O Triste Talento Do Camaleão

Não quero que meu filho - hoje, sem saber da vida, apenas a sentindo, vivendo-a - faça uma universidade.
Corrijo e melhoro : não quero que meu filho TENHA que fazer uma universidade, que seja OBRIGADO a, que PRECISE, por falta de talentos outros, cursar uma universidade.
A universidade é o caminho digno e honesto a uma vida minimamente tranquila e confortável; para os que nascem sem talento criativo algum, porém. Nesse caso, não quero que meu filho saia ao pai.
A pessoa passa quatro, cinco, seis anos em uma universidade, imersa em quantidade gigantesca de conhecimento (digo das boas universidades), conhecimentos, porém, produzidos por outras pessoas, nenhuma linha partiu de sua pena.
Atolada nesse poço de piche acadêmico, a pessoa vai sendo impregnada da obra e pensamento de outrem, a ponto de acreditar que são seus, ou que para eles contribuiram.
A pessoa entra rota e malvestida numa universidade, e sai dela - se for uma boa universidade - trajada correta e elegantemente, mas a roupa era do defunto.
Aos sem talento, resta o triste talento do camaleão, o de adsorver as luzes e as cores de outros e sair a mimetizá-las por aí, para outros camaleõezinhos, cores cada vez mais diluídas e baças.
 Não quero que meu filho seja apenas portador de um diploma universitário - seja em que área for - que ateste sua habilidade de copista, de mimético, de mera escriba.
Não obstante, muito me agradaria vê-lo se graduar numa boa universidade, desde que ela tenha sido uma opção entre várias, uma escolha muito bem ponderada e abalizada dentre outras alternativas. Não o único caminho possível e restante.
Não quero que ele herde de mim o triste talento do camaleão, não quero que ele perca as cores quando faltarem as tintas do ambiente que o circunda, não quero que ele fique sem palavras quando, por algum lapso ou distração, esquecer das palavras ditas por outros, quero que ele - ao contrário do pai - seja capaz de gerar suas próprias fosforescências, cunhar seu próprio léxico. 
Quero que ele seja algo mais que um reles réptil ilusionista, mais que eu.
O diploma universitário não pode ser seu único gládio frente ao mundo, não pode ser o exclusivo depositário de seu vigor, sua Espada Jedi, seu solitário instrumento de guerra e fé; como foi, é e, provavelmente, sempre será para o pai : minha cansada e tremeluzente Espada Jedi, cada vez mais fosca, cada vez mais propensa ao lado negro da Força.

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5 Comentários

  1. Realmente a maior parte das universidades brasileiras são exatamente isso. Porém, há algumas poucas, que além de fornecer todo o conhecimento já produzido por alguém, incentivam a inovação e o empreendedorismo. Aprendermos aquilo que já descobriram/inventaram é fundamental, sob de pena de corrermos o risco de reinventar a roda. Mas o maior espaço para pesquisa e inovação estão atreladas aos cursos stricto senso de mestrado e doutorado. Estes sim, são os verdadeiros espaços para o desenvolvimento acadêmico. Contudo, são de fato, raras as universidades neste país que tem qualidade e capacidade pra isso.

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  2. Azarão meu velho, sua espada não dá mais nada há tempos...imagina agora, cansada e tremeluzente. Logo, logo, vai estar do lado rosa da força, dando o anel! Levanta essa espada parceiro e que o bom Deus lhe dê força!

    Leitinho

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  3. Pois é, o Azarão não anda mesmo em seus melhores dias. E você bem se lembra, com chorosas saudades, de como a minha espada tinha a Força.

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  4. Há!Há!Há!Há!Há!Há!Há!Há!Há!Há!Há!Há!

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