Será Arte?

Volta e meia, eu expresso aqui os meus apreço e admiração pela tal arte moderna ou contemporânea. Ironizo, desanco, faço chacota, marreto. Claro que exagero muitas vezes. Maldosamente, estereotipo-a, canalhamente, caricatuarizo-a, dou-lhe ainda menos importância do que ela tem. Até porque esse é o objetivo do blog, achincalhar.
Mas é claro que não sou tão intolerante para com a arte moderna como posso, muitas vezes, fazer supor. Entendo perfeitamente que ela é uma linguagem, mutável e moldável ao seu tempo e à sua época, feito qualquer outro tipo de linguagem, as línguas escrita e falada, a exemplos.
Mal comparando, a arte acadêmica e puramente figurativa é a norma culta da língua, é a língua usada pelos escritores, pelos literatos, é a língua falada nos grandes saraus. A arte acadêmica é o dicionário e a gramática, é a palavra pensada, é a vírgula ponderada, é a concordância cinzelada, a regência esculpida.
A arte moderna é (são?) as gírias, os neologismos, os estrangeirismos canibalizados. A arte moderna é a palavra dita como ferramenta, como instrumento de sobrevivência, dita nos curtos espaços entre o verde e o vermelho de um semáforo, de cada mastigada no fast food almoço nosso de cada dia, no intervalo laborial para o cafezinho e maledicência da vida alheia.
A arte moderna é a linguagem coloquial, cotidiana, é a língua escrita e falada pelo vendedor ambulante, pelo taxista, pelo varredor de rua, pelo motoboy, pelo torcedor nos estádios de futebol, pelo maconheiro, pelo favelado, pelo aluno semianalfabeto. Com tanto poder de comunicar e se fazer entender - talvez até mais - quanto a norma culta, e igualmente merecedora de espaço e reconhecimento.
Não obstante todo esse meu entendimento acerca das esquisitices da arte moderna, alguns artistas conseguem minar qualquer complacência ou boa vontade que eu possa ter. Por exemplo, o autor da obra abaixo.
A obra é isto mesmo que você está vendo. Uma página quadriculada de agenda com uns triangulinhos pintados. Não é uma tela imitando uma folha de caderno, é uma folha de caderno, mesmo, de 15,5 X 21,5 cm. Com direito a rebarbas e tudo.
A obra, a aquarela homes (homenols), parte da série Lichtzwang, de valor inestimável para a humanidade, é do espanhol Daniel Steegmann Mangrané, que exige que elas sejam expostas exatamente assim, sem moldura nem nada, e são presas à parede com fitas adesivas, o famoso durex.
Leonardo da Vinci jamais imaginou tal código matemático e hermético, Van Gogh, de inveja, deceparia a outra orelha, Rubens, Caravaggio e Rembrandt estão afoitos para reencarnar e se tornarem adeptos e aprendizes de Mangrané.
E a obra, pasmem, foi surrupiada da 30ª Bienal de São Paulo. Puta que o pariu!!! Vai ver que o cara precisou de um pedaço de papel pra anotar o telefone da biscate e pegou o que estava mais à mão.
Falando sério, quanto, de verdade,  pode valer um troço destes? Quanto alguém pode se dispor a pagar por isto?
Peguei uma agenda que tenho aqui, com umas folhas quadriculadas no final, e já desenhei várias obras iguaizinhas a essa. Creio que acabei de encontrar um meio de ganhar uma grana, tornar-me-ei um falsificador internacional de artes. O meu ficou igualzinho, até a disposição das rebarbas. Caso os organizadores da Bienal queiram repor a obra, a um preço bem módico, é só contatar a Marreta.
Para maior garantia, o artista aceitou que fossem instalados vidros de proteção nos trabalhos. A segurança ao espaço reservado à Lichtzwang também foi reforçada, de acordo com a Bienal.

Em tempo :  alguém acreditou mesmo nessa lenga-lenga de arte acadêmica/norma culta da linguagem e arte moderna/fala coloquial? Eu, não. E aquela parte, então, em que eu digo dos estrangeirismos canibalizados, em que eu digo que a fala do idiota merece igual espaço que a do culto? Puta que o pariu!!!! Vocês não acreditaram, acreditaram? Não me decepcionem, meninos e meninas.

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