A Arrogância Do Humilde

Sei que não contribuo para com o bem-estar geral do ambiente quando, no meio de alguma conversa, digo que sou ateu, e que não preciso de nenhum deus ou religião.
A prova de que realmente não preciso é que vivo tão bem ou tão mal quanto qualquer outro que diz precisar. Não que eu não precise também de coisas invisíveis e inexistentes, não sou tão diferente dos outros assim. Preciso de uma bilionária conta na Suiça, preciso de um poder de voo, superforça, invulnerabilidade e olhos de raios-X, preciso - muito - comer a Angelina Jolie. Só não preciso de deus.
Nessas ocasiões, invariavelmente, sou aconselhado a não brincar com essas coisas (não as digo brincando), a aceitar a existência de deus, a admitir que não sou perfeito e autossuficiente, e, principalmente, recomendam que eu seja mais humilde. Humildade é a palavra preferida dos crentes e tementes a deus.
Alertam que a minha arrogância pode trazer desagradáveis consequências, o bondoso deus pode se enfurecer e lançar sua extensa e requintada gama de castigos contra mim, até mesmo contra meus entes queridos.
De onde concluo, sem grandes raciocínios iniciais, que o humilde não é humilde, ele é burro e cagão : acredita em algo que não existe e se borra de medo dele.
Mas o humilde não é apenas parvo e covarde, ele também é safado e um puta dum arrogante. Sim, o humilde é que é o arrogante dessa estória toda.
Antes de tudo, declarar-se falho e imperfeito não é sinal de humildade, é simplesmente uma constatação dos fatos; depois, confundir a obviedade de ser imperfeito com humildade, e estabelecer que essa humildade é uma virtude, é arrumar uma boa desculpa para continuar a ser um inútil, uma bela duma muleta para não mover uma palha no sentido corrigir essas falhas, seja pelo estudo e/ou pelo trabalho; por fim, o declarado humilde espera, do fundo de seu coração cristão, que sua humildade, sua submissão a deus, renda-lhe dividendos, dizendo-se humilde e dobrando a porra de seus joelhos, ele espera granjear a simpatia do todo-poderoso, e conseguir uns favorezinhos.
A humildade, a subserviência, é uma das moedas de troca do religioso com o seu criador, ele presta vassalagem e conta com conseguir tudo de mão beijada de seu deus, sem grandes esforços, ao não ser o de se ajoelhar.
Então, o humilde é  um grande dum safado, um tremendo de um 171. Ele quer é estabelecer um toma lá dá cá com deus. Pior : ele quer aplicar um conto do vigário em deus, aquele do bilhete premiado, sua obediência em troca de um milagre.
Sim, um golpe em deus. Afinal, de que merda serve, para deus, as humildade e servidão humanas, a ponto de valerem seus favores celestiais? De que uso seria, ao todo-poderoso, a submissão de seres infinitamente inferiores?
Se existisse um deus desse, ele seria tão superior a nós quanto nós somos a uma formiga, ou a uma bactéria, talvez até mais superior que isso. De que nos interessaria uma colônia de bactérias rezando em nossa intenção, ou um formigueiro cantando louvores em uníssono ao nosso nome? O que faríamos com isso? Porra nenhuma. Bombardeamos bactérias com antibióticos, crianças mijam em formigueiros.
Mais : aquele crente que vai sempre à sua igreja, com seu paletózinho de brechó, com sua bibliazinha em baixo de braço (o famoso desodorante de crente), todo educado, simplório, cumprimentando e chamando a todos de irmãos, não tem nada de humilde. Ele tem é de soberba e de presunção.
O sujeito é um entre os mais de 7 bilhões de humanos do planeta Terra, que por sua vez é um planetinha entre os sextilhões de planetinhas e planetões do universo (100 bilhões dos quais muito semelhantes à Terra), por que ele acha que o criador e gerenciador de tudo isso vai se importar com suas cantilenas lamuriosas, vai ter tempo, ou paciência, ou interesse, de ouvir suas rezas mal-intencionadas?
A resposta é fácil : esse cara se considera o mais especial dos seres da criação, o escolhido entre os escolhidos. Deus está lá, numa nebulosa, fazendo o parto de estrelas, ou girando o dedo a criar os redemoinhos gravitacionais dos buracos negros para dar um funeral decente a velhas galáxias, de repente, ele escuta o choramingar de um crente. Pronto, deus para tudo o que está fazendo e sai em assistência ao sujeito, deixa de trocar as fraldas de um solzinho recém-nascido para ir ouvir as lamúrias do humilde.
Puta que o pariu. O cara considera que merece a especial e exclusiva atenção de deus, e eu é que sou o arrogante?
Nós, ateus, somos os verdadeiros humildes. Sabemos que não há um deus a nos velar e valer; e se houvesse uma entidade que merecesse esse nome, deus, ela não ficaria à nossa disposição.
Não precisamos mesmo de religiões e deuses imaginários, somos suficientemente humildes para saber que somos nosso próprio deus.

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