BOM-DIA

O dia só acende a luz
Só rasga as cortinas
E nos fura os olhos.
E cada um que se ajeite
Em seu a esmo
Em sua cegueira.
Cada um que providencie a própria bengala branca
Seu par de óculos escuros
Sua sanfoninha e sua cuia de esmolas.

Dar vivas, então, a cada novo dia, por quê?
Saudar o dia com bons-dias de comercial de dentifrício, qual o quê?
Pôr-me banhado, aprumado, bem barbeado às vistas e à apreciação do dia, sem o quê?

Encaro-o de igual para igual : sem vontade.
Torno-me seu mais idêntico univitelínico
Sua melhor superfície refletora
Seu mais fiel regurgito :
Saio despenteado, barba malfeita, café mal tomado, puído, encardido, solas furadas, vistas cansadas (não exatamente de ver, mas do que veem), estômago revirado e humores e hálito dos infernos.

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