Troféu Tartaruga

Por diversas vezes, comentei aqui sobre a valorização do incompetente, do preguiçoso, do vagabundo, do incapaz, do encostado,  pela sociedade brasileira de forma geral; o brasileiro gosta do incapaz, do perdedor, tem afeição pelo fracasso.
Em contrapartida, já disse aqui também, a competência chega a ser inconstitucional no Brasil, a lei brasileira não permite que competentes sejam melhor remunerados que os ociosos, o tal princípio da isonomia garante isso; chamado por mim  de Princípio Constitucional do Canalha, essa lei faz com que o bom ganhe o mesmo que o ruim.
E a coisa tá piorando, como só podia mesmo piorar, é o que acontece quando a democracia é dada a um povo sem educação. O vagabundo não só tem o mesmo valor do trabalhador como também é protegido por lei contra que lhe digam que é incompetente. A lei não deixa o capaz ser recompensado e nem que ao chupim sejam apontadas suas falhas. Falou pro incompetente que ele é incompetente, é cadeia na certa, ou indenização em dinheiro por danos morais e constrangimento. Dano moral é o cacete, que se o sujeito tivesse alguma vergonha na cara, ele se esforçaria de algum modo, o que ele quer é mesmo dinheiro fácil.
É o que aconteceu com uma franquia da Coca-Cola, a Renosa Indústria de Bebidas S/A, condenada a pagar R$ 80 mil de indenização ao ex-funcionário Ivaldo Vicente da Silva. Ivaldo recebeu por cinco vezes o Troféu Tartaruga, concedido aos vendedores com o menor desempenho semanal. O esforçado Ivaldo, que não consegue vender nem Coca-Cola, alegou à Justiça que se sentia humilhado ao receber o prêmio na frente dos colegas, e que era alvo da gozação dos outros funcionários da firma.
Ora, não vejo mal nenhum no Troféu Tartaruga, é nada mais que uma brincadeira saudável, uma forma brincalhona de tentar "acordar" o indivíduo, de lhe dizer descontraidamente que a batata dele tá assando, que se o rendimento não melhorar, o olho da rua será o seu destino.
O que um cara decente, um homem de verdade, um cara com brios, que honra as bolas entre as pernas, faria? Iria arregaçar as mangas e se tornar o melhor vendedor de Coca-Cola do país, não só da Renosa Indústria de Bebidas S/A. Isso SE fosse um cara decente E morasse num país decente. Ivaldo optou pelo mais fácil : processou a empresa, que ele tanto lesou com seu baixo desempenho.
Curioso, o cara diz que se sentia humilhado frente à meia dúzia de colegas da empresa, porém não sentiu nenhum constrangimento em expor publicamente a sua incompetência num processo judicial, frente a um juiz. É que por R$ 80 mil, a gente até que aguenta um constrangimentozinho. A empresa não concordou com a decisão do juiz José Roberto Gomes Junior e vai recorrer no TRT. Inútil : no Brasil, o vagabundo sempre sai ganhando.
Lembrei-me agora do Chacrinha e seu Troféu Abacaxi, dado aos calouros reprovados em seu programa. O cara que era muito ruim mesmo, que cantava muito mal, era gongado e levava pra casa o Troféu Abacaxi. Imagino o Chacrinha vivo e ainda ousando, hoje, distribuir o Troféu Abacaxi. O Velho Guerreiro não faria para pagar os processos e indenizações aos calouros reprovados e "humilhados" em rede nacional. O Troféu Abacaxi era uma brincadeira, assim como o Troféu Tartaruga, mas em país com leis feitas por bandidos, é melhor não brincar com o vagabundo.
Troféu Abacaxi para o Ivaldo e para o juiz que lhe concedeu ganho de causa.
Em tempo : estou pensando em instituir o Troféu Tartaruga em minhas salas de aula, aos alunos de menor desempenho. Pensando bem, melhor que não. Além dos processos de constrangimento a adolescentes, eu também responderia a processos do IBAMA por crime ecológico : não haveria tartarugas suficientes para tantos troféus. 

Eu provocaria a extinção dos tracajás.

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