai toda bunda porta do quarto afora, e volta toda peitos e folia no matagal porta do quarto adentro. Um latão em cada mão.
Senta-se na cama de frente para Rubens, com as pernas cruzadas. Rompe o lacre da sua cerveja, fazendo-a chiar.
- Tá de sacanagem comigo, é Rubens? Acho que você não entendeu a pergunta ou tá dando uma de sonso - e vira uma boa golada.
Rubens também rompe o lacre da sua, entorna até a metade.
- Entendi muito bem a sua pergunta - e suga o mamilo esquerdo de Wanda com a língua gelada de cerveja.
- Entendi sim a sua pergunta. Você é que não fez a pergunta que pensa ter feito.
- Só perguntei se a gente tem futuro, só isso, simples, puta merda.
- Não, não me perguntou sobre o futuro; até porque, sobre ele, eu já lhe respondi. Me perguntou sobre a eternidade.

Postar um comentário

4 Comentários

  1. Rubens se esquiva facilmente dos questionamentos através de um raciocínio elegante e filosófico. Exemplar, o Rubens. Nesse caso, também a Wanda.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Como se dizia antigamente, Rubens é mais liso que bagre ensaboado.

      Excluir
  2. Quisera eu ter lido essa peça de sabedoria uma década atrás. Teria mantido por tempo indefinido muitas trepadas de qualidade.

    ResponderExcluir
  3. Kkkkkkkk
    O molejo e bom uso das palavras traz bons resultados.

    ResponderExcluir